Pode parecer irônico, ou até mesmo caricato, o título do presente artigo, devido aos persistentes comportamentos “inadequados” dos líderes políticos guineenses, no que tange à má gestão da “coisa pública”.
Curiosamente, falar da liderança política guineense significa “papiar”* sobre a “ambição”, a “paixão”, o “ego”, a “crença”, a “ideologia” e, não menos importante, o “desequilíbrio” emocional dos nossos líderes políticos, no que concerne à tomada de decisão política, sobretudo.
Esse conjunto de comportamento “irracional” e “fora-de-série” que, em outras palavras, significa uma espécie de atitude e ação com elevada carga de “emoção” e que, por sinal, são manifestadas através do seguinte “modus operandi”:
– Promessas vazias;
– Populismo político;
– Instrumentalização (política, social, étnica, comunitária, religiosa), etc;
– Partidarização do aparelho do Estado.
– Promoção da falta de confiança entre os atores políticos.
Ora, as emoções são os impulsos e os legados voltados para evolução, para uma ação imediata, para planeamentos instantâneos que visam lidar com a vida, seja ela (individual ou coletiva).
A própria raiz da palavra emoção é do latim “movere” – “mover” – acrescida do prefixo “e-“, que denota “afastar-se”, o que indica que, em qualquer emoção, está implícita uma propensão para desenvolvimento de ações imediatas, “tout court”…
Em nosso repertório emocional, cada emoção desempenha uma função específica, como revelam suas distintas assinaturas (quer biológica, quer estrutural).
Em se tratando da “emotiva liderança política guineense”, tomemos o exemplo do PAIGC – partido histórico – que vem acumulando, ao longo de vários anos, um conjunto de “descontentes” e “dissidentes”, por causa da concentração do poder da sua “minoria fundadora”.
Em consequência desta prática, as lideranças provenientes das “massas do povão” foram ficando, cada vez mais, “descontentes e afastados” das estruturas da esfera da liderança partidária.
O falecido presidente, Kumba Ialá, por exemplo, ao deixar de pertencer às fileiras do partido libertador, levou consigo a força do seu grupo étnico, a massa mais “descontente” na altura, nos idos anos (80-90).
Por outro lado, os “15”, que já se faziam presentes no, então, PAIGC, ficaram no partido libertador, mas sempre “inconformados” com a sua condição de subordinação.
No entanto, tentaram colocar o camarada falecido presidente, Malam Bacai Sanha, na liderança do Partido, tanto contra a liderança do carismático, “Nino” Vieira, assim como contra a liderança do empresário “CADOGO” Jr.
Contudo, não conseguiram, porque os outros se uniram contra eles.
Inclusivamente, o “CADOGO” Jr ainda conseguiu recuperá-los para o Governo (2008-2012). Voltaram a “falhar” e “perderam”, em 2014, quando tentaram eleger o Braima, em Cacheu.
Porém, desta vez, parece que ficou “impossível” uma possível reconciliação com a direção do partido, liderado por Domingos Simões Pereira. E a ruptura foi total, culminando com a recente criação do “MADEM-G15”.
Há, por conseguinte, sérios riscos de o PAIGC se tornar “minoritário” no hemiciclo, se perder a sua maior base eleitoral.
Se se considerarmos que dos sessenta e sete (67) mandatos conseguidos sob à liderança do “CADOGO” Jr, em 2008, o PAIGC perdeu, em 2014, dez (10) mandatos por conta das consequências do golpe de (2012).
Significa que se essa tendência prevalecer, haverá “perdas” de mais mandatos (…).
À luz dos resultados de estudos promovidos pela ONG “DEMOS” (2018), sob à encomenda da delegação da União Europeia na Guiné-Bissau, o PAIGC poderá eleger (43%) de mandatos, na próxima legislativa.
O que nos permita prever e reafirmar que este partido não terá as maiorias (relativa, absoluta e, muito menos, qualificada).
Haver vamos!
Resumidamente, os inúmeros comportamentos que espalham as diferentes manifestações de “cargas emocionais”, subjacentes aos principais líderes políticos guineenses, podem ser sintetizados numa única FRASE:
“MUITA CARGA EMOCIONAL e POUCA CARGA RACIONAL”.
Infelizmente e perante estes factos, tudo indica que será, ou vamos ter, a prevalência do “status quo”, nos próximos tempos, na medida em que tem havido uma sistemática “luta pelo protagonismo a todo custo, pelos mesmos atores e pelos mesmos protagonistas de sempre”…
Apenas uma opinião!
Por: Santos Fernandes
Bissau, 20/7/2018
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*Papiar: significa, no crioulo guineense, falar, debruçar ou abordar determinado assunto.
Acrescento, Papiar, significa ter Liberdade de falar é um direito de todos. O sr. Nos esclareceu origem de todos os conflitos políticos e armadas que tem vivido consequentemente no nosso país(Guiné-Bissau) o autor de tudo isso é o PAIGC, a máquina de conflito. Na minha opinião para acabar com tudo,é descentralização do do poder. Irmão as suas ideologias, na verdade serve muito na resolução dos nossos problemas, assim o país pode encontrar o futuro melhor.Os meus agradecimentos.
Descentralizar & municipalizar a gbissaw…