[REPORTAGEM_novembro 2019] A enfermeira chefe de centro de saúde de ilha de Canhabaque, Iolanda Luísa Monteiro, revelou numa entrevista exclusiva a O Democrata que o centro de saúde de Canhabaque funciona em condições extremamente precárias, tendo ao seu serviço apenas três enfermeiras e uma parteira. Segundo dados estatísticos do Instituto Nacional de Saúde (INASA), o número da população local estima-se em dois mil e novecentos e quarenta e nove (2949) habitantes, o que na observação da Iolanda Luísa Monteiro torna impossível atender de forma eficaz as procuras que o centro do tipo “C” recebe.
O centro que funciona em regime ambulatório, não faz internamento de doentes, porque é pequeno. A ilha de Canhabaque no setor de Bubaque, é uma das 88 ilhas da região de Bolama Bijagós e tem uma área territorial de 111 km2 e coberto de vegetação. Dados de agentes de saúde Comunitário (ASC) indicam que o número da população da ilha é de três mil e seiscentos e noventa e nove (3699) habitantes.
FALTA DE MOTO-CARRO E DE PIROGA DIFICULTA EVACUAÇÃO DE PACIENTES
A enfermeira revelou igualmente que o centro enfrenta vários problemas estruturais, tendo em conta a falta de transportes e o difícil acesso à ilha, a falta de água potável, bem como a de eletricidade, o que é geral nas zonas insulares do país. Outra situação lamentada por Iolanda Luísa Monteiro tem a ver com as dificuldades de acesso a caminhos que ligam as tabancas da ilha de Canhabaque para poder exercer as suas tarefas.
Contou neste sentido que apenas ela, uma parteira e duas enfermeiras estão a operar neste momento na ilha. Porém, avançou que devido à greve dos técnicos recém-colocados, que reclamavam o pagamento de 11 meses de salários, o número do pessoal reduziu e apenas uma enfermeira está neste momento a dar assistência ao centro.
Na mesma entrevistas, Iolanda Luísa Monteiro contou que em termos de medicamentos, o centro tem apoio do projeto H4+ de Aceleração de Progresso em Saúde Materno e Neonatal, o que não é suficiente tendo em conta as necessidades das populações naquela zona insular do país. Por vezes, nem chega ao final do mês e quando há escassez recorrem com frequencia à capital Bissau para a compra de medicamentos, para evitar que o centro fique sem stock.
Em termos de urgências, informou que o centro não tem nenhuma ambulância nem um moto-caro ou piroga para socorrer doentes em estado grave, porque os caminhos de ligação entre tabancas não estão em boas condições. O centro faz apenas tratamentos ambulatórios e não tem condições para o internamento, só fazem observações e quando diagnosticam casos mais graves, evacuam o paciente ou para Bubaque ou para Bissau.
Contou que os casos mais frequentes atualmente no posto são o paludismo e doenças respiratórias e que nos últimos meses foram registados mais casos de paludismo (agosto, setembro e outubro). Contudo, explicou que no mês de novembro o centro recebeu mais casos ligados a gripes.
Reconheceu que o número reduzido de técnicos na ilha não consegue cobrir as demandas da população, sobretudo em relação às grávidas e crianças. Porém, realçou que graças a Deus os populares da zona recorrem frequentemente ao hospital, mas o mais difícil são as mulheres que não aceitam fazer o parto no centro, tendo em conta as particularidades daquele povo e a distância entre as tabancas e o centro.
No concernente a grávidas, indicou que o maior problema está relacionado com a falta de meios de transporte e às vezes as grávidas com problemas de parto acabam dando a luz, a caminho do hospital e outras preferem ficar e fazer o parto em casa, mesmo correndo evidentes riscos de vida.
Apesar dessa situação, a enfermeira referiu que as grávidas da ilha seguem regularmente a consulta pré-natal, como também fazem estratégias avançadas nas tabancas acompanhadas que acompanham as consultas e tem dado certo.
“Realmente o que não fazem é o parto no centro de saúde porque einvocam a distância até chegarem a tempo ao centro. Nestas circunstâncias acabam dando a luz ou a caminho do centro ou em casa”, reforçou, lamentando o fato de a cultura daquele povo ter interferido negativamente no principio de boas práticas, o que leva cegamente as grávidas a darem a luz em casa, não no centro com mínimas condições para evitar que incidentes ocorram, embora pudessem ser evitados.
Por: Carolina Djemé
Foto: C.D