NEGÓCIOS ESTRANGEIROS CONCEDE PASSAPORTES GUINEENSES A CIDADÃOS ALEMÃES SUSPEITOS DE CRIME 

O Ministério dos Negócios Estrangeiros, da Cooperação Internacional e das Comunidades, concedeu passaportes diplomáticos guineenses a cidadãos alemães e de outras nacionalidades suspeitos do crime. “O Democrata” soube que a Embaixada da Guiné-Bissau em Berlim, capital da Alemanha, maior potência económica da Europa, é controlada por um cidadão alemão que usa vários passaportes, entre os quais, um diplomático e outro ordinário da Guiné-Bissau.

De acordo com as informações apuradas, o cidadão alemão que está a ser investigado pela justiça daquele país europeu por suspeita de envolvimento em crime de burla e falsificação de documentos praticados na Alemanha e noutros países é quem paga praticamente todas as despesas correntes da nossa Embaixada em Berlim.

“O Democrata” está na posse de documentos e cópias de passaportes de cidadãos alemães nomeados como representantes da Guiné-Bissau em alguns países da Europa de Leste, designadamente: Andreas Helmut Brandl (conhecido como amigo da Guiné-Bissau) que foi nomeado Conselheiro Especial do Primeiro-Ministro do Governo de Transição, Rui Duarte de Barros em 2012; Reiner Thomas Hemberger, portador de passaporte diplomático guineense; Marian Sufliarsky e Karil Zideck, nomeados diplomatas responsáveis por “Assuntos Económicos e Comerciais” para a Áustria e Eslováquia; Udo Carsten Deppisch, nomeada como diplomata guineense na República da Checa.

EMPRESÁRIOS ALEMÃES SUSPEITOS DE CRIMES USAM DOCUMENTOS GUINEENSES PARA BENEFICIAR DE IMUNIDADE

Vários cidadãos alemães e de outras nacionalidades circulam na Alemanha com passaportes diplomáticos e ordinários emitidos pelas autoridades da Guiné-Bissau, segundo informações apuradas pelo nosso jornal. Os “homens de negócios” alemães recorrem ao uso de passaportes diplomáticos guineenses para beneficiar da imunidade diplomática e consequentemente continuar as suas actividades sem a pressão da parte das autoridades judiciais.

A própria Embaixada da Guiné-Bissau em Berlim não consegue revelar o número exacto de passaportes ordinários e diplomáticos emitidos nessas condições, nem sabe explicar as razões da emissão dos referidos documentos a cidadãos estrangeiros.

Os empresários alemães que são considerados na nossa embaixada de “amigos da Guiné-Bissau” estão a ser investigados pelas autoridades judiciais, facto que foi confirmado ao nosso jornal pela advogada que representa o grupo de cidadãos alemães lesados por empresários “amigos da Guiné-Bissau”, nas cidades de Heilbronn e Berlim. Ainda de acordo com a informação avançada pela advogada, centenas de cidadãos alemãos teriam sido burlados pelos tais empresários alemães.

Os referidos empresários são acusados igualmente de criarem fundos de investimentos fictícios para roubar dinheiro às pessoas. Segundo a nossa fonte, eles teriam inventado parques para a produção de energia solar, na Itália e na Roménia, mas que nunca terão saído do papel.

“Mesmo assim, terão vendido participações desses mesmos parques solares a centenas de cidadãos, sobretudo às pessoas idosas na Alemanha, que acabaram por perder assim todas as suas economias. Fala-se em avultados prejuízos para os investidores, ou seja, milhões de Euros”, contou a nossa fonte.

O nosso jornal soube ainda que um cidadão argelino usa um cartão diplomático guineense na Alemanha que, entretanto, acabou por caducar. O cidadão argelino de nome Kamel Tahir está a exigir actualmente a renovação do seu documento junto da Embaixada em Berlim.

Uma fonte conhecedora do processo de emissão do documento ao cidadão argelino e que pediu o anonimato, explicou que a iniciativa da Embaixada de conceder o documento guineense ao argelino Kamel é incompreensível, porque não sabia o que aquele cidadão argelino fizera de concreto e que terá motivado a Embaixada a conceder-lhe um “cartão diplomático”.

“Não sei se o senhor Kamel é mesmo empresário ou traficante”, disse o nosso informante.

A situação da nossa Embaixada está a merecer preocupação dos guineenses que vivem naquele país europeu. Segundo relatos, pessoas fortemente suspeitas e organizações criminosas mantém uma relação de proximidade com a Embaixada. Outra situação com a qual a nossa repórter foi confrontada é a questão de oito viaturas que circulam nas ruas de Berlim e de Munique com placas diplomatas da Embaixada da Guiné-Bissau.

