[REPORTAGEM] Os comerciantes e proprietários de pequenos estabelecimentos de negócios no sector de Bubaque, região de Bolama/Bijagós, sul do país, queixam-se da falta das embarcações de cargas para transporte dos produtos da capital Bissau para a ilha, bem como da ausência de transportes públicos na ilha que facilite as suas movimentações com os produtos a nível daquela pequena cidade como também para outras ilhas que constituem o arquipélago.
O sector de Bubaque faz parte das 88 ilhas e ilhéus do arquipélago dos Bijagós. O setor administrativo de Bubaque é constituido por 22 ilhas habitadas e tem uma superfície de 2.173,06 quilómetros quadrados e uma população estimada em mais de 26 mil habitantes, segundo os dados da direcção regional de saúde.
A viagem para a ilha neste momento é feita por dois barcos que fazem a ligação à capital Bissau duas vezes por semana, mas para a população, em particular os comerciantes e proprietários de empreendimentos hoteleiros acham que é insuficiente tendo em conta a sua característica turística.
COMERCIANTES RECORREM AOS MOTO-TAXIS PARA TRANSPORTE DE CARGAS NA CIDADE
A repórter constatou no terreno que a maioria das viaturas que se encontram naquela ilha é das instituições públicas e das organizações não-governamentais. Os poucos moto-taxitas existentes encarregam-se de fazer o serviço de transporte de cargas, incluindo de um número reduzido das pessoas.
A agricultura e pesca são a maiores atividades praticadas pelas populações locais. A atividade comercial fica na terceira posição. As grandes dificuldades lamentadas pelos comerciantes ouvidos pela repórter do semanário “O Democrata” têm a ver com a falta de transportes públicos (carros) para facilitar as movimentações das populações como também dos próprios comerciantes que podiam deslocar-se com os seus produtos.
Abulai Suma, um dos comerciantes entrevistados pela repórter, explicou que exercer atividade comercial na ilha de Bubaque é “muito difícil” dado que é uma zona insular com enormes problemas de subdesenvolvimento, sobretudo a nível das infrastruturas rodoviárias, facto que segundo ele, limita o uso de viaturas naquela cidade.
Acrescentou que ausência de viaturas para transporte público, como por exemplo, camiões para transportar castanha de cajú e outras mercadorias, complica atividade comercial, em particular no período da campanha de comercialização da castanha de cajú.
“Este ano perdi mais de 500 (quinhentos) sacos de arroz que se estima em milhões de francos cfa, bem como outros produtos, por causa de naufragio da piroga. Esta é uma das dificuldades que os comerciantes enfrentam devido à falta de embarcações de cargas, pelo que somos obrigados a transportar os nossos produtos nas pirogas. Estou a recomeçar de novo a atividade comercial graças ao apoio dos meus familiares e amigos, mas o preço praticado este ano para a compra da castanha não nos ajuda neste sentido e acaba por nos prejudicar”, lamentou.
Explicou que o arroz que perdeu no mar tinha sido comprado para fazer a troca com a castanha de cajú, tendo assegurado que já tinha pagado o aluguer da piroga e, por isso perdeu duas vezes, ou seja, perdeu o arroz e outros produtos e mais o dinheiro de aluguer da piroga.
“Se tivéssemos um barco que fizesse a ligação da capital Bissau a Bubaque, pelo menos três ou mais vezes por semana, isso ajudar-nos-ia muito e ajudaria o próprio desenvolvimento turístico da ilha”, disse.
O comerciante informou durante a entrevista que os barcos que fazem a ligação actualmente de Bissau/Bubaque não conseguem transportar grandes mercadorias por causa do seu tamanho como também devido ao preço estipulado para as mercadorias, que no entender dos comerciantes, “é muito caro”.
“Havia dois barcos, um chamado ‘Baria’ e outro ‘Pexice’ que ajudavam no transporte dos produtos tanto de Bissau para Bubaque como de Bubaque para Bissau, mas os barcos estão com problemas técnicos e todos parados, por isso recorremos às pirogas para transporte de mercadorias”, espelhou.
Abulai Suma disse que conseguem vender aos poucos os seus produtos, não obstante a diminuição de clientes durante a epoca das chuvas, quando a maior parte dos hotéis fecham devido a pouca procura de turistas.
