[REPORTAGEM Outubro_2019] O Diretor do Hospital regional de Oio, Alfadja Gomes Ianga, revelou que os técnicos (Parteiras) do hospital realizam trabalhos de parto com recurso às lanternas de telemóveis, fato que considera “gravíssimo” em pleno século XXI com o sol de quase doze horas por dia. Porém, sublinhou que este fato decorre da tamanha desatenção das autoridades sanitárias em relação ao Hospital regional de Oio, isto comparativamente aos outros hospitais regionais do país.
Alfadja Gomes Ianga fez esta revelação na entrega do bloco de Serviço de Urgências do hospital regional de Oio no sábado, 11 de outubro, reabilitado com ajuda financeira da fundação “Ricardina Gomes Glazinski”. O médico realçou o trabalho desenvolvido pela empresa “Mansoa Frutas” sob a regência de um empresário e cidadão alemão que opera no setor de Mansoa há três anos, sobretudo no concernente ao fornecimento da água potável ao hospital. Contudo, lamenta o fato de a situação de fornecimento ser uma questão de outro nível. Ou seja, ultrapassa as capacidades de resposta da direção.
GREVE DE TÉCNICOS DE SAÚDE CAUSA PERDAS DE VIDAS HUMANAS NO HOSPITAL DE MANSOA
“É uma situação que requer tratamento de outro nível. O problema de água potável que tínhamos já não constitui nenhuma preocupação graças à intervenção de Bernd Glazinski e a fundação “Ricardina Gomes Glazinski” representada pela sua esposa, natural de setor de Mansoa. A fundação também forneceu tanques de lixo para tratamento de resíduos e uma ambulância ao hospital”, referiu.
Segundo Alfadja Gomes Ianga, o hospital tem painéis solares, mas a partir das nove horas começa a funcionar na escuridão porque as baterias estão num estado avançado de degradação e critica o fato de outros hospitais terem recebido outro tratamento, tratamento especial no que tem a ver com o fornecimento da luz elétrica para os hospitais. Ou seja, argumenta que no âmbito do Programa de Redução da Mortalidade Materna Infantil (PIME’1 e PIME’2), o hospital regional de Oio, que representa, não tem beneficiado de nada relativamente ao fornecimento de corrente elétrica como aconteceu noutros hospitais regionais.
Dados estatísticos referem que a média de número de partos por mês é de cerca de 200 (duzentos) partos feitos com luz dos telemóveis. As doenças mais frequentes são as infecções respiratórias em crianças e o paludismo. O democrata soube que o hospital tem gerador, mas não consegue pô-lo a funcionar 24 horas para poder fazer partos normais e em condições aceitáveis. Neste sentido, lança um apelo a outras entidades estatais ou privadas no sentido de apoiarem o hospital.
Até à entrega do bloco de Serviço de Urgência no sábado, o hospital funcionava com apenas dois médicos devido à greve dos técnicos de saúde recém-colocados, que reclamam do governo o pagamento de 11 meses de salários em atraso.
“Quando um médico atende mais de cinquenta pacientes por dia, não está ser um médico”, notou, sublinhando que felizmente, em termos de funcionamento, o hospital regional de Oio é o único que tem todos os serviços que uma unidade regional deve ter, “essa é a nossa grande diferença”, realçou. Entre outros serviços, destaca o do laboratório, o do Raio X e banco de sangue a funcionarem todos muito bem.
“Ou seja, temos todos os serviços que um hospital regional deve ter, temos a capacidade para dar respostas necessárias a qualquer momento incluindo o serviço de internamento”, afirmou.
O Diretor do hospital regional de Oio reconheceu que a greve dos técnicos recém-colocados afetou o funcionamento do centro sem revelar o número exato de óbitos, mas confirma que a greve teve consequências danosas e, consequentemente, resultou em perdas de vidas humanas, porque o número da população que procurou nos últimos tempos os diferentes serviços do hospital ultrapassou a capacidade de resposta dos técnicos, que diariamente fazem setenta a oitenta consultas incluindo atendimentos aos pacientes internados. E avisa que se a situação se mantiver nos próximos tempos, o hospital começará o processo de evacuação de doentes para Bissau.
Neste momento, um pavilhão usado há muito para o internamento de doentes está inutilizável porque representa uma ameaça aos doentes. O telhado do pavilhão está praticamente degradado e a direção decidiu fechar algumas salas para evitar que algo indesejável aconteça aos pacientes. Outro problema com que o hospital se tem defrontado tem a ver com a situação de superlotação. Segundo o diretor do hospital, a superlotação nota-se com maior frequência na maternidade e a falta de espaço obriga muitos pacientes a recorrer às macas para se deitarem.
GESTOR DA EMPRESA “MANSOA FRUTAS”: ANUNCIA CHEGADA DE MATERIAIS AO HOSPITAL REGIONAL DE OIO
Por sua vez, gestor da empresa “Mansoa Frutas”, Bernd Glazinski, não esconde a sua satisfação em poder devolver a sala de urgência do hospital, reabilitada com ajuda da Fundação “Ricardina Gomes Glazinski” à direção do hospital, em benefício da população regional e em particular à comunidade de Mansoa, como primeiro passo das suas ações sociais a setor de Mansoa, tendo anunciado, no entanto, que cinco contendores carregados de materiais para o hospital já estão no porto de Bissau a aguardar o seu desalfandegamento. Dentro dos contentores estão aparelhos de Ecografia, camas para o internamento e materiais para a cirurgia. E com ajuda dos seus parceiros de Alemanha vão reabilitar também salas onde estes materiais e aparelhos serão instalados. Para além do hospital regional de Oio, a Fundação “Ricardina Gomes Glazinski” também forneceu mosaicos ao centro de saúde de Geba, leste do país.
O empresário Alemão casado com uma cidadã guineense natural de Mansoa está a investir também cerca de dois milhões de euros numa fábrica de produção de polpas de bananas e mango com a capacidade para produzir duas toneladas de puré de banana e quatro de mango por hora, bem como na recuperação do Clube de Futebol “os balantas de Mansoa”, este último é uma ajuda social à comunidade de Mansoa. Depois da conclusão das obras de recuperação a gestão será entregue aos dirigentes do clube. Neste momento, segundo as informações, a fábrica está parada devido a problemas técnicos, mas as garantias do gestor da empresa “Mansoa Frutas” indicam que até ao final deste ano a fábrica retomará as suas atividades normais logo com a chega de novos materiais requisitados e que estarão brevemente no país.
Questionado quanto à proveniência dos fundos, Bernd Glazinski esclarece que os fundos não têm nenhuma ligação ou proveniência com atividades ilícitas ou branqueamentos de capitais e realça que é um investimento de cinquenta anos para os seus filhos, que espera depois ser herdado e gerido da melhor forma possível.
Por: Filomeno Sambú
Foto: F.S