RIO’2016: DESORGANIZAÇÃO E LESÕES MINAM O SONHO DA MEDALHA OLÍMPICA

O Jornal O Democrata homenageia os nossos cinco atletas olímpicos que souberam representar, de uma forma razoável, as cores nacionais nos Jogos Olímpicos [Rio’2016]. A nossa participação foi conseguida sob uma desorganização das autoridades desportivas nacionais, que demostraram uma “incapacidade gritante”, por não terem conseguido criar as condições necessárias para que os atletas pudessem fazer uma preparação necessária para os jogos. Os atletas nacionais passaram por imensas dificuldades, sobretudo devido a lesões de última da hora, acabando assim por deitar por terra as aspirações da primeira medalha olímpica para o nosso país.

Os atletas nacionais tiveram muitas dificuldades desde fases de preparação até chegarem a alta competição, e acabaram por ficar todos na primeira fase. Apesar de tudo isso, eles continuam a ser o orgulho do povo guineense, porque premiaram-nos com bons resultados, entre medalhas de ouro, prata e bronze noutras competições. O exemplo disso são os últimos seis anos, nos quais a Guiné-Bissau arrecadou sempre medalhas nas provas africanas e internacionais, curiosamente nas modalidades em que concorreram nas olimpíadas do Brasil.

A Guiné-Bissau esteve entre os cem (100) países que coloriram o Rio’2016 em diferentes modalidades olímpicas. O sonho maior era, à partida, conquista da primeira medalha olímpica, mas as condições de trabalho e factores psicológicos que precederam os jogos, parecem não terem ajudado no sucesso dos nossos atletas. Os atletas nacionais não tinham um plafond (em termos financeiros) como prémio pelas suas participações em eventos desportivos em representação da Guiné-Bissau, muito menos um subsídio ou orçamento para trabalho anual. A falta de tudo isso deixa-nos sem moral para exigirmos mais deles, porque já deram muitas alegrias a este povo.

Rio’2016 era onde cada um dos nossos cinco atletas queria deixar suas melhores marcas e escrever os respectivos nomes na página das boas recordaçoes da história do país: a judoca Taciana Lima Baldé, tetracampeã africana na categoria de 48 quilos, número um em África e dez no ranking olímpico e mundial, o lutador Augusto Midana, tricampeão africano de luta livre na categoria de 74 quilos, o velocista dos 100 metros Holder Ocante da Silva, campeão em Portugal e ouro nos jogos da lusofonia realizados na Índia, a atleta de lançamento de peso e disco, Jéssica Inchude, também campeã em Portugal, que se estreou nas olimpíadas do Brasil e por último Bedopassa, o jovem lutador de 97 quilos que emergiu em 2014, num torneio realizado no leste do país e medalha de prata no torneio de qualificação para os jogos olímpicos, que decorreu em Argel, Argélia.

O sonho do guineense começou no dia 6 de Agosto com a entrada em arena de judo da tetracampeã Taciana Baldé, eliminada pela cazaquistana, Otgontsetseg Galbadrakh, logo na estreia olímpica. Após a eliminação, a judoca utilizou a rede social (facebook) para deixar algumas mensagens, onde disse assim: “Hoje foi amargo. O que dizer? O que pensar? Quatro anos de muitas mudanças… quando quiseram-me aposentar do Judo por livre espontânea pressão, eu tive coragem de lutar pela minha honestidade e dignidade e prometi para mim mesma que eu decidia quando eu pararia de lutar, que não seria o mal que iria-me vencer”. Acrescentando ainda que “encontrei o meu outro lado da família: meu pai que foi e é um orgulho para mim representar a Guiné Bissau”.

