LITERATURA GUINEENSE: “DJUNDA – DJUNDA”

A velocidade dos avanços da ciência nos dias atuais, quer nos países do hemisfério norte, quer nos países do sul do hemisfério, implica que o ser humano, em particular, o guineense deve evoluir nas suas ações e realizações. Evoluir no sentido positivo, sobretudo no que diz respeito à ciência e ao saber.

Por conseguinte, os atores (político e social) guineenses devem ser testemunhos dessa evolução, sob pena de continuarmos nessa Djunda-Djunda que nunca mais acaba, refiro-me, concretamente, aos movimentos literários que foram criados ultimamente, como sejam: AEGUI – Associação de Escritores da Guiné-Bissau, AGE – Associação Guineense de Escritores, entre outras…

Na verdade, as associações são criadas para a defesa dos interesses de uma determinada classe, baseada na criação de sinergias com as associações congéneres para o desenvolvimento das suas atividades.

Entretanto, as associações de escritores não fogem a essa imperiosa regra, até porque, vale salientar que a história do movimento literário guineense foi marcada, numa primeira fase, pela influência do mono-partidarismo do PAIGC… por exemplo: a UNAE, cuja matriz estava, ideologicamente, baseada na filosofia do partido libertador. Há quem diga que a “Guiné-Bissau não dispõe de um movimento literário, mas temos assistido os autores “isoladamente em movimento”, deambulando de lá para cá, abandonados à sua própria sorte para conseguirem publicar suas obras.

No âmbito da comemoração do dia mundial da poesia, testemunhamos uma justíssima homenagem ao músico, poeta, compositor e intérprete, Adriano Ferreira, vulgo “Atchutchi”.

Ora, creio que esse tributo deve nos servir de reflexão sobre a forma como os literatos guineenses têm conduzido o processo da sua emancipação nacional e internacional.

Porquanto, julgo que há toda uma necessidade de unirmos esforços numa única associação, visando representar condignamente a classe literária guineense.

Por acaso, apetece-me perguntar à qual associação de literatos competia homenagear Adriano Ferreira? Quem deve proferir discursos solenes em nome da associação de escritores? Será que vale a pena continuarmos nessa Djunda-Djunda entre diferentes gerações de literatos?

Pelo sim, pelo não, a oportunidade de mudarmos esse “cenário” é agora…Pois, se noutras organizações que defendem certas classes sociais, como professores: existem dois sindicatos; além da UNTG, há também sindicato independente, na classe jurídica, há duas associações de magistrados, etc. Até parece que “gostamos” de emitir e importar aspectos negativos do exterior.

Confesso que sou admirador dos literários guineenses, pelo esforço que despendem para pensar e criticar, socialmente, a terra que lhes viu nascer.
Confesso que não admiro a forma com tem sido gerido a criação de movimentos literários no país, na medida em que, os meandros das suas criações demonstram certo “protagonismo” geracional e emocional em face à real necessidade dessa organização de interesse nacional.

Essa espécie de Djunda-Djunda em nada abona ao favor do interesse da classe dos literatos guineenses, pois djintis tem ku sinta pa pabia sobre nossa cultura, em sua plenitude. Entre os princípios que julgo serem necessários caracterizar o encontro de gerações de literatos guineenses, elegemos diálogo franco e sem complexo, num contexto de troca de saberes e experiências; abertura das partes interessadas no desenvolvimento da literatura guineense em face aos novos desafios que a cultura tem que abraçar kinti-kinti. ​

Conterrâneos, precisamos reflectir sobre o papel que os literatos desempenharam ao longo do processo de luta pela nossa independência. Somente dessa maneira poderemos, juntos, continuar a ter o orgulho de homenagear personalidades, como Adriano Ferreira, porque a adaptabilidade do ser humano aos novos desafios deve ser permanente, para poder acompanhar a evolução da cultura e da ciência.

A mudança do comportamento e de atitude é fundamental para a definição desse novo homem literário guineense, onde os valores como a tolerância, moderação e responsabilidade devem ser privilegiados.

Nô djunta nô mama!

Opinião de Santos Fernandes
Bissau, 25/08/2014

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