[REPORTAGEM] O Comité de Fanhe, uma tabanca localizada a 22 quilómetros do setor de Nhacra, região de Oio, pediu a intervenção urgente do Estado na recuperação das bolanhas para o cultivo do arroz inundadas pela água salgada na época chuvosa de 2017.
O pedido de Calisto Meste foi feito à margem da demonstração cultural do grupo cultural Netos de Bandim do ‘Carnaval Fora de Tempo’, realizada no passado dia 17 de fevereiro de 2018.
Para além de apoio para a recuperação das bolanhas, a tabanca local exige do Estado guineense a construção de um Centro de Saúde que permita que as autoridades sanitárias saiam do pequeno ambulatório instalado na escola pelos italianos e que apenas tem um Agente de Saúde Comunitário (ASC), mas sem uma formação superior.
A missão do Agende resume-se apenas a dar primeiros socorros a cerca de oitocentos (800) habitantes. No caso de doenças graves que ultrapassem a capacidade do Agente de Saúde Comunitário, o paciente é evacuado para Nhacra, porém não têm meio de transporte disponível para o efeito.
Os cerca de 800 habitantes vivem essencialmente da agricultura e de cria de gado bovino. Depois que a Associação Amigos da Guiné-Bissau começou a intervir na tabanca, já foram construídas cinco (5) bombas manuais de água em diferentes zonas. Mesmo assim, os habitantes continuam a queixar-se de falta de água potável que, segundo dizem, é responsável de vários casos de doenças diarreicas que dão entrada no pequeno ambulatório, sobretudo casos relacionados em crianças menores de cinco anos de idade. Quando são casos graves, podem perder a vida devido à má qualidade da água consumida.
Num tom sentimental e de desespero, Calisto Meste lançou um grito de socorro às autoridades no sentido de colocarem professores para lecionar os níveis de 7º a 9º ano de escolaridade.
“Queremos reforçar o nosso pedido junto às autoridades. Já temos salas de aulas prontas. Precisamos apenas de professores que vão ensinar os nossos filhos. Muitos acabam por desistir no meio do ano ou quase no fim, porque não estão em condições de todos os dias andar quatro (4) quilómetros ida e volta para assistir as aulas em Dugal”, lamentou Calisto.
Além da preocupação da falta de professores, a comunidade local depara-se também com outras inquietações desde falta de centro de saúde e de uma estrada. Aa inundações por água salgada, segundo Comité, arruinaram a colheita da campanha agrícola do ano passado – 2017.
A aldeia de Fanhe nos arredores do setor de Nhacra, região de Oio, norte da Guiné-Bissau, a cerca de 45 quilómetros da capital Bissau, vive isolada em termos da presença do Estado. Graças a instalação desde 2014 da organização italiana Associação Amigos da Guiné-Bissau, mobilizada por um dos filhos da tabanca que estudou na Itália, a tabanca beneficiou de uma escola denominada Nicola Leali que leciona de jardim a sexto ano.
Em 2017, a Associação construiu e equipou um pavilhão de três turmas para os níveis e nono (7º, 8° e 9° ano), mas até este momento não estão a funcionar devido à falta de professores, facto que deixa os habitantes locais muito preocupados, tendo em conta o fluxo de crianças que abandonam a escola por percorrerem a pé quilómetros e quilómetros até a escola que leciona os níveis de 7º, 8° e 9° ano.
Os habitantes da tabanca de Fanhe queixam-se também da falta de presença das autoridades, sobretudo de deputados eleitos no círculo eleitoral número 08, que representam a zona.
POPULAÇÃO PEDE AJUDA PARA LOCALIZAÇÃO DE SEUS DEPUTADOS
A juventude local que assistia ao evento de demonstração do grupo cultural Netos de Bandim aproveitou a presença da imprensa para manifestar a sua indignação face à ausência dos deputados eleitos naquele círculo eleitora.
O dístico exibido pelos jovens, o que surpreendeu a maioria dos presentes, tinha dizeres em crioulo “Bo Djudano Localiza Deputados de Circulo 08”, que em tradução livre significa: ajudem-nos a localizar os deputados do Círculo 08, para manifestar a sua frustração face à ausência do Estado.
Os jovens recusaram prestar quaisquer declarações à imprensa para expressar a revolta que dizem sentir devido a ausência do Estado naquela aldeia. Limitaram-se apenas a exibir o dístico aos jornalistas interessados em registar o momento em câmaras fotográficas e de vídeo.
Por: Filomeno Sambú/Carlos Amadu Baldé
Foto: CAB