EMBAIXADOR JASSI CONFIRMA QUE CIDADÃO ALEMÃO PAGA TODAS AS DESPESAS DA EMBAIXADA EM BERLIM

image

A repórter do Jornal “O Democrata” contactou o Embaixador da Guiné-Bissau na Alemanha, Malam Jassi, para abordar com ele a situação da emissão de passaportes a cidadãos estrangeiros suspeitos do crime, como também da ligação do próprio diplomata a “homens de negócios” alemães que actualmente pagam todas as despesas da nossa embaixada em Berlim.

Jassi, nome por que é conhecido igualmente, confirmou à repórter que as despesas da Embaixada são pagas pelo cidadão alemão.

“É verdade essa informação. Um cidadão alemão é quem paga todas as despesas da Embaixada de Guiné-Bissau em Berlim, inclusive a renda, a luz, a água, telefones, entre outras despesas”, confessou o Embaixador.

Relativamente a oito viaturas que circulam nas ruas de Berlim e Munique com placas diplomáticas da nossa Embaixada, Malam Jassi explicou que a Embaixada dispõe de três viaturas e apenas essas é que circulam com tais placas. Contudo, uma fonte junto da Embaixada revelou à nossa repórter que as viaturas que circulam com placas diplomáticas guineenses são superiores ao número avançado pelo Embaixador.

O nosso informante acrescentou ainda que os serviços de “leasing” dessas viaturas são também pagos por cidadãos alemães, portadores de passaportes diplomáticos guineenses.

Embaixador guineense em Berlim negou que o cidadão alemão Andreas Helmut Brandl que paga as despesas da nossa Embaixada esteja a ser investigado pela justiça alemã. No entanto, aproveitou a ocasião para informar que o governo guineense deixou de pagar as despesas da Embaixada em Berlim desde 2012.

“Actualmente a Embaixada funciona graças a receitas do serviço consular, como também com a ajuda de amigos empresários alemães”, contou.

Assegurou ainda que esses “amigos” já teriam enviado vários contentores cheios de equipamentos, sobretudo para os serviços de saúde, para apoiar o povo guineense. Acrescentou, no entanto, que um dos contentores se encontra ainda nos portos de Bissau, já há um ano e sem que tenha sido desalfandegado.

O embaixador acusa os guineenses em geral, de “má fé”, tendo assegurado que os “amigos alemães” continuam a apoiar o povo guineense através de envios de vários materiais para o nosso país, inclusive material técnico para equipamento da rádio e televisão.

Questionado sobre as condições em que foram concedidos passaportes diplomáticos aos “empresários alemães – amigos da Guiné-Bissau”, Malam Jassi assegurou que não sabe, ou melhor, não tem conhecimento sobre as razões que levaram as autoridades guineenses a conceder passaportes aos referidos cidadãos.

“O empresário que paga todas as despesas da Embaixada foi nomeado `Conselheiro Especial do Primeiro-Ministro do Governo de Transição, Rui Duarte de Barros, antes da minha nomeação como Embaixador aqui”, lembrou o diplomata.

No entender do embaixador, a concessão de passaportes aos cidadãos alemães e de outras nacionalidades não deveria constituir motivo de preocupação para os guineenses e em particular, aqueles que vivem na Alemanha. No entanto, apelou aos guineenses residentes na Alemanha para aprenderem com os alemães como também a adoptarem a maneira como os alemães resolvem os seus problemas.

“Os guineenses contentam-se com pouco. Muitos estão aqui a viver com dinheiros da segurança social, que agora está cada vez mais difícil devido à vaga de imigração e de refugiados”, disse.

Solicitado ainda a esclarecer as circunstâncias da emissão de documentos a alguns cidadãos alemães, Malam Jassi mostrou-se irritado com as questões colocadas e limitou-se a resumir a resposta da seguinte forma:

“Não sei nada sobre a emissão de documentos ou passaportes diplomáticos aos cidadãos alemães, sobretudo do Senhor Andreas Helmut Brandl. Não sei nada sobre esse assunto, portanto nem sei quando foram emitidos esses passaportes”, esclareceu o Embaixador Jassi, que entretanto alegou não saber dos interesses exactos dos empresários alemãos na Guiné-Bissau.

“O Democrata” soube que em finais de agosto transato este grupo de “amigos alemães” estiveram em Bissau, a convite do embaixador Jassi, através da fundação WESTEAFRIKA INTERNACIONAL, e depois de um encontro com o Chefe de Estado guineense garantira que vai apoiar na reabilitação de antigo Internato de Morés no norte da Guiné-Bissau que passara a funcionar como uma Escola Técnica num valor total de 100 milhões de francos CFA e, na reabilitação de uma escola na vila de Bula também no norte do País tendo disponibilizado uma soma de 50 mil Euros cerca de 33 milhões de Francos CFA.

 

 

 

Por: Aissato Só

Enviada especial de O Democrata a Berlim

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *