Crise de água potável: MULHERES DE BUBA PEDEM ABERTURA DE FUROS DE ÁGUA NOS BAIRROS

[REPORTAGEM] O setor de Buba, região de Quínara no sul da Guiné-Bissau, depara-se atualmente com uma enorme crise de água potável devido a seca que abala os poços tradicionais feitos nos diferentes bairros daquela pequena cidade. A situação leva a aglomeração de mulheres e rapazes em alguns fontenários (bombas manuais), o que muitas vezes acaba em brigas ou agressões verbais por não respeito da fila (vez) conforme a ordem de chegada.

A falta deste líquido precioso causa desespero da parte dos líderes religiosos e tradicionais abordados pelo repórter, bem como da parte das organizações da sociedade civil e juvenis daquele sector considerado a sede da região.

Para os representantes da sociedade civil e organizações juvenis, é urgente a intervenção do governo central para ajudar as autoridades regionais a resolver a situação que se regista mais na época da seca, entre os meses de fevereiro e junho. Contudo, mostram-se esperançados que a situação irá melhorar com o funcionamento do depósito de água construída pela Organização Não Governamental – Agência Muçulmana para África, do Kwaite (AMA – Kwaite).

O Democrata apurou que a AMA – Kwaite financiou um projecto de instalação de dois depósitos de água na região de Quínara. Um no sector de Empada, outro em Buba, ambos com a capacidade de 50 mil litros cada.

MORADORES DO ‘BAIRRO ALTO’ PEDEM AJUDA E ALEGAM ESTAREM CANSADOS DE BRIGAS NOS FONTENÁRIOS

Moradores do maior bairro da cidade de Buba em termos de superfície e de população pedem a intervenção urgente do governo central, no sentido de trabalhar na construção de mais furos de água potável, de forma a aliviar os sofrimentos das populações, em particular das mulheres que são obrigadas a levantarem-se de madrugada a procura de água nos fontenários que ainda resistem à seca.

Fina Na Ritche, uma moradora do ‘Bairro Alto’, explicou na entrevista ao repórter que o sofrimento das mulheres daquela cidade ultrapassa os limites, sobretudo neste período em que se regista um aumento da população residente naquela cidade por causa da campanha de cajú. Acrescentou ainda que actualmente a maioria dos poços tradicionais estão secos (sem água) e os que ainda têm água são fechados pelos donos, para os preservar e poupar alguma água.

“Os donos dos poços passam o tempo todo a fechar os seus poços, a fim de poupar água. É compreensível o comportamento dessas pessoas, porque estamos no período difícil e nem toda agente consegue resistir. Muitas vezes vê-se a pessoa a tirar água do poço e quando termina leva o balde e esconde-o. Quando pedimo-lo emprestado para tirar água, alegam que o balde caiu ao poço ou dizem que o poço está sem água”, lamentou.

Na Ritche assegurou que a maioria das pessoas prefere agora recorrer aos fontenários existentes em alguns bairros, mesmo sabendo dos riscos de brigas devido ao puxa-puxa que ali se regista. Sustentou que na prática faz-se uma fila de acordo com a ordem de chegada das pessoas, mas acrescentou que sempre há uns espertinhos que tentam irar a vez aos outros, facto que acaba por criar brigas e agressões verbais.

“Já estamos muito cansadas da dificuldade de água. Levantamo-nos muito cedo para vir a bomba a procura de água. Fazemos a limpeza deste fontenário para mantê-lo limpo, como também pagamos dinheiro para as reparações técnicas da bomba, quando está avariada. Isso não é problema para nós! Há muito tempo que estamos a pedir que nos construam mais fontenários, já que “não merecemos” uma bomba de água normal a semelhança daquelas que existem em Bissau”, explicou Fina Na Ritche, que se encontrava na fileira, a espera da sua vez.

Sobre o depósito de água construído pela Agência Muçulmana para África, disse que os populares aguardam com enorme expectativa o fim de trabalhos, contudo, diz desconhecer o método que será aplicado para o fornecimento de água aos bairros.

“Vimos as pessoas a escavarem ao longo da estrada principal, onde serão instalados os tubos de água. Esperamos que seja desta vez que vamos beneficiar de bombas a semelhança das que existem em Bissau e que haverá água suficiente. Pedimos às autoridades que se esforcem mais e que instalem mais bombas nos bairros, de forma a facilitar as pessoas, porque há bairros muito afastados da entrada principal onde estão a ser colocados os tubos”, aconselhou.

