ADMINISTRADOR DO IPT APOSTA NA FORMAÇÃO DE ESTUDANTES PARA SERVIREM O PAÍS

[ENTREVISTA] O administrador delegado do Instituto das Profissões e Tecnologia (IPT), Martilene dos Santos, disse que o institutque dirige apostou na formação de jovens estudantes guineenses para servirem a Guiné-Bissau. Dos Santos concedeu uma entrevista exclusiva ao semanário “O Democrata” para abordar a forma do funcionamento do instituto e dos cursos técnicos que serão ministrados.

“Um curso de formação técnico-profissional é mais custoso que um curso universitário. Para ter uma formação técnica é preciso um laboratório para pôr a mão à obra, portanto é mais prático do que um curso teórico e requer equipamentos. Ao nível da Europa, por exemplo, dá-se maior ênfase a cursos técnico-profissionais”, informou o administrador para de seguida avançar que os cursos terão a duração de três anos.

Sobre a seleção de professores que lecionarão no instituto, explicou que vão trabalhar na base das regras estabelecidas,regras muito duras e critérios rígidos na seleção dos professores, dado que apostam na competência.

Fazendo parte da família a que o IPT pertence, um grupo conceituado e já aceite em termos de qualidade de excelência, o IPT Guiné Bissau não fugirá à regra. Por isso vamos formar os alunos para serem competitivos ao nível global, porque estamos num mundo integrado e globalizado. Esta é a nossa visão”, notou.

O Democrata (OD): O instituto vai implementar mais de dez cursos técnico-profissionais na Guiné-Bissau e a maioria é pela primeira vez. Que estratégias o instituto pretende usar para influenciar os jovens a se inscreverem.

Martilene dos Santos (MS): É uma questão muito interessante. O IPT, como a doutora Teresa dizia, marca uma mudança de estado de paradigma. A nossa forma de ensinar é tirar o aluno da caixa, ou seja, uma educação tradicional. Chegarmos e termos um professor a escrever no quadro e os alunos a escreverem, falar e os alunos a escreverem, não. Queremos marcar a diferença, fazer os alunos acreditarem que, hoje podem ir para além daquele modelo de ensino.

Esta mudança será o nosso ponto forte, mas só conseguiremos este desempenho com o esforço de todos os atores a nível da comunicação social e da opinião pública, em geral. É claro que a mudança é um processo e nunca é fácil, mas só com ela se consegue progressos.

O IPT atuará sempre nesta linha. Apresentamos cursos novos, mas são fundamentais para o arranque do desenvolvimento do país. Se reparem, temos cursos de serviços, da área das pescas, da agricultura, etc.

Porque temos a consciência de que a grande parte da nossa população depende e/ou vive da agricultura e se conseguirmos sensibilizar, formar e capacitar a nossa população nessas áreas,poderemos ser um ingrediente fundamental no crescimento de produção nacional. É óbvio que fazendo isto estaremos a contribuir para o crescimento da nossa economia, combater o desemprego, criar mais esperanças e motivação à população.

OD: São mais de dez cursos técnico-profissionais. O instituto já tem um Curriculum Escolar adequado à realidade guineense?

MS: O nosso grupo é o maior grupo lusófono na área de ensino técnico-profissional, universitário e científico. Temos um Currículo integrado, que resultou das experiências das escolas que temos nas outras paragens. Aqui internamentetentaremos fazer uma integração para dar melhor formação. Além disso, o IPT tem uma valência ou performance muito importante que é a dupla certificação, isto é, os nossos alunos serão preparados para continuarem o ensino superior. Todo o aluno que sai do IPT terá a equivalência a nível global, mas a nossa primeira aposta é formar os alunos para que sirvam a Guiné-Bissau e sejam alunos competitivos. Para nós o “Céu é o limite” e queremos começar este desafio agora.

OD: Alguns cursos práticos exigem, na prática, aulas práticas e casos práticos. O IPT estará à altura de corresponder às exigências?    

MS: O IPT está e sempre esteve à altura desses desafios. Temos centros de cursos, nomeadamente, bibliotecas, livraria e centro informático apropriados para corresponder a esses desafios, portanto preparamo-lo pesando nos desafios atuais.

OD: O IPT tem parcerias com instituições públicas, nomeadamente, nas áreas da agricultura e saúde. Como pôr tudo isso funcionar?

MS: Temos vindo a fazer essa divulgação e comunicação de parcerias, mas o IPT só consegue ter sucesso se conseguirmos ter, como disse  pouco, parcerias com as rádios privadas e as entidades públicas. Repara que nós queremos contribuir para o desenvolvimento do país, e isso só se consegue também com formações de capacitação dos nossos servidores públicos e privados.

OD: IPT quer fazer os jovens guineenses sonharem com formação técnico-profissional, sobretudo no campo da informática de ponta. E em relação aos critérios de seleção dos professores?

MS: Estamos neste momento a fazer seleção dos professores. Os nossos critérios serão bastante competitivos e atraentes também. Fazendo parte da família a que o IPT pertence, um grupo conceituado e já aceite em termos de qualidade de excelência, o IPT não fugirá à regra. Por isso vamos formar os alunos para serem competitivos a nível global, porque estamos num mundo integrado e globalizado e esta é a nossa visão. O que quer dizer que temos que ter também professores à altura. E para sermos coerentes a nível interno para todos os efeitos, temos bons professores.

