[ENTREVISTA_julho_2019] Humberto Tavares, administrador do setor de Canchungo, região de Cacheu, acusou os chefes de tabancas de Elia e Arame, duas aldeias do setor de São Domingos, região de Cacheu, no norte do país, de cumplicidade na tensão social entre as aldeias de Elia e Arame que ceifou a vida de duas pessoas, bem como de serem viciados aos jogos políticos para satisfazer os interesses dos políticos guineenses. Defendeu, ainda na mesma entrevista, a necessidade de serem substituídos por estarem viciados e de terem servido de instrumentos políticos em defesa de “interesses inconfessos”.
Humberto Tavares fez esta acusação no âmbito do encontro de capacitação das mulheres rurais na cidade de Canchungo, promovido pela ONG nacional Tininguena, em parceria com o Programa Alimentar Mundial (PAM). Em tom de revolta à atitude dos chefes de tabancas, Tavares acusa-os ainda de serem os principais responsáveis do conflito.
As duas ladeais em conflitos situam-se na zona fronteiriça com o Senegal, precisamente nas periferias onde rebeldes independentistas de Cassamance circulam e continuam a desenvolver pontualmente as suas atividades, o que na análise de observadores atentos à situação poderá perigar ainda mais o problema se não forem encontrados, internamente, soluções entre as duas aldeias.
LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA ENTRE ELIA E ARAME IMPÕE QUE SE ENTENDAM INTERNAMENTE
“É inconcebível aceitar que um chefe de uma tabanca declare guerra a outra tabanca do mesmo espaço comunitário, em nome de quê? No conflito entre Arame e Elia e que resultou na morte de uma pessoa da Elia, o cúmplice foi o chefe da tabanca e fui muito direto com ele, acusando-o publicamente. O administrador deslocou-se até à aldeia para avisá-los que as palhas da savana que divide as duas aldeias só seriam cortadas mediante indicação da autoridade local, mas o chefe da tabanca desafiou as ordens e colocou no terreno a sua comunidade e em resposta a essa atitude morreu uma pessoa”, notou.
Na observação do administrador do setor de Canchungo, será difícil tomar grandes decisões para o problema dos populares da localidade e que partilham o mesmo espaço, a menos que sejam orientados pelo Estado a entenderem-se mutuamente e compreenderem que são povos da mesma zona e condenados a viver juntos.
“A localização geográfica das duas aldeias impõe que se entendam internamente o mais urgente possível, porque para chegar à aldeia de Djobel ou Arame tem de passar obrigatoriamente primeiro por Elia, o que pressupõe a priori que não há grandes margens para a resolução dessa situação se os próprios protagonistas não se entenderem localmente, porque criar barreiras ou separá-los uns dos outros não é uma boa opção”, afirmou.
Revelou, no entanto, que no âmbito do projeto “Fórum de Paz” e enquanto um dos membros da equipa de redação da missão de auscultação constituída para acompanhar a situação, produziu-se na altura um conjunto de recomendações já entregues ao Ministério do Interior, à Administração Territorial e à administração do setor de São Domingos sobre o que devia ser feito em relação ao conflito entre as duas aldeias.
Enquanto uma situação que representa perigo à zona, Tavares disse que a sua equipa fez ainda questão de alertar, na altura, no documento do conhecimento do governo central e local, que era urgente acelerar contatos, ou seja, o tratamento do assunto e diligências. O contrário seria muito tarde “infelizmente já resultou na morte de duas pessoas”.
Sobre o perigo do confronto alastrar-se e assumir proporções em grande escala tendo em conta que as duas adeais em conflito situam-se na zona fronteiriça com o Senegal, onde rebeldes independentistas de Cassamança desenvolvem pontualmente as suas atividades, Humberto Tavares não duvida da tal possibilidade porque o problema representa um perigo tanto para a região como para o país e teme que “interesses inconfessos” de pessoas por detrás desta situação e que fazem uso dos rebeldes como meio para alcançar certos fins coloque em risco a vida da população do setor de São Domingos e outras seções e tabancas circundantes, como também teme que esses mesmos interesses possam reativar as atividades dos rebeldes.
Contudo, admite que neste momento os rebeldes estejam com um raio muito reduzido de ação. Mesmo assim alerta que se medidas urgentes não forem tomadas, a Guiné-Bissau como um Estado frágil, terá com certeza problemas sérios a enfrentar nos próximos tempos.
“O Estado precisa tratar esse assunto com muita paciência. Por isso há toda a necessidade de as pessoas se entenderem e escolherem o diálogo como único mecanismo para a resolução dos problemas que afetam àquelas comunidades”, aconselha.
ADMINISTRADOR APELA AOS CHEFES DE ALDEIAS EM CONFRONTOS À RESPEITAREM A DECISÃO DAS AUTORIDADES
Em relação à situação da aldeia de Djobel habitada também por felupes e em risco de se extinguir devido à invasão da água, Humberto Tavares lembra que a previsão feita há dez (10) anos alertava exatamente para esse fenómeno de que àquela aldeia poderia desaparecer a qualquer momento.
