HOLDER DA SILVA – DA PISTA DO ATLETISMO A SEGURANÇA DE LOJAS

Holder Ocante da Silva está no pódio da lista dos atletas guineenses, que mais arrecadou individualmente medalhas em competições internacionais.

Na verdade, são já 12 anos de uma carreira que lhe valeu uma medalha de ouro, três participações nos Jogos Olímpicos, oito nos Campeonatos de Mundo e três jogos da Lusofonia. Hoje, o sonho ainda alimenta a esperança do atleta em voltar a carregar ao mais alto nível a bandeira da pátria amada, cheio de energia, potencial, determinação e orgulho em representar a Guiné-Bissau na arena internacional do atletismo.

Ficou na memória de muitos a sua histórica conquistada, quando, em 2014, na Índia, ganhou a medalha de Ouro, um Record, nos Jogos da Lusofonia. Um ano mais tarde, 2015, Holder volta a honrar os guineenses com a passagem para os quartos de final do Campeonato de Mundo de Atletismo, que teve lugar na China.

O atleta velocista de 60Metros, 100Metros e 200Metros, mudou-se de Bissau para a capital senegalesa, Dakar, em 2005, para tentar a sorte e deu-se bem. Começou então uma longa caminhada até chegar à Europa, precisamente, em Portugal onde fixou a sua residência.

Holder afirma-se como um grande patriota que quer mudar, através da sua modalidade, a imagem da Guiné-Bissau no estrangeiro. Descreve com emoção que se sentiu grande quando nos Jogos Olímpicos de Rio de Janeiro viu a sua bandeira hasteada no Estádio, precisamente no mesmo dia em que o Jamaicano, UsainBolt, competia.

Na sala de visitas da sua casa tem várias medalhas, entre as quais uma de Ouro e outra de Bronze. Holder valeu Ouro para um país que, diz, não o ter ajudado em quase nada. Sempre soube caminhar com os próprios pés para realizar o seu sonho de infância e projetar outra face da Guiné-Bissau. Ao longo dos 12 anos de carreira, conta, ganhou aquilo que talvez poucos políticos ganharam fora do país, mas recebeu pouco mais de três mil euros, ao todo.

Holder tem família, tem despesas mensais na Europa. É pai de quatro filhos que ficaram na Guiné-Bissau, dependentes das remessas que envia ao final de cada mês. Com lágrimas a espreitar e a voz a tremer, o atleta diz que teve que tomar a decisão mais difícil da sua vida: ou sustentar a sua vida e a da família ou correr por patriotismo. Aparentemente revoltado com o comportamento das autoridades do país, o atleta diz que chegou o momento de olhar para si, pagar a escola dos filhos e cuidar do bem-estar de família. Pendurou as chuteiras, deixou a pista e começa a correr pela vida familiar.

Holder acaba de tirar um curso de segurança pela empresa ‘Prosegur’ em Portugal, para guardar onde quer que seja desde que lhes pagam a mensalidade que sirva para a sua família na terra natal. Isto acontece depois de ter terminado o ano em grande com perspectivas boas para o próximo ano. No atletismo, confessa, que não ganha o suficiente para garantir o sustento da família na Guiné e cobrir a sua despesa mensal em Portugal. Agora trabalha como vigilante de lojas, hotéis, empresas entre outros serviços. Holder afirma que se torna quase impossível conciliar as duas coisas. É segurança, ponto final. Ainda continua com o sonho de tirar curso superior, voltar à Guiné para ensinar os novos talentos e trabalhar para afirmação do atletismo guineense. Diz acreditar, no entanto, na potencialidade do país.

 

 

Por: Braima Darame, em serviço especial para ‘O Democrata’

 

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