O presidente do Instituto Nacional de Pesquisa Agrária (INPA), João Aruth, disse estar apreensivo com o assoreamento de areias nos planaltos, que transformaram muitas bolanhas em praias, deixando assim de ter o solo original que facilitaria a produção de quantidades do arroz, prejudicando os agricultores, tendo assegurado que é preciso um trabalho sério para a recuperação das bolanhas um pouco por todo o país.
“Uma das nossas maiores preocupações é a questão do assoreamento de campos agrícolas nas zonas rurais, onde se regista uma pressão muito forte no planalto. Quando chove com intensidade, como aquilo que registamos este ano, acaba por arrastar enormes quantidades de areias para as bolanhas, comprometendo a plantação por causa da mistura do solo, prejudicando também desta forma, o ano agrícola em algumas zonas do país”, revelou o técnico especialista, na entrevista exclusiva ao Jornal O Democrata para falar da campanha agrícola deste ano. Em algumas zonas do território nacional queixam-se da insuficiência da chuva, o que não permitiu o crescimento dos produtos plantados, enquanto outros lamentam a questão do assoreamento das bolanhas pela areia.
Os produtores guineenses e técnicos da agricultura trabalharam “cegamente” e sem quaisquer informações sobre os dados estatísticos do comportamento da chuva, que são recolhidos pelo Instituto Nacional de Meteorologia da Guiné-Bissau, que por sua vez alega falta de condições logísticas e financeiras que permitam a deslocação de técnicos para o terreno, razão pela qual não se fez uma avaliação exaustiva do comportamento da chuva.
“O RITMO COMO CHOVEU, AS VEZES EM QUANTIDADE DEPOIS UM INTERVALO LONGO, NÃO AJUDOU A PRODUÇÃO”
João Aruth explicou na entrevista que o ritmo como choveu este ano, em que as vezes se choveu em grandes quantidades, depois faz um intervalos longos e volta a chover mais, não ajudou no crescimento das plantações de arroz, milho, feijão, batata-doce, entre outros produtos agrícolas que dependem da chuva.
“As plantas precisam de um ritmo regular da chuva para poderem crescer, porque se chove muito, compromete a produção” disse, acrescentando que na verdade, a chuva este ano foi bastante suficiente, “mas não bastou porque não choveu regularmente”.
O presidente do INPA afirmou que a agricultura na Guiné-Bissau não é promissora, porque os agricultores não são seguidos nem motivados para que possam ter mais interesse em produzir mais, lamentado que os agricultores não são seguidos pelos técnicos que os orientariam nos trabalhos de cultivo dos seus produtos, porque também a falta de seguimento aos agricultores deve-se à falta de técnicos no ministério da agricultura.
Na opinião do presidente do INPA, é preciso que o ministério crie as condições necessárias para incentivar os quadros técnicos para que possam fazer os seus trabalhos,r com toda a competência, bem como zelar pela criação do mercado agrícola no país, o que facilitaria a venda dos produtos agrícolas cultivados na Guiné-Bissau.
João Aruth criticou o fenómeno da monocultura de cajú, que segundo a sua explicação, domina completamente o sistema agrícola guineense em detrimento de outros cultivos, designadamente, o milho, a batata-doce, a mandioca, a mancara, o feijão, entre outros, que poderiam ajudar muito na dieta alimentar das populações.
“É preciso incentivar a diversificação de produtos agrícolas que servirão como alternativa ao cajú que, quando a campanha não corre bem, prejudica os camponeses e o país em geral, à semelhança daquilo que se registou este ano” assegurou.
O responsável do INPA defendeu a necessidade de mecanizar a agricultura guineense, que segundo a sua explicação, além de reduzir o esforço físico aplicado pelo produtor, vai aumentar a capacidade de produção em grandes quantidades para o consumo e, consequentemente, a comercialização.
“A mecanização é uma das necessidades na agricultura guineense, mas deve ser acompanhada pelos técnicos do ministério de agricultura para que possam respeitar certas normas” defendeu, enfatizando que a agricultura pode servir como alavanca para o desenvolvimento da Guiné-Bissau, se for feito um investimento robusto no setor, acompanhado pela capacitação constante dos técnicos.
Exortou, neste particular, a necessidade de trabalhar afincadamente na criação de bacias de retenção das águas da chuva, que todo o tempo acabam no mar. Sublinhou que as bacias de retenção das águas da chuva ajudaria muito os agricultores nos trabalhos da produção nos campos de horticultura, na época da seca e abasteceriam o mercado nacional com produtos hortícolas cultivados no país. Isso, na sua opinião, evitaria que as mulheres se deslocassem sempre ao país vizinho a procura desses produtos.
Questionado se a instituição que dirige reúne as condições técnicas para realizar os trabalhos do campo, disse que na verdade, o INPA precisa de um investimento sério em termos de equipamentos e criação igualmente de condições financeiras para assegurar a pesquisa e a deslocação dos técnicos ao terreno.
