Crônica: O NABO DO NADO E OS PROFESSORES

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Bu papé mandau skola

Bu ka ba sibi nada

Son kume bianda

Son bindi kuko di kaju

Son disinkamiña femia di jintis

Ku muntrusia pa otcha lugar na guvernu

(Jorge Otinta de Sá)

Não estou chateado, nem tão pouco me sinto ofendido pelas palavras proferidas, sem esmerada educação, que se espera de uma figura pública. Nada disso. Estou é desapontado. Pois, como Professor e filho de pai Professor, sinto-me no dever, e na obrigação, de dizer algo a respeito.

A bem da verdade, sempre duvidei da reputação de certas figuras públicas deste país, de certos homens de negócios que, como se sabe, muitos deles sem escrúpulos, e sem valores éticos ou morais que norteiem suas vidas, quer pessoal quer profissional.

Dizer que os docentes deste país são incompetentes é, no mínimo, ser imbecil. Isto demonstra o despreparo geral que assiste a nossos políticos.

Entretanto, ouvir isso dum Ministro da Castanha de Cajú – kuko di kaju – é deveras engraçado.

Vi em tempos uma reportagem global sobre as grandes transformações da humanidade. Por incrível que pareça, todos os países, e todas as opiniões foram unânimes em afirmar que o grande agente transformador de um país é: O PROFESSOR!

É a ele que todos os investimentos se destinam. Pois é ele que transforma, inventa, reinventa, cria, recria, muda o rumo dos acontecimentos e das invenções da humanidade.

É ele que desperta as consciências, inculca valores, ensina a pensar, a refletir. É ele que orienta os seres humanos para a Ciência e para a Tecnologia.

A ele, portanto, todo o arcabouço científico da Humanidade. É o propiciador do engenho e da arte. Realidades tão caras ao progresso científico. E à felicidade.

Professor mal preparado, país mal desenvolvido. Agora entendi a opinião. Esse tal de Ministro deve ter tido professores ruins, por isso é um péssimo Ministro, péssimo cidadão.

  1. Na Confraria do Kalma

Se esse maldito soubesse que a palavra Professor provém do verbo PROFESSAR, que vem a ser a Profecia, saberia, decerto que um professor é um missionário, não no sentido religioso do termo, mas no filosófico. O professor é aquela figura que tem por missão despertar a consciência de um/a aluno/a para a grande missão transformadora da sua nação e, por extensão, doutras nações.

Este senhor só está onde está, ou pelo menos, deve-se acreditar que para não ser tratado por Dr. NBaba, não esquentou apenas a cadeira numa escola. Deve ter aprendido algo, ainda que para correr atrás de nomeação para Governo.

Diziam os romanos: Non vita, sed schola discimus. Quer dizer que tudo o que aprendemos na escola é para aplicarmos na vida. Quando não conseguimos isso, é porque seremos medíocres.

Depois de auferir muitos bilhões na presente Campanha de Castanha de Cajú, o dinheiro deve ter-lhe subido a cabeça.

Mas veja bem, não o posso tratar por Sua Excelência, pois de “Excelente” não tem nada, ainda mais com esta burrada.

  1. A ordem do rabo da vaca

O Banco Nacional da Guiné… este sim foi à falência, justamente por falta de instrução e da solidez de conhecimentos no âmbito das Ciências Económicas.

Como foi resgatado pelo Mestre da Confraria do Rabo da Vaca pode dizer e até mesmo desdizer o que quiser.

Perdoem-lhe professores.

Ele não sabe o que está a dizer. É um desmiolado. Pois:

Mau aluno, mau dirigente!

Não sei se o desafio dos professores nacionais seja o de quebrar os telhados de vidros que rodeia suas vidas. Ao mesmo tempo não sei se estes telhados são mesmo de vidros. Ou talvez sejam de ferro. A única coisa que sei é que precisam os professores derrubar as barreiras físicas que as impeçam de avançar.

Por ouro lado, acredito que seja necessário que os professores nacionais, em vez de responderem ao ministro deste Governo de imbecis, procurem “derrubar” as barreiras mentais trazendo novo visual ao ensino e à investigação científica nacional.

Faço minhas as palavras do grande dramaturgo irlandês, Bertolt Brecht:

Há homens que lutam um dia e são bons.

Há outros que lutam um ano e são melhores.

Há os que lutam muitos anos e são muito bons.

Porém, há os que lutam toda a vida.

Esses são os imprescindíveis.

Nós os professores somos os imprescindíveis, por isso lutamos toda a vida. O ministro-empresário, político de barriga de meia, homem de rua e de farras que nos deixe em paz.

Não preciso dizer mais nada, caro leitor d’O Democrata, até a próxima, que o cronista precisa dormir para tentar esquecer o desassossego pátrio.

 

Quinhamel, 14 de novembro de 2017.

 

Por: Jorge Otinta, Poeta e crítica literário guineense

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