O líder do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo-Verde (PAIGC), Domingos Simões Pereira, advertiu ao Chefe de Estado guineense, José Mário Vaz, que desta vez se cometer o crime responderá, na justiça, por cada gota do seu crime.
O presidente dos libertadores falava durante o comício popular realizado no fim tarde desta sexta-feira, 27 de Outubro 2017, pelo Coletivo de Partidos Políticos Democráticos Unidos Contra Ditadura, ao largo da sede do Serviço de Meteorologia, em Bissau.
Pela primeira vez o líder do PAIGC recorre ao povo para a resolução da crise que segundo ele ter sido criada por José Mário Vaz.
Exigindo que o Presidente da República respeite a Constituição, Simões Pereira promete resgatar liberdade e democracia, e espera que o povo renove a sua confiança no coletivo que agrega 17 formações políticas para que possa estar à altura de “colocar os interesses do povo em primeiro lugar”.
Pereira acusa ainda José Mário Vaz de, enquanto Ministro das Finanças, desviar trezentos milhões de francos CFA [457 mil euros] em cada mês que pagava os funcionários, para um ministério fictício que o próprio criou.
“Em cada pagamento aos funcionários públicos, ele desviava trezentos milhões para o mesmo ministério”, acrusou Simões Pereira.
Denunciou ainda que o dinheiro a ser investido na Fundação “Mon na Lama”- uma inciativa de José Mário Vaz- foi mobilizado pelo seu Governo. O líder do PAIGC, partido que coordena o recém criado Coletivo dos partidos políticos, afirma que o Presidente Vaz, enquanto titular das Finanças, assinara um acordo com BOAD – Banco Oeste Africano de Desenvolvimento para reativar as empresas estatalis de telecomunicações Guinetel e Guiné Telecom, onde recebeu da parte do banco uma soma de sete mil milhões de francos CFA para o efeito, mas o montante foi utilizado no pagamento dos atrasados salariais e nas obrigações sociais.
Em relação ao porto de Bissau, presidente dos libertadores traz novos elementos de um empréstimo, que não especificou de quem veio, do qual diz José Mário Vaz terá recebido sete mil milhões de francos CFA para pagar as obrigações sociais e o resto foi entregue às mesmas pessoas que emprestaram o dinheiro à Guiné-Bissau para geri-lo.
Nega, no entanto , ter assinado acordo com o Ministério dos Recursos Naturais para a exploração da areia pesada de Varela.
“Entre 2009 e 2011, 14 contentores carregados com essa matéria prima já estavam no porto e pronto para exportar. E quando tivemos acesso ao documento que autoriza a sua exportação vimos que estava do mesmo documento amostra para análise do laboratório. Questionamos, antes que terminasse a análise nada restaria por ser explorado”, lembra, refuntando igualmente o seu envolvimento na venda de madeiras na Guiné-Bissau.
Presidente de Assembleia de Povo Unido – Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB), Nuno Gomes Nabiam, afirmou que o Presidente da República, José Mário Vaz, é refém de um grupinho de pessoas no país, por isso está a cometer erros constantemente e atropelar a Constituição da República.
“Queremos exortar ao José Mário Vaz que é ainda hora de chamar os signatários do Acordo de Conakry para o seu cumprimento na íntegra, tirando assim o povo guineense do sofrimento em que se encontra. Neste momento, não há corrente elétrica no país, temos falta de medicamentos nos hospitais, estradas danificadas, mas Chefe de Estado continua teimosamente na sua posição errada e radical”, notou o líder da Assembleia do Povo Unido – Partido Democrático da Guiné-Bissau.
Presidente da União para a Mudança, Agnelo Regalla, diz que não se pode aceitar que a vontade de uma pessoa eleita pelo povo obrigue que a sua intenção seja feita, pondo em causa o interesse do povo.
“Por isso, vai ser julgado por crimes que cometeu contra o povo guineense”, acrescenta.
Por sua vez, o líder do Partido de Convergência Democrática, Vicente Fernandes assegurou, defende que o cumprimento do Acordo de Conakry é a única solução para o fim da presente crise que dura há mais de dois anos. Acrescentou, no entanto, que o coletivo está determinado a prosseguir com a sua luta da defesa da democracia no país.
Idrissa Djaló, líder do Partido da Unidade Nacional, afirma que a caminhada que o coletivo iniciou na passa quarta-feira, 25 de Outubro, não se trata de uma luta em defesa de um ou outro partido, por isso os partidos que integram a nova organização política vão continuar a mesma luta até que a ordem constitucional seja respeitada pelo Chefe de Estado, porque, segundo disse, José Mário Vaz quer levar o país para o abismo.
Serifo Baldé do Partido Jovem começa por mostrar que a postura e o caráter são dois atributos, ou seja, a maior riqueza que uma pessoa pode ter na sua vida, isso numa clara alusão à posição política do Presidente José Mário Vaz.
Segundo Serifo Baldé, o maior ponto de divergência entre os partidos políticos que integram o CPPD e o Chefe de Estado centra-se no fato de José Mário Vaz ter derrubado dois Governos do PAIGC e nomeado Baciro Djá por duas vezes sem instrumentos de governação e agora chama Umaro Sissoco Embaló, que também não conseguiu ter o Programa de Governação nem Orçamento Geral do Estado.
“Portanto, é um governo ilegal. Não conseguiu, desde a sua nomeação, apresentar nada em concreto algo que o legitima para governar o país”, afirma.
Dirigindo-se às forças de defesa e segurança, o líder do Partido Jovem espera que a intervenção das forças de defesa e segurança nos comícios do Coletivo dos Partidos Políticos Democráticos iniciados hoje, seja no sentido de manter a ordem e não o contrário.
No entendimento de Silvestre Alves, José Mário Vaz deviria ter compreendido o ambiente político em sua volta e olhar pelos problemas de muitas famílias guineenses em situação de penúria e crianças sem a escola, embora o Governo tenha anunciado oficialmente, no passado dia 12 de Outubro de 2017, fecho e abertura do novo ano letivo 2017/2018.
No mesmo plano de discurso, mas desta vez mudando um pouco da linha, Silvestre Alves volta a acusar o Presidente da República de entregar a Guiné-Bissau a um operador comercial internacional que não se preocupa com o desenvolvimento económico do país.
Pede, no entanto, que José Mário Vaz aceite negociar e encontrar uma solução real e consentânea à crise e, consequentemente procurar uma orientação política adequada para um entendimento entre os atores políticos do país.
Refere-se que integram o Coletivo 17 formações políticas, nomeadamente: Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Assembleia do Povo Unido – Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB), Partido da Convergência Democrática (PCD), União para Mudança (UM), Partido da Unidade Nacional (PUN), Partido de Solidariedade e Trabalho (PST), Manifesto do Povo (MP), Movimento Patriótico (MP), Partido da Nova Democracia (PND), Movimento Democrático Guineense (MDG), Aliança Socialista Guineense (ASG), Partido Democrático Socialista da Salvação Guineense (PDSSG), Partido da Renovação e Progresso (PRD), União Social Democrática (UDS), Partido Popular e Democrático (PPD), Partido Africano para Liberdade, Organização e Progresso (PALOP) e Pardido dos Trabalhadores (PT).
Por: Aguinaldo Ampa, Filomeno Sambú e Assana Sambú
Foto: Marcelo Na Ritche