O embaixador da Guiné-Bissau na República da Guiné-Conacri entregou esta sexta-feira, 13 de Abril de 2018, ao Estado-Maior General das Forças Armadas o resto dos materiais do uso direto de Amílcar Lopes Cabral.
O leque dos materiais, que integra um armário vertical de arquivos, dois de tamanho menor, um ar condicionado (antigo modelo), uma máquina de datilografia, quatro assentos, dois rádios de comunicação e uma secretária (pequena mesa de jantar).
As peças eram do escritório do pai fundador das nacionalidades guineense e cabo-verdiana, onde desenhava todos os planos ligados a todo o processo de luta de libertação nacional a partir de Conacri. Os utensílios utilizados por Amílcar Cabral para desencadear a estratégia de luta de libertação nacional serão colocados no Museu Militar da Guiné-Bissau para a reconstrução da história nacional.
Ernesto Muntaga Jaló, embaixador extraordinário e plenipotenciário da Guiné-Bissau em Conacri, encara o ato como “segundo regresso” de Cabral à Guiné-Bissau, sendo o primeiro a transladação dos seus restos mortais de Conacri ao país. Outra nota centra-se, segundo Ernesto Jaló, em dar oportunidade à população e aos estudantes em conhecerem a “ história recente” da luta de libertação nacional e servir de matéria para tese dos estudantes que queiram escrever sobre Cabral ou a luta de libertação.
“A reconstituição da nossa história deve começar aqui no Quartel General para que todos os guineenses conheçam a história do seu país, porque quem não conhece a história do seu país, não pode falar dele”, defende, informando que a embaixada da Guiné-Bissau em Conacri já está a proceder à recuperação de três edifícios naquele país vizinho, que albergava antigo secretariado do PAIGC, casas de Amílcar Cabral e de Aristide Pereira.
O diplomata avança, no entanto, que a representação guineense em Conacri vai construir uma nova chancelaria (uma repartição guineense em Conacri) e um Museu de luta de libertação nacional a serem inaugurados todos no dia 24 de Setembro de 2018.
“O chefe de Estado-maior e a sua equipa serão convidados para a inauguração dessas infraestruturas. Já construímos uma estátua de Cabral de bronze de um metro(1m) e sessenta e cinco centímetros (65cm), que será erguida no seu memorial, lugar onde foi assassinado e recuperamos também o seu carro que está bem pintado”, informou.
Na sua curta declaração, chefe de Estado-maior General das Forças Armadas, Biaguê Na N’tan, defende, por sua vez, que a história da luta de libertação e feitos dos “gloriosos combatentes” devem ser recuperados e contados à geração mais nova.
“Por isso construímos este Museu Militar para conservar todos os instrumentos utilizados para os curiosos, estudantes e intelectuais recorrerem a esses materiais e reconstruir a história do nosso país”, realça, justificando que nada foi feito ao contrário do Museu, “senão recordar o sacrifício e a história dos combatentes para que o país fosse livre e independente do jugo colonial”.
Neste sentido, apela a todos os guineenses e combatentes da liberdade da pátria no sentido de recuperarem todos os vestígios dos materiais utilizados na guerra encontrados onde quer que seja.
“A nossa missão é garantir que haja a paz e tranquilidade, por isso apelo a jovens que recorram ao Museu para conhecer a vossa história”, disse. O Ministro da Defesa Nacional do governo demitido, Eduardo Sanhá, lembra que foi através desses materiais que Amílcar Cabral dirigia a luta de libertação nacional e todos os planos, nomeadamente político, diplomático e militar.
De forma pormenorizada Albertinho António Cuma, chefe da divisão de assuntos sociais e de relações públicas de Estado-Maior, fez uma retrospectiva sintética dos planos desenvolvidos por Amílcar que resultaram na independência do país, tendo concluído que o resto dos instrumentos de Cabral recuperados não “pode ser comparado com quaisquer materiais históricos na Guiné-Bissau devido ao seu valor histórico para a independência da Guiné-Bissau”.
“O único desafio que nos resta agora é trabalhar pela união, banir as divergências internas e avançar para construção do país”, aconselha.
Por: Filomeno Sambú
Foto: Cortesia de Alfredo Maria Gomes
O facto do líder imortal Amilcar Cabral ter dirigido a luta de libertação nacional, não determinaria que os elementos do seu uso pessoal fossem para o museu militar. Ao liderar a luta, fê-lo enquanto político e não como um general. Os materiais ora entregues deviam ir para um museu civil quiçá sob tutela do ministério da cultura. Materiais para um museu militar devem ser de natureza meramente militar, como seja armas, fardamentos, radios de comunicação e restos de aviao capturados ao animigo.