Neste momento temos equipas de coordenações bem constituídas e que estão a trabalhar connosco, professores nacionais bastante bons e também estrangeiros. Temos que avaliar as nossas capacidades, porque é verdade que ninguém é bom se não consegue acompanhar o desenvolvimento. O IPT vai criar essas condições para que os seus professores possam acompanhar esse desenvolvimento. Vamos promover ações de formação permanentemente por videoconferências, formação constante e troca de experiências.

OD: Em relação à duração dos cursos?

MS: Os cursos terão um período de duração de três anos. Temos um curso de Software, porque queremos ter cursos à medida. Por exemplo, podemos receber uma solicitação de um produto devido a um crescimento exponencial que estamos a assistir agora em reserva de quartos de hotéis. Esses hotéis para poderem responder às exigências atuais (do mercado) precisam de quadros qualificados. 

Vamos, nesta linha de ideias, estabelecer parcerias com as unidades hoteleiras interessadas e fornecer-lhes cursos intensivos. Temos um curso que é de registo notariado e já tivemos algum contato com o ministério da justiça por causa dos conservadores para podermos adiministrar essa formação. Vamos estar bastante ativos no mercado, porque o objetivo do IPT é criar melhores condições tanto para os guineenses como para a própria Guiné-Bissau. O nosso plano é formar e capacitar os servidores públicos.

OD: Há possibilidade de os alunos usufruírem de bolsas de estudo atribuídas pelo IPT?

MS: Sim. Estamos a trabalhar nesta matéria, o IPT uma componente social muito forte. Uma escola com um projeto educativo tem que ter uma componente social.

OD: No caso concreto de os agricultores e de algumas daquelas pessoas que podem não ter meios e que queiram um curso?

MS: Serão cursos assessorados. É verdade que estamos perante algum descrédito deste setor. Quando falamos dos funcionários da agricultura, as pessoas tendencialmente não reagem… Mas grande verdade é que quando começarmos a criar subsídios para estes cursos como bolsas, por exemplo, talvez venhamos a ter uma nova geração a querer acreditar e dar outro impulso ao setor. Isso fez parte da nossa preocupação inicial quando fizemos a conceão dos cursos.

OD: Tecnicamente, como se pode subsidiar um curso?

MS: Vamos supor que precisamos fazer formação para os agricultores de Bafatá ou Empada. Vamos abrir o processo decandidatura e os candidatos serão avaliados. Os que preencherem os requisitos atendidos. Isto interessa-nos muito porque temos uma componente social muito forte. Portanto este princípio de inclusão leva-nos a isso. Não queremos centralizar tudo em Bissau, por isso temos um plano harmonizado que nos permitirá chegar além.

OD: IPT está a pensar instalar um projeto voltado à agricultura. Será que terão a capacidade de alojar, em Bissau, jovens que saem do interior e que eventualmente não tenham familiares próximos para suportar os seus  encargos?

MS: A nossa sociedade está constituída de uma forma muito integrada, qualquer pessoa em Gabú tem um familiar em Bissau. Uma pessoa que tenha bolsa e um subsídio, conseguirá um sítio para se alojar em Bissau e fazer o curso. Nesta fase não podemos pensar em dar alojamento aos alunos. Podemos, sim, dar algum subsídio, porque para nós a bolsa, se calhar, é uma forma de isentar das propinas um determinado aluno

É verdade que estamos entendidos, normalmente a rede familiar que temos aqui comporta esta situaçãoQuem vem de Gabú, tem um primo em Bissau que o acomoda. É a nossa realidade e graças a Deus vale-nos isso. Mas vamos ter sempre em consideração essa componente. A nossa preocupação de inclusão leva-nos a isso. O nosso país tem que ser mais integrado, mas a integração passa necessariamente pela capacitação dos alunos.

OD: Qual é o custo real para fazer um curso em três anos no IPT?

MS: Para ser sincero, um curso de formação técnico-profissional é mais custoso que um curso universitário. Para ter uma formação técnica, é preciso um laboratório para pôr a mão à obra. Portanto, é mais prático do que teórico e requer equipamentos. Ao nível da Europa, por exemplo, dá-se maior ênfase a cursos técnico-profissionais.

Em Portugal, por exemplo, um electricista ganha mais do que um advogado, mas estou a falar só de Portugal, isto é, para termos a mínima ideia porque é um país mais próximo. A propina mensal inicial estabelecida era de trinta mil francos CFA, mas temos estado a analisar várias propostas em função das parcerias que temos.

Temos alguns empresários e entidades que já manifestaram o interesse em financiar as bolsas, por isso estamos a ponderar ajustar as coisas em função do pacote, mas neste momento temos esta média de trinta mil francos CFA. A resposta às inscrições tem sido positiva e a abertura no ano letivo 2018/2019 será a 17 de outubro. Até lá esperamos inscrever um número significativo de alunos.

OD: Qual será a capacidade da escola?

MS: Estamos a contar em ter mil e duzentos alunos, mas no primeiro ano não. O número inicial previsto era de trezentos alunos. Repara que não queremos passar a ideia de que o que nos interessa é fazer alunos. Os alunos para se inscreverem têm que passar por uma fase de seleção. É verdade que ninguém, a priori, é excluído, porque o que interessa também é conhecer as dificuldades do aluno

Conhecendo-as, saberemos trabalhar melhor o aluno e a partir daí procuraremos saber se tem ou não a capacidade para primeira, segunda ou aterceira opção. Tudo isso tem a ver também com o rigor, porque não podemos falar da excelência sem falar do rigor. Portanto, são combinações que temos que seguir para termos o sucesso que almejamos.

 

 

 

Por: Assana Sambú/António Nhaga

Foto: Marcelo Na Ritche

 

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