“Exatamente é isto que está a acontecer! Hoje, não se pode movimentar dentro da aldeia de Djobel sem ir de canoa e a comunidade já tem a consciência disso de que há necessidade de abandonar a zona da água, zona do perigo e procurar a parte continental (terra).
De acordo com Humberto Tavares, o espaço para o reassentamento daquela comunidade já foi identificado, mas as reivindicações apresentadas pela mesma comunidade têm complicado as orientações dadas pela administração local para solucionar o problema. Ou seja, os djobés querem a recuperação efetiva e completa do espaço outrora ocupado pelos primeiros djobés.
Dados recolhidos no terren0 indicam que o espaço ocupado pelos primeiros djobés, ultimamente motivo de várias contestações e conflitos entre povos da mesma etnia e zona geográfica, tinha sido abandonado devido à pressão colonial, ou seja, a presença dos “tugas” na altura.
Neste momento o espaço tem plantações de pomares de cajueiros pertencentes às comunidades de Elia e Arame, também motivo de constante conflitos. No entanto, apesar das diligências feitas pelo governo local para encontrar uma plataforma de entendimento, os populares de Djobel continuam a condicionar o seu reassentamento ao corte de toda a plantação de cajueiros das duas aldeias e devolver-lhes o espaço para reocuparem.
A insistência de um lado e resistência do outro deu origem a último conflito. A administração local interveio de imediato para solucionar o problema, mas a comunidade de Djobel tem sido relutante e em consequência, não aceitou acatar as orientações dadas pelo administrador e insiste apenas em recuperar os dois quilómetros que delimitam o espaço, foco de constantes conflitos. O que implica derrubar toda a plantação tanto da aldeia da Elia como a da Arame.
“Portanto, essa é a situação real das coisas. Desafiar as autoridades e tomar uma decisão à margem da lei, foi exatamente o que aconteceu naqueles dias e repetiu-se três vezes, saldando na morte de duas pessoas da aldeia. Portanto, é um problema sério que requer também seriedade na sua resolução”, vincou o administrador de Canchungo.
Informações no terreno indicam ainda que depois da retomada dos conflitos, uma missão foi constituída para auscultar as partes. No relatório produzido no âmbito da mesma missão sobre os conflitos naquelas aldeias a norte do país, setor de São Domingos, Região de Cacheu, concluiu-se que era necessário a instalação efetiva de uma esquadra policial avançada, o que está a acontecer agora, que a comunidade de Djobel fosse desalojada do rio onde se encontra habitada e reassentada na parte continental e que esta mesma comunidade aceite as orientações da administração do setor de São Domingos e ocupar exatamente o espaço disponibilizado e indicado pelo governo local e que o mesmo (espaço) seja ainda delimitado com pilares para evitar futuras contestações.
Preocupado ainda com a situação e a resistência que ambas as partes têm demostrado em reconsiderar as suas posições e encontrar soluções consentâneas, o administrador de Canchungo apelou aos chefes das duas tabancas, de uma forma geral, mas em particular aos de Arame a respeitarem as orientações do Estado, caso contrário proporá que sejam substituídos por não representarem o interesse, a confiança e nem solução aos problemas que se vivem naquelas tabancas e que podem afetar outras devido à ligações próximas entre aqueles povos.
Humberto Tavares acusa os chefes de tabancas em confrontos de estarem viciados em jogos políticos dos políticos guineenses e de se servirem de instrumentos políticos para satisfazer “ interesses inconfessos”, pondo em risco toda a convivência social entre povos irmãos, por isso defende que sejam substituídos por outros elementos de confiança das comunidades locais.
Entretanto, em decorrência dessa situação, O Democrata soube que algumas pessoas (suspeitas de cumplicidade) das duas aldeias foram levadas até Ingoré e setor de Bissorã para serem ouvidas sobre o assunto.
Humberto Tavares reconhece, contudo, a ausência do Estado nessas aldeias, mas atitudes promovidas pelos chefes de tabancas não justificavam o que está acontecer, tendo lembrado que foi por essa razão que pediu ao ministro do Interior na altura, Edmundo Mendes, no encontro realizado em São Domingos, que ordenasse a instalação de uma esquadra avançada no local para que a presença do Estado fosse sentida.
“É evidente que, quando o Estado não está presente num determinado local, as pessoas tentam a todo o custo fazer o que lhes apetece, como é o caso desses chefes de tabancas”, lamentou.
Por: Filomeno Sambú
Foto: Cortesia do Amid Baldé
Muito bem obrigado Admisrador, é a sim que é a função de um Admistrador, comtinua ajudar e unir esses dois Tabancas ermãos num bom relação de imtendimento… Obrigado