Alguns países, geralmente os menos avançados, limitam-se apenas a comercializar as matérias-primas de que dispõem no seu território. Já os países mais avançados, se estiverem imbuídos de recursos naturais, a maior parte da sua comercialização faz-se após a transformação de tais recursos ou matérias-primas, através de um processo tecnológico. Esta diferença é precisamente a génese da diferença da riqueza entre as nações.
Diversificação económica não só traz uma variada gama de produtos a serem produzidos como também a transformação de matérias-primas em diferentes derivados e novos produtos, trazendo assim um acréscimo no valor original de mercado da matéria-prima.
A Guiné-Bissau é um país com enorme potencial de recursos naturais e se nos basearmos na teoria da economia internacional de Hecker-Ohlin “a produção e o comércio internacional são realizados na base da dotação de recursos’’, a Guiné-Bissau deveria ser um país comercialmente rico. No entanto, esta mesma teoria não leva em consideração a transformação de tais recursos para obtenção de valor acrescentado.
As consequências da não-diversificação da economia são visíveis e não se podem ocultar. Por mostrar relutância em diversificar a economia, os seguintes défices foram registados na economia guineense : Contenção das despesas públicas, problemas sérios de liquidez no mercado (quando termina a campanha de castanha de caju a massa monetária diminui no mercado, consequentemente existe pouca circulação de dinheiro, as empresas e as famílias têm tido dificuldades em satisfazer as suas necessidades), investimentos inviabilizados por falta de verbas, falta de confiança no setor bancário e poder económico decrescente. A política de diversificação económica deve ser realizada com tenacidade e de lado deve ser posto o espalhafato da diversificação.
Que passos então devem ser dados para diversificar a economia Guineense ?
O primeiro passo a ser dado deverá ser em direção a substituir os bens e serviços importados que podem ser produzidos internamente.
O processo natural de desenvolvimento leva a que, à medida que o desenvolvimento segue o seu curso, o país comece a produzir pelo menos alguns dos bens e serviços que inicialmente importava.
Reduzir a dependência em relação à castanha de caju, expandir a oferta de emprego, assegurar a auto-sufciência alimentar, substituir as importações e melhorar o equilíbrio das finanças públicas.
Apostar na Agricultura convencional não de subsistência (produção de milho, amendoim, arroz, batata-doce, etc…) são commodities que o país já produzia. Introdução de novas técnicas de lavoura, aumento de produtividade e de qualidade.
Apostar no Turismo. Segundo um estudo recente de um gabinete de consultoria Espanhol, hoje a maior parte dos contribuintes do mercado de turismo (mercados ocidentais) está à procura de zonas estáveis para fazer turismo. Estes turistas já não vão aos países da África do Magreb (Mauritânia, Argélia, Tunísia, Marrocos e Sahara Ocidental) nem ao Egipto, locais antes preferidos, devido à insegurança.
Nós não temos o problema de insegurança no país não obstante a instabilidade política por isso, devemos aproveitar este momento e criar condições adequadas que promovam este setor que representa uma grande fonte de receitas.
Para estimular a actividade turística de maneira a que se traga mais turistas para o país, há necessidade de se flexibilizar o processo dos vistos e baixar os respetivos preços, de modo a não afuguentar os visitantes.
No setor industrial, sugeria que se criassem condições para a transformação dos produtos locais no país, bem como a comercialização destes produtos no mercado regional que é menos exigente.
Para todos estes projetos, o governo guineense deve estabelecer prioridades, pois a diversificação deve ser feita de forma programada, com estruturas e áreas bem definidas.
O incentivo ao setor privado (pequenas e médias empresas) não deve ficar de fora uma vez que ele é o parceiro priveligiado do governo, com vista a proporcionar empregos e desenvolver a economia guineense e que, em minha opinião, deve ser dominado pelos nacionais.
Essa aposta deve passar, necessariamente, pela formação, capacitação, estágios, etc.
Recorda-se que a Guiné-Bissau é um país cuja economia depende da comercialização de castanha de caju, sendo por isso vulnerável às variações, positivas ou negativas, ocorridas no mercado mundial desta mercadoria.
Para a dependência da castanha de caju não ser uma constante, é necessário que se diversifique a economia, no sentido de torná-la mais rebusta e capaz de melhor resistir às crises. Uma participação de 99% da exportação de um só produto faz da Guiné-Bissau o país africano com maior concentração de exportação por produto, ainda superior à Nigéria e à Guiné-Equatorial, países exportadores de Petróleo.
A multiplicidade de setores que contribuem para a formação do Produto Interno Bruto (PIB) só irá acontecer quando se investir fortemente na economia real, ou seja, nas cadeias produtivas, com o objectivo de produzir de forma rápida e integrada, bens alimentares básicos.
É imprescendivél que se saiba quanto é que a Guiné-Bissau deve investir no futuro e determinar o horizonte temporal para que se tenha uma estrutura económica menos dependente de castanha de caju e centrada numa economia diversificada.
Em África, a agricultura continua a ser um grande setor em muitas economias, o que representa cerca de 20% do PIB regional (em comparação com uma quota de 6% a nível mundial) e cerca de 65% do volume de emprego.
Desde já são importantes transformações estruturais que permitam no médio/longo prazo a emergência de setores de atividade fora do caju. Os desafios passam por diversificar a estrutura produtiva, alargar a base de tributação, aumentar os níveis de emprego, melhorar a balança de transações correntes e garantir o equilíbrio orçamental.
A diversificação da economia deve ser vista como o caminho para um desenvolvimento sustentado.
Por: Aliu Soares Cassamá, mestre em economia