
Um grupo de três jovens de Ilhéu do Rei abriu uma escola primária para colmatar o vazio que se verifica no setor de ensino na pequena ilha da capital guineense, Bissau. Atualmente, a escola conta com cerca de 63 (sessenta e três) alunos nos níveis de pré-primária a terceira (3ª Classe).
O Ilhéu do Rei pertence ao círculo eleitoral 24 (Sector Autónomo de Bissau) e dista a menos de dez (10) minutos de Porto de Canoa [Bissau], numa viagem de piroga com motor fora de bordo. O Ilhéu do Rei tem atualmente 493 (quatro centos noventa e três) habitantes, divididos em cerca de cinquenta (50) famílias residentes.
A iniciativa foi do jovem Carlos Elma Silva Cardoso, que a compartilhou com seu colega, Jordão Carlos Té e Marcelo Luís Man, e que acabaram por abraçar de imediato o projeto e agora trabalham juntos.
A escola está no seu primeiro ano de existência e funciona numa instalação improvisada com um cercado de chapas de zinco e sacos vazios de arroz a mistura. Notam-se restos de parede de uma antiga construção no local. Os três jovens aproveitaram a antiga residência de familiares de Carlos Elma Cardoso Silva para montar mais uma sala de aulas, mas que de momento ainda não está a funcionar.
Para quem se deslocar ao Ilhéu do Rei, a escola fica a menos de 50 metros do porto da pequena ilha, sob um enorme poilão. As crianças são obrigadas a levar de casa as suas cadeiras para poderem se sentar e aprender a ler e a escrever. As suas pequenas pernas servem de mesa.
“O que nos motivou mais a fazer esta escola foi porque aqui, no Ilhéu do Rei, não há uma única escola pública. Para começar os estudos, as crianças têm que ter pelo menos sete anos de idade. Portanto, achamos que essas normas dificultam as crianças e isso levou-nos a avançar com esta iniciativa. Aqui temos crianças com menos de sete anos de idade em grande quantidade”, indica Silva.
Os jovens conseguiram juntar o útil ao agradável, tendo em conta que até a realização desta reportagem a escola estatal da ilha não estava a funcionar, elevando ainda mais a responsabilidade do grupo.
O Ilhéu do Rei não tem ciclo nem liceu. Tinha até 6ª Classe, quando Carlos Elma Cardoso Silva estudava no ciclo, mas os níveis de 5ª e 6ª classe [ano letivo 2005/2006] apenas funcionaram um ano letivo, depois desapareceu do sistema escolar da ilha. A antiga escola do Ilhéu chamava-se ‘14 de Novembro’ e tinha até no ano letivo passado da 1ª à 4ª Classe.
Os três jovens concluíram os seus estudos liceais em Bissau e demonstraram determinação para prosseguir com o projeto, ajudando na educação dos habitantes da ilha.
As crianças estão motivadas e os pais e encarregados da educação das crianças estão a colaborar, e toda essa dinâmica serve de estímulo ainda maior para os mentores do projeto escolar.
Carlos Elma Cardoso Silva revelou que o seu sonho é de um dia erguer um edifício de raiz para fazer funcionar, com toda a dignidade àquela escola, atualmente cercada de chapas de zinco. Cardoso Silva desafia as organizações que atuam na área do ensino e não só para apoiarem o projeto, acrescentando que o desejo do coletivo que representa é de um dia ter uma escola grande, com condições para ensinar as crianças.
A escola que ainda não tem qualquer nome, mas que o terá no futuro, tal como prometeu ao nosso repórter o porta-voz do grupo, Carlos Elma Cardoso Silva, é a única escola que está a funcionar no Ilhéu e tem três salas de aula, duas delas constituidas pelo cercado de champas de zinco velhas e uma numa antiga casa que também está sem carteiras para as crianças se sentarem.
“Se não tivessemos feito isto, haveria muitas crianças a desperdiçarem a oportunidade de estudar a essa hora. Sobretudo as que ainda estão abaixo dos sete ano de idade, mas também aquelas que já completaram os sete anos. Devido ao facto de as aulas não terem começado aqui no Ilhéu, estão a estudar aqui”, sustentou.
Da pré-primária a 1ª Classe oa alunos pagam quinhentos (500) francos CFA de mensalidade. Da 2ª Classe a 3ª Classe pagam mil (1000) francos CFA. Para o coletivo, o preço justifica-se tendo em conta a solidariedade com a população local. Assim todas as famílias poderão colocar seus filhos na escola.
Carlos Elma Cardoso Silva lamenta a forma como, até altura da realização desta reportagem nos finais do mês de dezembro de 2016, não houve nenhum sinal do início das aulas na Escola ‘14 de Novembro’, tendo em conta que a greve do setor do ensino terminou há muito tempo. Ainda assim a escola da ilha continua com as portas trancadas.
Recorde-se que as salas são insuficientes para o número de crianças que frequentam a escola e que as crianças levam as suas cadeiras de casa.
Por: Sene Camará