Crônica: O FORASTEIRO E O PIPOQUEIRO

O forasteiro conhecido na Praça Pública por Ñu Mara Mon, bajulador ferrenho, e com uma ampla capacidade de persuasão maligna como se fosse tumor, conseguira, em tempos que se correm, imiscuir-se com a sua astúcia de sempre nos meandros do corredor político nacional.

E não é que logrou o tento? Chegara com sacolas de dólares, e sabendo que o maior Pipoqueiro que este país já produziu gostava muito de dinheiro, mesmo em se tratando de origem duvidosa, pois o forasteiro que não mede as consequências de o obter, dera àquele presente de rios de dinheiro para que fosse elevado à Alta Chefia da Administração da Corte.

Fora, de vento em popa, espalhar por este mundo fora que Doutorou-se em Letras Mortas e em Ciências Apagadas. Todo o mundo foi à Wipédia, e nada se viu de referência a títulos exibidos. Mas, como seu protetor também se doutorara em Ciências Ocultas, lá vão os dois, soturnos em suas filosofias de mandar, e desastrados, em matéria de Governação, conduzindo este país ao abismo.

Neste espetáculo de horrores, difícil é ficar indiferente, ainda que tenham exarado o Decreto do silêncio sepulcral. Decreto esse que ninguém logrou cumprir por se tratar de mais uma infâmia de cidadania.

Entretanto, o que não se sabe é como o país doente, já quase anêmico, vai, mais uma vez, suportar (mais) esse desgaste infantil de governação.

  1. É pela mala de dólares que vamos tecendo nossos destinos nas mãos do Kayo Máfia

Se por razões desse fútil mandato, o povo tivesse que sair às ruas, e instaurar um processo popular, e ao mesmo tempo tiver que aplicar o cartão encarnado ao chefe da Máfia nacional, e ele, por via de resignada aceitação, decidir abandonar o trono, ele o faria a gosto ou a contragosto? E como faria em relação ao Forasteiro, depois de ter depositado na sua conta no exterior, não se sabe se nas Ilhas Cayman ou se nas Bermudas, a avultada soma em dólares para hipotecar todo o sonho de uma nação?

Ora, ao que tudo indica, não se pode imaginar que o povo vá aceitar, sem arranhões pessoais e institucionais, um representante do povo em situação deveras delicada de saia justa com tantos problemas em todos os segmentos da justiça, e ainda por cima, a acusar os outros. Parece-me que a lógica do Pipoqueiro seja a de arremessar a primeira pedra, tentando com isso lançar a amnésia geral sobre a população para que, esta, por pífia solidariedade a ele, esqueça dos malfeitos do passado negro dele como homem de negócios, mas, sobretudo, como homem público.

O povo, este, desempregado, seu Estado destruído pela corrupção, sem que tenhamos a consciência de que em suas condições de condutores do destino tanto o Forasteiro quanto o Pipoqueiro não valem nem um tostão furado. Por isso estão a furar nossas almas…

Tudo isso leva a que o atual processo seja o de descrença em relação ao cumprimento Acordo de Bissau (10/09/2017) e o Acordo de Conakry (14/10/2017). Pois, habituados a radicalização a classe marginal nacional pode transformar nosso país num caldeirão sem que se saiba o que há dentro.

  1. Tempos fora da curva

Foi o maior equívoco defender uma agenda unicamente do mercado. Pois, o Kayo Máfia, pela circunstância, foi colocado na cadeira de piloto de um avião sem plano de voo, sem saber de onde estava vindo nem para onde estava indo. Lá atrás os passageiros estavam aguardando sinais do comandante. Porém, ele simplesmente parece dizer:

Fiquem calmos, repito fiquem calmos, temos um rumo, é logo ali, devemos, portanto, chamá-lo de ponte para o futuro. E, acreditem, vamos rapidamente, sem sobressaltos, chegar lá. Num primeiro momento, parecia um alívio e alguma réstia de esperança, ainda que arrancada a ferro do fundo de nossos corações. Aí, ai, ai, ai, e aí acontece o desastre: o avião entra numa tempestade e, de repentemente, um raio fora do radar atinge as duas asas. O avião fica sem asas e sem a turbina. Caos total. O comandante, esse sim, para a incredulidade geral, e nacional, passa a navegar através de instrumentos nunca dantes vistos, nem conhecidos, e quem tenta alertá-lo passa a ser considerado inconveniente. Um inimigo a abater. Começou por desconfiar de todo o mundo. Já nem conselhos dos seus aceita. Ele continua com a mão no manche, pisa cada vez mais fundo, e os passageiros começam a perceber que o comandante não tem noção do que acontece fora da cabine do avião. E o que fazer? Ninguém se arrisca a dar palpites. Todos observam atónitos o espetáculo do desastre há muito anunciado. Pois as equipas técnicas o haviam anunciado. Mas de boas intenções está o inferno cheio – diz o vulgo. Ora o que precisam, hic et nunc, o que querem fazer é tirar de qualquer forma o piloto porque a turbulência está cada vez mais insuportável. Ninguém aguenta mais.

A sensação que tenho é a seguinte:

O PAIGC condenado em seu mandato, injuriado por sua escolha, o PRS liberado, e rindo à toa, feliz da vida por ter sido ofertado um mandato por um grupo de delinquentes, Nambeia e sua Florzinha protegidos, a soberania nacional fulminada, o povo guineense escravizado, a máfia triunfante.

É muito triste isso. Não sou militar, mas há um crime militar chamada de perfídia. Perfídia é o sujeito que é do teu grupo e que vende esse grupo para o inimigo. Ele passa a ajudar o inimigo a te dar tiro.

Não preciso dizer mais nada, caro leitor d’O Democrata, até a próxima, que o cronista precisa dormir para tentar esquecer o desassossego pátrio.

 

Quinhamel, 14 de novembro de 2017.

Por: Jorge Otinta, poeta, ensaísta, e crítico literário guineense

 

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