Relativamente às licenças (alvará) emitidas para o exercício de atividade comercial, explicou que os comerciantes pagam um valor não especificado para obtenção de Alvará que lhes permita exercer as suas actividades, como também pagam algumas taxas à administração local e pagam igualmente às finanças através da sua delegacia, de seis em seis meses.
“Pagamos às Finanças, de acordo com o volume do negócio. Uns pagam 15000 outros 20.000 fcfa. Os preços variam de acordo com o tipo de negócio e rendimento”, notou.
Questionado se os comerciantes não têm uma associação que defenda os seus interesses, respondeu que tinham uma associação que funcionava e muito bem, mas com a morte do responsável, ou melhor, da pessoa que dirigia a associação a organização acabou por “morrer”. Agora ninguém sabe de ninguém, pelo que cada comerciante luta para proteger o seu próprio negócio.
Lembrou que o responsável da associação era uma pessoa dinâmica, contudo diz não perceber a razão que levou os seus colegas comerciantes a deixarem morrer aquela organização.
Sobre a prática de roubo e que poderia prejudicar os comerciantes, explicou que regista-se muito pouco roubos na ilha, porque as forças de segurança conseguirem ter o controlo da situação. Frisou que no passado havia roubos e que se queixava, tendo porém actualmente não se registam queixas sobre casos de assaltos nem de arrombamentos de estabelecimentos comerciais.
COMERCIANTES “CHORAM” CUSTOS DE TRANSPORTE DA CASTANHA NAS PIROGAS
A presente campanha de comercialização da castanha de cajú não está a correr bem aos comerciantes da ilha, tendo em conta que deixou de ser praticado o preço de mil francos por quilograma anunciado pelo Chefe de Estado.
Contudo, alguns comerciantes da ilha, a semelhança dos das outras zonas do país, iniciaram a compra do ouro guineense (castanha) ao preço inicialmente anunciado pelas autoridades, mas acabaram por prejudicar-se porque não tinham compradores que lhes pagassem tal valor.
Abulai Suma explicou que no início da campanha pagou pelo kilo de castanha mil francos cfa, no entanto, a queda do mercado levou-lhes a praticar um preço muito inferior, razão pela qual alguns produtores decidiram não vender as suas castanhas, aguardando um melhor preço.
“Eu comprei a castanha, no início, a mil francos. Vou fazer de tudo para recuperar o dinheiro investido. Este ano praticamente perdi e muito nesta campanha, se tomarmos em conta os custos dos transportes para trazer até aqui as mercadorias”, lamentou para de seguida recordar que no ano passado conseguiu comprar a castanha até ao valor de 1200 francos cfa e conseguiu revendê-la a bom preço. Mas que este ano “comprou logo no início a mil (1000) francos cfa e revendeu aos grandes compradores a 600 por quilograma. Ou seja, à medida que o tempo passa está a perder valor”.
Assegurou que os ganhos são muito poucos, tendo em conta os custos de transporte dos produtos para fazê-las chegar ao porto de Bissau.
Recordou que antigamente a vida em Bubaque era fácil, mas agora tornou-se complicada, razão pela qual os produtos nacionais são vendidos ao mesmo preço que em Bissau.
“Já não há grande quantidade de peixes como dantes. O óleo de palma também é muito caro. Se tirar dois mil francos para o almoço em Bissau é o mesmo valor que vai disponibilizar aqui para ter um almoço”, vincou.
O comerciante aproveitou a entrevista para abordar a questão da falta de água potável que se regista na ilha, informando neste particular que os populares consomem apenas a água dos poços tradicionais. Acrescentou ainda que muitas vezes as mulheres são obrigadas a caminhar até ao hospital ou recorrer aos hotéis que têm electrobombas, para poder conseguir água potável.
Lamentou igualmente a falta da corrente eléctrica nas suas casas. Segundo a sua explanação, isso tem mais a ver com o elevado preço cobrado diariamente pelos gestores da central e que a maioria das famílias não consegue ter rendimentos que lhes permitam sustentar a electricidade de sete horas a mil (1000) francos cfa.
“No início, disseram-nos que o gerador era da população, mas a sua gestão está ser privada”, contou.
