
Um grupo de estudantes da Universidade Lusófona da Guiné (ULG) viajou até cidade de Farim, na denominada Caminhada Social – “Restauração dos Valores para Este Tempo em Farim”.
A inciativa do grupo universitário Lusófono da Guiné insere-se no âmbito de estudos académicos sobre a história do país, e no caso concreto de Farim os estudantes deslocaram –se a essa localidade, com propósito único de revitalizar a história daquela antiga feitoria colonial.
A iniciativa juntou cerca de quarenta jovens estudantes e professores daquela instituição universitária do país que, sob auspícios do gabinete da Comunicação e Marketing da ULG dirigido pelo professor António Nhaga coordenador do departamento da Comunicação Organizacional e Jornalismo.
Durante três dias (22 a 24 de Abri)l, na cidade de Farim, os estudantes tiveram a oportunidade de, sem num formato de aprendizagem público definido, puderam ou seja, num espaço aberto ouviram as explicações dos anciões de Farim sobre as histórias que marcaram o passado dos farinenses.
As primeiras explicações recolhidas pelos jovens académicos foram relatadas por Aladje Lassana Baio, chefe da tabanca central de Farim, com incidência à origem da nomenclatura daquela cidade nortenha.
Aladje Lassana Baio, citando seus antepassados, disse que vila de Farim ganhou seu nome através de um homem com mesmo nome [Farim] que explorava palmeiras para extração do vinho de palma. O Homem cujo nome foi dado a atual Farim tinha sua residência fixada à beira da atual travessia do rio onde tombou a heroína nacional Titina Sila.
Aladje Lassana Baio explicou ainda aos estudantes, que o seu avô Bacar Baio era comerciante ambulante de Bidjini [uma vila no leste da Guiné-Bissau]. Sempre ia a Farim vender seus colares confeccionados. Sempre que ia, cruzava-se com o velho humilde de nome Farim que posteriormente convidou Bacar Baio a mudar sua residência para o lugar que mais tarde foi batizado com seu nome [Farim] velho do vinho de palma.
Olhando pela história e com base nos factos históricos avançados por Baio e as teses que defendiam que a vila fora chamada de Farim devido à designação do rei ou do chefe no dialeto mandinga percebe-se que as duas realidades de factos entram em colisão uma com a outra.
E para aprofundar os seus estudos históricos e dissipar eventuais equívocos em relação a paradoxalidade dos factos apresentados nas duas teses, os estudantes da ULG do curso da comunicação e jornalismo apelidados pelo coordenador daquele departamento de “Geração d’Ouro” prometeram e com determinação escrever o assunto mesmo que seja em uma brochura sobre a história de Farim. E manifestaram ainda a vontade de aprofundarem ainda mais os dados recolhidos durante os três dias de trabalho de campo.
O grupo da ULG realizou também sessões de debates e consequente recolha de dados que decorreu no espaço onde se encontrava a palhota do velho Farim, na era colonial, agora transformado num lugar de conferências e reuniões junto à residência do governador da Região de Oio.
Numa das sessões, o Imame Central da Região de Oio, Aladje Braima Sani, foi chamado para abordar o assunto relativo à Guerra de Pacificação, particularmente com incidência à resistência de Abudu Indjai sobre a dominação colonial, que segundo os factos históricos, fora posteriormente enganado pelos colonos, capturado perante seu povo e levado para Cabo Verde, donde nunca mais voltou.
Aladje Braima Sani sustentou as suas explicações com base nas informações recebidas de um dos “grandes guerreiros” de Abudu Indjai chamado Sara Sanhá, que de acordo com a explicação do velho Imame, sobreviveu sem ser detido, porque quando soube da operação “ caça aberta” desencadeada pelos portugueses, Sara Sanhá fugira para as plantações de milho para não ser detido pelos colonialistas portugueses, tal como fizeram com o seu mestre de quem era discípulo, ou seja, seguidor, chefe Indjai.
