O ano 2017 aparentava-se ser o ano de esperança e de relançamento do futebol nacional, tanto no âmbito internacional como nacional. Tudo começou com o sorriso na cara de todos os guineenses, que no princípio deste ano a sua seleção participou pela primeira vez numa fase final do campeonato africano das nações. Mas, infelizmente, depois desta participação, o futebol nacional mergulhou-se numa crise talvez pior que a de 2011/2012, quando o atual presidente da federação de futebol de Guiné-Bissau concorria ao referido cargo com o seu antecessor José Medina Lobato, no qual foi necessário a intervenção da CAF para a resolução do impasse.
O país viveu um dos melhores momentos neste ano graças ao futebol, uma área que a semelhança de outras desportivas, nunca constituiu a prioridade do governo guineense. Durante quase dois meses, o foco de todos guineenses era “Os Djurtus” que apesar de ser a sua primeira participação, acreditava-se tanto no bom desempenho, e até pela voz do selecionador nacional, era perceptível a convicção, aliás, a vontade de regressar no último dia daquela que é a maior competição ao nível de seleções do continente berço da humanidade.
Tudo parecia ser uma “Mar de rosas”, para a os atentos ao futebol nacional, era a oportunidade ímpar da Guiné-Bissau conseguir mostrar ao mundo a sua capacidade e potencial futebolístico, um país que muitos consideram como a “Mina de Ouro” dos jogadores. A esperança não ficou por aí, dava para perceber que tanto ao nível interno, com a participação do país nesta competição, ia haver uma enorme concorrência dos empresários de futebol africano no que diz respeito ao investimento nos clubes nacionais e potencial abertura de novos projetos desportivos, sobretudo abertura de alguns centros de formação de jogadores.
Também, acreditava-se que o ano de salvação do futebol nacional chegou. E que depois do campeonato africano das nações, tudo ia mudar, muito se pensava na projeção dos jogadores guineenses e sobretudo daqueles internacionais que na altura alinhavam na segunda B, ou melhor dizer na terceira divisão, mas certo é que, tudo o que se sonhava que o CAN podia trazer para o futebol, não se realizou, além de divergências, acusações, denúncias e até imiscuidade dos políticos no futebol.
SURGIMENTO DE VOZES DE CONTESTAÇÃO
A primeira voz que apareceu, é do Inum Embaló antigo vice-presidente da Federação, que teceu duras críticas à direção da qual se demitiu. Nas suas denúncias, o assunto mais abordado era a gestão dos fundos doados pela FIFA E CAF a federação, para as suas atividades mas que eram desviados pelos atuais responsáveis federativos . A partir desta altura, a crise que se instalou no futebol guineense começou a ganhar outros patamares saindo do “mal para o pior”. O nome do líder da FFGB e do seu staff eram os mais audíveis nas instâncias judiciais, até houve medida de coação a alguns suspeitos inclusive o presidente, e outros membros foram obrigados a devolver algum montante supostamente mal usado.
Depois das denúncias do Inum Embalo e da reação das entidades judiciais perante a situação da federação, foi a vez de alguns clubes de futebol se juntarem a voz em julho do corrente ano, pedindo a demissão dos atuais dirigentes da FFGB, alegando que não podem continuar a ser dirigidos pelas pessoas que estão sob alçada da justiça.
O Coletivo de de Clubes Comprometidos com a Verdade Desportiva, na minha opinião jogou um papel importante na clarificação de alguns assuntos e talvez os dirigentes da Federação sentiram um pouco da pressão, contudo, este colectivo devia ter tomado esta posição antes, porque foi apenas há 1 ano depois de reeleição do atual presidente da Federação que este coletivo surgiu, e julgo que se estes clubes estivessem comprometidos com a verdade desportiva na altura, talvez o presidente da Federação não iria ser reeleito e nem estaríamos nessa geringonça porque tais clubes estão a reivindicar a falta de clareza na gestão dos fundos, algo que não é novo.
É bom refletirmos nas seguintes questões ao abordar a essência deste coletivo:
- Será que a atual direção da FFGB antes da sua reeleição, prestou todas as contas e estas foram aprovadas na Assembleia Geral?
- Por que voltar a acreditar num projeto que não presta contas?
- Onde é que estavam estes clubes?
Hoje assistimos o boicote de alguns jogos do campeonato nacional por parte dos clubes integrantes do coletivo acima referido, facto que a Federação de Futebol já está a ter mão dura e Sonaco recém-promovido à primeira divisão, foi despromovido devido a falta de comparência em dois jogos.
É autêntica vergonha assistir uma pinóia deste tamanho, numa altura em que o futebol nacional devia seguir outros rumos mas não foi capaz de progredir. Os melhores passos dados foram passos laterais – “passos sem progresso” – e com fraca frequência, quase constantemente dando passos à retaguarda, mergulhado este setor que talvez muitos como eu, também pensavam que o ano 2017 podia ser ano de salvação, mas que passou a ser ano de divergência em torno do “Dinheiro”, uma vez que o foco devia ser discussão de programas/projetos que visam o relançamento deste setor.
Os dirigentes de futebol guineense não souberam aproveitar da nossa participação no CAN 2017 para relançar o futebol nacional. Foi a oportunidade ímpar para que pelo menos o futebol nacional conhecesse novos rumos mesmo sendo insignificantes, até que em todos os países que participaram no CAN-2017 em Gabão, único país com o campeonato nacional ainda Amador, é a Guiné-Bissau.
O futebol nacional precisa de dirigentes comprometidos com a causa pública, e capazes de levar avante os desígnios desta instituição. Pela culpa dos clubes, a Guiné-Bissau perdeu a grande oportunidade de conhecer novos patamares ao nível futebolístico, é preciso que os clubes nacionais comecem realmente a pensar em dinamizar esta modalidade.
O futebol guineense só conhecerá os novos rumos quando os clubes forem capazes de se organizar internamente visto que tanta desorganização que se verifica na administração da Federação de Futebol, é o reflexo de desorganização dos clubes nacionais, porque são mesmos os clubes que entregam os destinos do futebol nas mãos destes dirigentes que pouco dizem nesta área até então. Para quando a Guiné-Bissau terá de novo uma oportunidade de se relançar no futebol? Na minha óptica, é autêntica vergonha ver o nível de competitividade do nosso campeonato nacional. É vergonhoso que um país que participou na maior competição de seleções ao nível do continente africano, continue a ter um campeonato interno talvez menos competitivo que o campeonato inter-bairros.
Espero que no ano que se avizinha, o futebol nacional encontre novos rumos, e que haja projectos credíveis capazes de revolucionar este sector. Que os dirigentes consigam encontrar soluções viáveis por via de diálogo franco, acabando duma vez por todas com a crise e desta forma tirando o futebol nacional no caos que se encontra.
Saudações desportivas!
Festas Felizes!
Oriol, Rússia, 28 de Dezembro de 2017.
Por: GERVÁSIO JOSÉ FRANCISCO LOPES
Estudante guineense na Federação Russa e editor do portal desportivo nacional SOU DJURTU.
Boa meu menino
Certo meu socio, boa reflexão eu nunca me duvidei quao determinação você é. Hoje voce me mostrou mais um esforço, dedicação e vontade para dar as suas contribuições no que se refere ao desenvolvimento do nosso país.
Isso mesmo,e continue mais para frente