Dauda Djaló, vendedor ambulante, disse à repórter que se desloca à ilha para a atividade comercial apenas no período da comercialização de castanha de cajú, a fim de vender junto das comunidades os produtos comprados na Gâmbia e no Senegal.
Contou que costuma vender todos os anos desde o início da campanha de castanha de caju até o final, passando de aldeia para aldeia. Muitas vezes desloca-se a pé e outras de bicicletas adaptadas para poder carregar os seus bens.
“Nos primeiros tempos deste ano conseguimos vender mais, mas à medida que o preço foi baixando também começamos a ter dificuldades em vender os nossos produtos”, salientou.
Djaló, que ajuda igualmente os seus irmãos a vender no mercado, afirmou que na ilha não se registam roubos ou arrombamentos dos seus estabelecimentos, contudo, avançou que os roubos que sofrem são da parte dos clientes. Isso porque na hora de vender chegam muitos e cada um a experimentar os produtos. Naquelas circunstâncias descontrolam-se e alguns clientes acabam por roubar alguns produtos, mas assaltos ou arrombamentos não.
Lamentou as cobranças feitas pelas autoridades sectoriais bem como pelas delegacias sectoriais em representação do governo central. Explicou que mensalmente paga quatro mil francos cfa ao Comité e doze mil quinhentos francos cfa às finanças este ano.
Bubaque é uma ilha dominada por pescadores tanto nacionais bem como estrangeiros e cuja actividade predominante é a pesca artesanal devido às suas características naturais.
Outra preocupação registada pela repórter prende-se com a questão da venda de peixe, que na opinião dos locais o preço por kilo é muito elevado tendo em conta o nível de vida das populações. No entanto, soube-se que nos últimos tempos a administração local terá solicitado aos vendedores para baixar o preço, uma vez que os pescadores mantiveram o preço.
Geralda Có, vendedeira de peixe, explicou à repórter que antes compravam o gelo a 3500 (três mil quinhentos) francos cfa por saco de cinquenta quilogramas, mas agora com a fábrica nova, compram um saco de cinquenta quilos a 2500 (dois mil quinhentos) fcfa, mas frisou que é insuficiente.
“Muitos pescadores e vendedores não conseguem o gelo devido a capacidade limitada de produção da fábrica, o que faz com que os peixes se estraguem. Quando assim acontece, são reciclados e transformados em ‘casekés – peixe seco’ ou escaladas. Se conseguirem gelo conservam o pescado para ser vendido em Bissau. A maior parte do pescado é trazida para Bissau, porque ultrapassa o consumo da população local e muitos habitantes da ilha têm parente pescador”, espelhou.
Etiandra Oliveira Sanca, proprietária de restaurante que fica a 100 metros do cais de Bubaque, queixou-se igualmente das taxas que são obrigadas a pagar aos diferentes serviços do Estado.
Contou que paga o aluguer do espaço onde trabalha no valor de 20.000 Francos CFA, 5000 fcfa ao turismo, enquanto as finanças cobram 20. 000 fcfa de seis em seis meses e o Comité de Estado cobra uma taxa de 7500 (sete mil quinhentos) fcfa mensais.
Questionada sobre a inspecção do estabelecimento, explicou que ainda não há pessoal na ilha que se ocupe do serviço da inspecção, mas acrescentou que às vezes recebem orientações dos técnicos de Turismo.
Explicou que é difícil trabalhar em Bubaque devido a falta de transporte, tendo assegurado que naquela ilha quase tudo se paga, por isso no seu entender, “é complicado viver e trabalhar em Bubaque”.
“Pago mensalmente 30 mil francos cfa para a corrente electrica, isto é mil francos cfa por dia. É muito caro para a corrente disponivel apenas durante seis horas do tempo, das 19 horas às 02 horas de mandrugada. Antes bebíamos água do poço, mas agora temos água graças à fábrica de gelo. Compramos gelo à fábrica, cada balde a 250 francos cfa”, notou.
Em termos de segurança, disse que foram roubados duas vezes. O estabelecimento foi arrombado e tiraram-lhes algum dinheiro da caixa.
Por: Epifania Mendonça
Foto: E.M
@ O DEMOCRATA, Agosto 2018
A reportagem foi boa mais faltam ainda para entrevistar, Saúde, educação e Proteção.