Adama Indjai, uma moradora do bairro de praça, disse que na verdade já estão cansadas de pedir água às autoridades, em particular os políticos que visitam aquela cidade, que segundo ele, prometem mas nunca fazem nada.

Lembrou neste particular que no período da campanha eleitoral os políticos irão pedir votos e fazer rios de promessa que nunca cumprem. Criticou os deputados que na sua opinião, não ajudam e nem se preocupam com os problemas das populações.

SOCIEDADE CÍVIL PEDE A INTERVENÇÃO DO GOVERNO CENTRAL PARA RESOLVER O PROBLEMA DE ÁGUA

O representante do Movimento da Sociedade Civil na região de Quínara, Justo Baba Camará, disse durante a entrevista que de momento a maior preocupação da polução tem a ver com a questão da carência de água que se regista neste período e que pediu a intervenção urgente do governo central, porque no seu entender, a situação já ultrapassou a capacidade das autoridades sectoriais e regionais.

Baba Camará assegurou neste particular que atualmente regista-se uma expectativa enorme da parte das populações por causa da instalação do depósito de água instalado pela ONG AMA – Kwaite, tendo acrescentado que o funcionamento do referido depósito aliviará um pouco as dificuldades das populações no concernente a questão da água potável.

“As pessoas estão satisfeitas com a iniciativa e percebe-se que vai colmatar um pouco as nossas dificuldades no que concerne à falta de água. Sabemos todos que não é suficiente tendo em conta o número das pessoas que vivem nesta cidade. Aliás, Buba é um ponto de encontro da região de Quínara e Tombali. A cidade está a crescer a cada dia e é preciso de facto uma intervenção do governo central, no sentido de procurar meios para abertura de mais furos de água e canalizá-la para as casas, a fim de permitir-nos consumir água realmente, potável”, contou.

O Imame da Mesquita Principal da cidade de Buba, Aladje Ganha Baldé, disse estar muito preocupado com o problema da água que vem sendo registado nos últimos tempos na cidade de Buba, sobretudo na época seca.

No entanto, juntou a sua voz a dos populares para reforçar o apelo às autoridades regionais no sentido de procurar mais apoios da parte de Organizações Não Governamentais, de forma a instalar mais fontenários ou depósitos de água de grandes capacidades, a semelhança da ONG AMA – Kwaite.

“Não podemos deixar de pedir, em particular às autoridades, e dizer que apesar de ser seu dever resolver os problemas do povo, sabemos que têm que ser pressionados para se mexerem. É normal também pedir às ONG’s, porque é mais fácil para estas conseguir financiamento para abertura de fontenários”, notou.

GOVERNADOR DE QUÍNARA ENALTECE APOIO DE AMA-KWAITE, MAS DIZ QUE NÃO É SUFICIENTE PARA O SETOR

O governador da região de Quínara, Mamadu Sanhá, confirmou na entrevista a’O Democrata que a Agência Muçulmana para África de Kwaite está a instalar um depósito para 50 mil litros de água potável no sector de Buba, tendo assegurado que a referida organização respondeu assim a um pedido das autoridades regionais no passado.

“Vê-se ao longo da rua principal do setor a escavação da vala que será usada para a canalização. A partir daqueles tubos da estrada principal, cada potencial cliente que disponha de meios pode igualmente escavar da estrada até a sua residência para obter água potável”, explicou a autoridade máxima daquela região.

Sobre a gestão do depósito para fornecimento da água aos populares, informou que a gestão do depósito estará encarregue às autoridades regionais em colaboração com o delegado do ministério dos Recursos Naturais na região.

Reconheceu que o apoio da AMA – Kwaite vai aliviar um pouco o sofrimento da população no concernente à carência em água, mas afirmou que não é suficiente para cobrir as necessidades das populações.

Avançou, no entanto, que previu-se fazer a instalação de tubos de água até na praça, junto a residência do Governador. Acrescentou ainda que a ONG AMA – Kwaite está a instalar outro depósito de 50 mil litros de água no setor de Empada, com o propósito de fornecer água potável às populações, que também estão a sofrer enorme dificuldades em água.

 

 

Por: Assana Sambú

Fotos: AS

abril de 2018

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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