Logo de seguida, no dia 12 de Agosto, foi a vez da Jéssica Inchunde que participou no lançamento de peso e foi eliminada na primeira fase, sendo a mais nova da comitiva e menos experimentada. “Tem sido uma experiência que em tudo ultrapassa qualquer evento desportivo. Sou jovem, apenas tenho 20 anos, tudo tem corrido bem este ano, bem até demais! Hoje não correu! Senti e sinto que podia fazer melhor, mas não fiz e não tenho explicação para isso, talvez tenho sido dominada pelo nervosismo. Agora estou entre as 36 melhores do mundo e orgulho-me disso”, são palavras que a jovem deixou na sua conta de facebook, no dia da sua estreia nos jogos olímpicos do Brasil.

No dia 13 de agosto, foi a vez do velocista Holder Ocante da Silva que, correu entre dores no tendão de Aquiles para alcançar a quarta posição na sua série de eliminatória, mas a marca não foi suficiente para seguir para a fase seguinte da competição. “Eu cheguei muito bem e forte ao Rio, mas passados dois dias comecei de repente a sentir estas fortes dores no tendão de Aquiles, sem cair ou apanhar mau jeito, fiquei muito admirado. Foi isso que eu podia fazer para agradar ao povo guineense. Portanto, estou muito feliz por chegar à meta neste lugar. É uma longa história ou caminhada percorrida, até conseguir fazer três jogos olímpicos consecutivos. óh meu Deus, há muitos segredos por detrás”, explicou o atleta durante uma conversa através do “Messenger” com o repórter de O Democráta.

O tricampeão africano, Augusto Midana, entrou em cena no dia 19 para desafiar o tricampeão mundial, o norte-americano Jordan Burroughs que o derrotou por 8 a 3. O atleta guineense tinha uma lesão que não foi previamente comunicada pelos responsáveis da comitiva nacional, tal como aconteceu com o velocista Holder da Silva. “Tudo é destino de Deus. Podia ganhar e até podia trazer uma medalha para o país, portanto é o destino de Deus. Obrigado a todo o povo guineense pelo apoio. Haverá outra oportunidade e continuarei a trabalhar”, contou o rei da arena de luta livre, durante uma entrevista a estação emissora “Rádio Jovem” da Guiné-Bissau.

O país encerrou a participação no dia 21 de Agosto com o jovem lutador de Binar, Bidopassa Buassat Djonde, igualmente eliminado pelo lutador de Usbekistão, Idrisovitch Magomed Ibragimov, que venceu por cinco a zero.

A imprensa nacional ficou de fora dos jogos olímpicos Rio’2016 e foi obrigada a recorrer a outros canais de informação para satisfazer o seu compromisso com o público. Feliz ou infelizmente conseguiu, mesmo com dificuldades. O mais caricato foram as comunicações das lesões que só foram feitas depois de os nossos atletas terem sido eliminados, como forma de justificar as eliminações dos nossos heróis e heroinas que lutam pela bandeira e prátia de Cabral. Quem percebe ABC de desporto não pedirá muito aos nossos atletas, a quem faltam as mínimas condições para treinos de atletas de alta competição. Não têm salários, nem prémios comparáveis aos dos atletas da sub-região. Aliás, todos os atletas que Midana e Taciana derrotaram, em nome da Guiné-Bissau, possuem melhores condições de vida e de treinamento.

É a hora de dar valor aos que merecem e deixar de lado a inversão de valores. O país precisa mudar pela positiva e necessita de cada um de nós. Devemos perguntarmo-nos a cada dia, o que já fizemos pela Guiné-Bissau. É urgente começarmos a exigir resultados aceitáveis aos organizadores e responsáveis das delegações do país em qualquer evento, caso contrário, vamos continuar na cauda dos países do mundo.

A Guiné-Bissau aguarda os relatórios médicos da equipa técnica das modalidades e dos delegados ao Rio’2016. Talvez traduzam a realidade vivida. Serão uma ferramenta útil para futuras organizações de caravanas que participam em eventos internacionais.

Saudações democráticas aos nosssos atletas. Djarama nossos heróis de hoje!

 

 

Por: Assana Sambú/Sene Camará

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