“A formação contínua dos técnicos é muito importante para uma instituição desta natureza, de formas a facilitar os trabalhos de pesquisa no terreno, estudos de solos e a criação de novas variedades face a ameaça climática que se regista em todo o planeta terra” disse, frisando que atualmente o governo pode injetar muito dinheiro no INPA, mas se não dispor de técnico qualificado, é impossível executar corretamente os trabalhos de pesquisa no campo.
Sobre os apoios recebidos do executivo guineense, informou que o apoio do governo se limita ao pagamento dos salários dos técnicos que trabalham naquela instituição de pesquisa agrária e que os parcos meios que dispõem não permitem a realização das pesquisas no terreno.
“Os técnicos do INPA só conseguem trabalhar em pequenos projetos para manter as boas práticas agrícolas, através de formações aos agro-multiplicadores para depois fazerem disseminação da informação em diferentes zonas do país” contou. O INPA conta com quatro centros de pesquisa em todo o território nacional, dos quais um se encontra em Bissorã, região de Oio no norte da Guiné-Bissau, que trabalha no melhoramento genético dos animais.
Informou que o segundo centro está em Contubuel, região de Bafatá, leste do país, que se ocupa da produção dos cereais, milho e arroz. O terceiro centro está localizado em Quebo, região de Tombali, na zona Sul, cuja missão é apoiar na produção de diferentes frutas e produtos hortícolas e o quarto e último centro se encontra em Caboxanque, setor de Bedanda, região de Tombali, também no sul do país.
Explicou ainda que todos estes quatros centros de pesquisa agrária funcionam através de projetos, o que no seu entender, é muito grave para um país que diz que a base da sua economia se assenta na agricultura
“Neste momento estamos a trabalhar no quadro do projeto PADES na produção de sementes hortícolas em Quebo, num campo, através de uma irrigação localizada, porque não é correto as mulheres guineenses atravessarem as fronteiras a procura de legumes”, assegurou.
Aruth lembrou que antes do conflito político de 1998, o governo guineense disponibilizava uma certa quantidade de dinheiro para o Instituto Nacional de Pesquisa Agrária por trimestre para os trabalhos de pesquisa no terreno, contudo diz que depois do conflito, o governo deixou de alocar este fundo para os trabalhos da pesquisa e se limitou a ocupar-se apenas dos salários dos técnicos.
“A falta de condições técnicas e financeiras limitou muito o nosso trabalho, por isso passamos a pegar apenas nas variedades recebidas das organizações internacionais e parceiros sub-regionais para os testes, multiplicar e vulgarizar”, contou.
“METEOROLOGIA NÃO PRODUZIU BOLETIM INFORMATIVO DO INÍCO E FIM DE CHUVA” – CHERNO LUÍS
Contactado pelo nosso jornal para falar das razões de longa paragem das chuvas registada este ano, o que os produtores alegam que terá dificultado a produção este ano, o primeiro vogal do Instituto Nacional de Meteorologia, Cherno Luís Mendes explicou que o serviço de Meteorologia costumava realizar todos os anos, do início e do fim de chuvas, os trabalhos de previsões da chuvas, mas este ano não conseguiram deslocar nenhuma única vez ao terreno por falta de meios logísticos e financeiros para os técnicos.
“Em cada época chuvosa, deslocamos missões técnicas para o terreno seis vezes, antes do fim da chuva. A missão encarregava-se de fazer os trabalhos de recolha dos dados e elaboração do boletim informativo sobre o comportamento da chuva. Infelizmente, este ano não conseguimos ir ao terreno desde que a chuva iniciou e até hoje qua estamos no fim da época da chuva, por isso não estamos em condições de avançar com informações concernentes às paragens longas registadas da chuva e particularmente, fazer previsões no início para os agricultores” lamentou.
Assegurou que o serviço de meteorologia não tem dinheiro para adquirir viatura que segurasse o deslocamento dos técnicos ao terreno, como também comprar o combustível e pagar os subsídios dos técnicos durante a estadia no terreno, contudo criticou o ministério da agricultura, que na sua opinião, é o principal beneficiários das informações recolhidas pelo seu serviço, mas conforme a sua explicação, não conseguiu fazer nada no sentido de apoiar a deslocação dos técnicos ao terreno.
“A primeira missão devia sair para o terreno no princípio do mês de maio para ver como estava a situação no terreno, depois no final de junho e julho sucessivamente até ao mês de novembro, que é a missão da avaliação da campanha agrícola. Infelizmente não conseguimos fazer nenhuma viagem para o terreno” disse, revelando que atualmente estão no país parceiros que vieram fazer a avaliação da campanha agrícola na Guiné-Bissau, mas a meteorologia não está em condições de dar quaisquer informações sobre a longa paragem da chuva registada este ano, porque não tem nada em mãos e que também não pode inventar informação.
Por: Aguinaldo Ampa