Um dos momentos marcantes da referida sessão foi quando o velho Carlos Malam Sani, um dos sobreviventes e vítima “do ataque terrorista” de Morkunda de 1 de Novembro de 1965, na altura com doze anos de idade, com uma voz trémula e emocionado, começou a narrar para os estudantes, na primeira pessoa, como tudo acontecera há 51 anos durante uma manifestação cultural da etnia mandinga “festa de Djambadon” que decorria no coração de Farim, provocando mais de trinta mortos e vários feridos graves.
Ao presidir o ato de encerramento de trabalho de Caminhada Social – “Restauração dos Valores para Este Tempo em Farim” dos estudantes da universidade lusófona, a governadora da Região de Oio, Anita Djaló Sani considerou de grande significado a escolha de Farim para a realização da referida pesquisa.
Anita Djaló Sani acolheu com muito agrado a intenção do professor António Nhaga em trabalhar para a transformação de Farim numa cidade histórica e cultural da Guiné-Bissasu.
De forma irónica dirige-se aos estudantes dizendo que “há um carro da segunda guerra mundial que prometo trabalhar no sentido de valorizá-lo e transformá-lo em um monumento turístico”.
Neste sentido, aconselha os estudantes a incorporarem no máximo os conhecimentos adquiridos ao longo da investigação para não defraudar os esforços que os docentes e a direção da ULG imprimiram para materialização da iniciativa que a própria chamou de “ trabalho nobre de resgate de valores culturais para este tempo”.
Por seu turno, chefe da delegação lusófona à cidade de Farim, professor António Nhaga prometeu trabalhar em sinergia com a direção da ULG e estudantes no sentido de ajudar a candidatura da vila de Farim para patrimônio cultural mundial da UNESCO, mediante os dados recolhidos ao longo da pesquisa, pois no seu entendimento” todas as hipóteses lançadas foram confirmadas no terreno”.
“Apelar as nossas autoridades para olharem para vila de Farim, como um potencial candidato ao patrimônio imaterial da cultura, porque de acordo com aquilo que recolhemos aqui acreditamos que Farim merece ser um patrimônio imaterial da cultura a ser apresentado a nível mundial como acontece com Fado e Alentejo em Portugal”, frisou António Nhaga.
A juventude de Farim fez-se representar pelo presidente da rede de associações daquele setor, professor Alfucene Só.
No encerramento dos trabalhos, o líder juvenil da região de Oio enalteceu a iniciativa dos estudantes da ULG, considerando, por conseguinte que os jovens de Farim conseguiram descobrir outros dados históricos de que dantes não tinham conhecimento.
Ao núcleo de comunicação e jornalismo da ULG, Alfucene Só exorta a alargarem a iniciativa a outras regiões e setores da Guiné-Bissau, com vista ao resgate da história nacional, servindo de exemplo para outras áreas acadêmicas no sentido de trilharem o mesmo caminho com os pequenos comunicólogos e jornalistas que compõem a ‘Geração d’Ouro’ da ULG.
“Só identificando a cultura nacional é que podemos resgatar a história dos nossos antepassados, resgatando a história dos nossos antepassados certamente estamos a desenvolver a história da Guiné-Bissau, por isso a juventude de Farim vos agradece do fundo de coração. Continuem a participar no desenvolvimento do nosso país”, acrescenta.
Em resposta às preocupações levantadas pela juventude local, António Nhaga garantiu propor à direção da ULG a construção em Farim, de um centro de estudo e reflexão das Ciências de Comunicação na Guiné-Bissau, acrescentando que “Farim tem muita história para contar como a do Império de Gabú igualmente tem muita coisa para ser explorada na área da comunicação”.
A Cidade de Farim marcada indelevelmente pela estrutura arquitetónica do colonialismo português, tornado numa cidade potencialmente turística, onde as pessoas podem visitar as construções muito antigas das residências, armazéns e edifícios da administração colonial que está presente em Farim apesar da maior parte já se encontrar num estado avançado de degradação, como constatou a equipa de “O Democrata”.
Por: Sene Camará
Foto: Marcelo N’canha Na Ritche