ESQUADRA DE POLÍCIA DE TITE É UM “LIXO QUE ESPELHA A BANALIDADE” DO ESTADO GUINEENSE

[REPORTAGEM_julho 2019] O edifício da Esquadra da Polícia de Ordem Pública (POP) do setor de Tite, região de Quinará, no sul da Guiné-Bissau, encontra-se em avançado estado de degradação e o seu telhado está cheio de buracos enormes que provocam infiltrações de águas da chuva, dificultando o funcionamento e a permanência dos agentes policiais no edifício, sobretudo quando chove. Mas dada às exigências e às especificidades do serviço, são obrigados a permanecer no interior da esquadra, mesmo em condições desfavoráveis.

O estado avançado da degradação daquela esquadra é do conhecimento dos responsáveis do Comissariado Provincial bem como do próprio ministério do Interior, que até agora nem se quer se dignaram a mexer uma palha e fazer algo para a sua reabilitação, conforme nos relata um alto responsável daquela instituição que a considera ainda de “um lixo que espelha a banalidade e a falta de seriedade e de respeito à vida humana” da parte das pessoas que dirigem o Estado da Guiné-Bissau. 

A Esquadra cobre todo o setor de Tite e conta com 15 agentes, dos quais apenas três são efetivos, nomeadamente: o comandante, o seu adjunto e o responsável da logística. As restantes 12 pessoas são todas auxiliares recrutadas internamente, sem salários nem subsídios, porém são elas que fazem todo o serviço da esquadra. Na última deslocação do Presidente JOMAV ao sul do país, foram elas mobilizadas para apoiar a equipa de segurança do Chefe de Estado ao setor, na sua visita à aldeia de Bissassema. 

COMANDANTE LAMENTA ESTADO DE DEGRADAÇÃO DA ESQUADRA E PEDE INTERVENÇÃO DO GOVERNO

O comandante da Esquadra, Sete Djassi,  reconheceu na entrevista a O Democrata a situação de degradação daquela Esquadra, pelo que sustenta que é preciso a intervenção urgente do governo para a sua reabilitação, ou pelo menos para refazer a cobertura no sentido de permitir a permanência dos agentes no interior quando chove. 

O subinspetor (alferes) Sete Djassi reconheceu igualmente que a Esquadra não está nada bem e precisa de uma intervenção das autoridades competentes, de formas a servir condignamente as forças policiais que dão as suas vidas para servir o país e a população todos os dias. Revelou ainda que atualmente estão a ser pressionados pelas pessoas que alegam que o edifício onde funciona a esquadra é sua propriedade e exigem a sua devolução. Contudo, disse que a situação deve ser esclarecida quanto antes pelas autoridades setoriais ou regionais sobre quem é realmente o proprietário legitimo daquele edifício colonial.

“O edifício não foi arrendado. Foi ocupado pelo Estado para o funcionamento da Esquadra. Nós não podemos dizer nada sobre o assunto e há entidades competentes que podem responder para esclarecimentos. Portanto, esta é a nossa resposta para as pessoas que exigem a devolução do edifício”, contou.

Questionado sobre a situação real da sua Esquadra, informou que ela está totalmente degradada e quando chove há infiltrações de água, o que dificulta o funcionamento normal dos serviços prestados. Acrescentou neste particular que parte do edifício tinha caído e conseguiram reerguê-la. Para além dessa situação, explicou ainda que o vento descobriu parte do telhado e que, apesar do esforço para reabilitar a cobertura, as infiltrações continuame quando chove os agentes são obrigados a procurar outros lugares para se protegerem da chuva.

“O edifício onde funciona a esquadra é uma antiga loja no período colonial e até hoje tem aquela zona do balcão. Tem ainda um salão, um quarto e na parte lateral tem uma sala que foi adaptada para funcionar como o Gabinete do Comandante. A Esquadra dispõe de cela que éuma espécie de túnel, aproveitado para cela”, contou. 

Assegurou que maior parte dos elementos da Esquadra é pessoal recrutado localmente e que são chamados de “auxiliares”. Frisou que no total são 15 polícias que trabalham na Esquadra, três deles efetivos e doze (12) auxiliares, tendo confirmado ainda que os auxiliares recrutados internamente não recebem salários. 

“Os auxiliares que temos cumprem na íntegra as missões que lhe são confiadas todos os dias. Infelizmente, não têm o salário. Apenas ganham um bocadinho de dinheiro através de serviço que prestam na antena da Orange, que é distribuído aos auxiliares”, relatou.

Em termos de meios de transporte para a mobilidade dos polícias, explicou que dispõem de uma viatura (Jeep) descapotável adquirido já há alguns meses do Comando da Província Sul e uma motorizada que receberam no quadro das eleições legislativas de março deste ano. Lembrou que trabalhavam sem nenhum meio de transporte e que as missões eram feitas a pé, sobretudo no concernente à caça aos gatunos ou pessoas que tenham cometido algum crime.

“Andávamos a pé até ao interior das tabancas mais longínquas do setor para ir buscar as pessoas que recusam obedecer às ordens do comando, mesmo notificadas. A mesma coisa acontece com as pessoas que cometem crimes de roubos ou de homicídio e muitas vezes corremos risco de vida ao sermos confrontados. Felizmente sempre cumprimos a nossa missão. A viatura que adquirimos do Comando da Província Sul, a título de empréstimo, é velha e tem alguns problemas ligados ao motor, mas graças a Deus aliviou-nos de muito sacrifício! É verdade que precisamos de uma viatura, por exemplo, dupla cabine, tendo em conta a condição da estrada desta zona”, assegurou o comandante da Esquadra. 

Djassi revelou que as deslocações das forças policiais para as operações no interior do setor são asseguradas pelos queixosos, ou seja, são essas pessoas que compram o combustível para a viatura, porque, conforme disse, a esquadra não tem meios para garantir o combustível todo o tempo para a viatura.

Sobre o famoso caso de “feiticeiria” que se registava com frequência na secção de Bissassema e que acabava sempre em morte de pessoas acusadas da prática de feiticeira, disse que atualmente os casos diminuíram muito e que agora trabalham em colaboração com algumas pessoas naquela aldeia para denunciar as que tentam acusar outras sem fundamento. Sublinhou ainda que os casos de roubo de gado também diminuíram, porque, de acordo o polícia, neste momento toda a gente está preocupada mais com os trabalhos do campo, razão pela qual não se regista com frequência casos ligados a roubo de animais.

Contudo, ressalvou que no momento a grande preocupação tem a ver com a questão do conflito de posse de terra para a produção dos pomares de caju. Frisou que apenas no período da seca é que se registam mais problemas de roubo e de agressões. No entanto, concluiu que a falta de meios de transporte e do edifício adequado para o funcionamento da Esquadra tem sido o calcanhar de Aquiles para o pessoal da Esquadra que trabalham em péssimas condições, sobretudo sob pressão de pessoas que alegam serem proprietárias do edifício e exigem a sua devolução imediata.  

Por: Assana Sambú

Foto: A.S

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