O líder do Partido Social Democrata da Guiné-Bissau (PSD) afirmou esta segunda-feira, 12 de março, que o país está refém de José Mário Vaz, de Braima Camará, a quem chamou de chefe dos rebeldes do PAIGC e Botche Candé, porque são todos empresários. Ou seja, que o país está entregue a “abutres”.
Em entrevista ao semanário “O Democrata” para abordar a questão do impasse na formação do executivo pelo Primeiro-ministro Artur Silva, apesar de o seu convite ter sido recusado por todos os partidos com assento no parlamento, bem como a possibilidade de um eventual pedido de demissão, António Samba Baldé alertou que um pedido de demissão não vai resolver a crise política, porque há exemplos anteriores de chefes de governos demitidos ou que se demitiram e que resultaram em nada.
Na mesma entrevista,Samba Baldé diz ter acreditado antes da nomeação de Artur Silva que os dois teriam chegado à conclusão que era preciso mais envolvimento do Presidente da República no sentido de ajudá-lo na busca de uma solução para o fim da crise. Segundo o presidente do PSD, apesar de tudo José Mário Vaz continua intacto, não fazendo absolutamente nada para encontrar uma solução, devido aos compromissos que assumiu com os “rebeldes do PAIGC”- (os 15), assinalando que cada vez que pensa tomar uma decisão não consegue porque está encurralado.
António Samba Baldé é da opinião que Artur Silva não deve demitir-se, porque cada vez que o Presidente da República demite um governo isso torna-se num fundamento para nomear novo executivo. Apesar disso a crise nunca terminou. Afirmou que o país não vai à lado nenhum e a crise está a aprofundar-se cada vez mais, porque os grandes empresários são detentores de órgãos da soberania e não pagam impostos ao Estado.
“Querem só lucros. O Estado vive de rendimentos e se os rendimentos são desviados… Portanto é bom que os partidos políticos não admitam empresários como políticos nas suas listas”, aconselhou.
No seu entendimento, José Mário Vaz devia ter coragem de chamar a direção do PAIGC para que ambos remedeiem as falhas cometidas e mostrar ao Partido de Renovação Social (PRS)-partido que o suportou durante todo o tempo-que ainda é tempo de as partes reconsiderarem as suas posições para encontrar uma solução.
António Samba Baldé deixou claro que, se o PSD fosse o PRS, não assumiria a postura que os renovadores assumiram nesta crise. Contudo, reconheceu que a luta política, ou seja, um dos objetivos da política é chegar ao poder, mas sublinhou que essa luta tem que ser ética.
Em relação aos esforços que o PSD tem feito para que as partes envolvidas encontrem uma solução, o político guineense lembrou que desde os primeiros momentos defendeu que a solução passaria pela criação de um pacto de estabilidade com duração de 18 anos para resgatar “os grandes desígnios nacionais”,criar um governo democraticamente estabelecido capaz de levar em consideração “o que é o coletivo nacional”, procurar um consenso nacional a partir de todas as estruturas do Estado, todas as classes da sociedade guineense e definir em cada setor o que é prioritário, incluindo a reforma da função pública, não apenas nos setores da defesa e segurança.
Neste sentido, disse que os sociais democratas, desde o início da crise, sempre procuraram ser centristas, defendendo que o poder fosse devolvido ao PAIGC, como vencedor das últimas eleições legislativas e que Domingos Simões Pereira chefiasse o governo, independentemente de ser arrogante ou não, porque foi ele a quem o povo confiou o poder.
“Todos os atos decorrentes da sua governação, se cometer corrupção ou roubar dinheiro do Estado,deveriam ser julgados. Ou seja, se houvesse elementos que provassem o seu envolvimento em corrupção ou roubo, ele deveria ser conduzido à justiça para provar o contrário”, assinalou.
O líder do PSD propõe por isso a seleção de uma figura isenta aceite não só pelos partidos políticos com assento no parlamento, sobretudo PAIGC e o PRS, mas também pelo Presidente da República e pela comunidade internacional para chefiar o próximo governo. Propõe igualmente a escolha de três ou quatro indivíduos minimamente isentos para dirigir três ou quatro pastas consideradas polémicas.
Para António Samba Baldé, José Mário Vaz deve esquecer o roteiro que criou e procurar soluções para o fim da crise internamente. Contudo, sublinhou que o Acordo de Conacri não deve ser tido como o centro de tudo, mas também não deve ser excluído a cem por cento da história.
No seu entendimento, as sanções da CEDEAO aplicadas a 19 figuras guineenses é prova evidente de que os guineenses são vistos como “pessoas pouco sérias e de cultura de guerra” e duvida que o castigo do bloco sub-regional mude grande coisa.
António Samba Baldé desafia o Estado guineense a investir no setor do turismo, porque acredita que o turismo pode cobrir cerca de quarenta por cento do Orçamento Geral do Estado. O líder do PSD disse que se o seu partido for governo, acabará com o processo de atribuição de licenças de pesca e passará a emitir apenas autorizações e controlar os navios autorizados a pescar nas águas do país, bem como criará“grandes infraestruturas” de controlo no terreno. Concomitantemente, aplicará multas aos infratores e a todas as violações ou irregularidades que ocorram no mar.
Por. Filomeno Sambú
Foto: A.A