[ENTREVISTA] O presidente do Grupo Lusófona que tutela a Universidade Lusófona da Guiné (ULG), Professor Doutor Manuel de Almeida Damásio, disse esperar ver um salto qualitativo da Guiné-Bissau com a contribuição dos milhares de estudantes formados pela Universidade Lusófona da Guiné. O responsável do Grupo Lusófona falava numa entrevista exclusiva ao semanário “O Democrata” para abordar o projeto (Universidade Lusófona da Guiné) criada no país há 20 anos, onde se formaram, até a presente data, mais de dois mil guineenses que atualmente servem o país nos diferentes setores.
Acrescentou na entrevista que é preciso que haja investimentos, o desenvolvimento institucional, a consolidação das instituições políticas, a estabilidade governamental e política bem como a sustentabilidade económica e bancária, que segundo ele, é importante para o desenvolvimento do comércio e a criação de condições para a concessão de créditos.
“Com isso começa-se a ver os sinais positivos em como os quadros que nós formamos vão poder desempenhar esse papel fundamental no desenvolvimento do país. Isso é o que nós desejamos que aconteça”, referiu.
MANUEL DAMÁSIO: “SOLIDARIEDADE PARA COM O POVO GUINEENSE MOTIVOU-ME ABRIR A ULG”
Falando da motivação que levou abertura da Universidade Lusófona da Guiné no periodo em que o país era abalado por situações de conflito e de sobressaltos militares, o presidente do Grupo Lusófona explicou que a razão principal que o motivou a abrir a universidade na Guiné-Bissau naquele período foi a solidariedade para com o povo guineense, porque “foi naquele período difícil em que houve a invasão de forças estrangeiras ao país em que muitos guineenses fugiam da Guiné em condições dramáticas”.
“O primeiro sentimento foi este. Depois vieram os contactos com algumas pessoas que abraçaram o projeto com sentido de patriotismo. Tentamos com grandes dificuldades sensibilizar o governo português e outras entidades a apoiar, mas algumas achavam que a Guiné era um caso perdido naquela altura e que não se conseguiria fazer nada na Guiné! Felizmente, nós acreditamos que a Guiné não era um caso perdido e conseguimos”, assegurou.
Lembrou que um dos problemas registados no início foi a parceria estabelecida com o executivo guineense através do Grupo Lusófona e a Universidade Amílcar Cabral, porque o ministro da educação na altura queria que fosse nomeada uma pessoa que nem sequer tinha uma licenciatura para exercer o cargo do reitor da universidade. Acabou por recusar, para salvaguardar o prestígio da universidade.
Manuel de Almeida Damásio reconhece que houve muitas dificuldades que não lhes fizeram desistir, tendo frisado que a melhor maneira de vencer as dificuldades foi apostar na expansão ou no crescimento do projeto. Contudo, recordou que participou em centenas das iniciativas de constituição de cooperativas, escolas e de pequenas e medias empresas.
“Eu nunca fiz nada que não fosse muito difícil! E quem disser que é fácil, então está a tentar enganar os outros ou enganar-se a si próprio”, observou.
ESTAMOS PREPARADOS PARA CRIAR UM POLO II DA UNIVERSIDADE LUSÓFONA DA GUINÉ
A maior dificuldade com que se depara a universidade neste momento tem a ver com a questão da falta de infrasestruturas para abrir mais salas de aulas, tendo em conta a procura a cada dia. O presidente do Grupo Lusófona disse que no seu entender, a “maior dificuldade é que quando se cresce, a estrutura criada no início tem que ser alargada”.
“A estrutura criada no início tinha um número reduzido das pessoas a dirigir e com as suas ambições. É verdade que quando se cresce, essas coisas todas vêm ao de cima. Portanto, é preciso que a organização ou quem dirige seja capaz, de algum modo, de responder favoravelmente às ambições de toda essa equipa. Se não responder favoravelmente corre o risco de conflitualidade grave. E nós temos tido também alguma conflitualidade e sempre soubemos ultrapassá-las. Se não houvesse conflitos é que eu estaria preocupado”, referiu.
Ainda sobre as infrastruturas para o funcionamento da universidade, explicou que fazia parte do acordo rubricado com as autoridades guineenses, através da Câmara Municipal de Bissau que concederia um terreno ao Grupo para a construção de uma universidade de raiz, mas até ao momento da entrevista a Câmara não deu nenhum terreno ao grupo.
“Nós estamos preparados para criamos um polo 2 da Universidade Lusófona da Guiné. A criação de um outro polo seria exactamente no terreno que a Câmara conceder-nos-ia para a construção de raiz de instalações, eventualmente mais dignas”, notou.
Assegurou que a Guiné-Bissau não está em condições de dispensar os seus trabalhos, porque “a Guiné continua a precisar de iniciativas como a nossa. Portanto, estamos aqui para trabalhar na base das normas do país, por isso respeitamos a legislação guineense e todo o poder político e social instalado”.
Questionado sobre a possibilidade de estender polos da universidade para as regiões do país, respondeu que o grupo está a estudar essa hipótese.
Sobre o diferendo que envolvia a universidade e o ministério da Educação no concernente a falta de condições técnicas para o funcionamento dos cursos da Enfermagem e da Engenharia Informática, o Professor Manuel de Almeida Damásio disse que o grupo que dirige analisou a referida situação e tomou algumas medidas que visam essencialmente o curso da Enfermagem.
“Eu tive a oportunidade na altura de conversar com os responsáveis, quer os da enfermagem, quer os de medicina geral. E razoavelmente não deveriam ter entrado tantos alunos na enfermagem. Não é que eles não merecessem entrar, mas nós é que não tínhamos boas condições para que pudessem estudar como deve ser e sentirem-se bem. Isso criou realmente um problema que não era bom que tivesse acontecido: o descontentamento por parte de alguns alunos. No final, acabamos por ter a compressão de todos”, espelhou para de seguida, enfatizar que compreende-se o que aconteceu, que na sua explanação, foi a ânsia de tentar responder a procura de estudantes.
Lembrou que no início de abertura da universidade o executivo guineense queria que ensinassem o curso de medicina, mas recusaram porque na altura havia os cubanos a ensinar na Faculdade de Medicina que, no seu entender, têm uma metodologia que considera boa.
Em relação ao curso da Engenharia Informática que foi criticado pelos estudantes por falta de condições para o seu funcionamento, informou que fizeram igualmente um esforço em termos de equipamento com o intuito de garantir as condições de funcionamento normal das aulas.
“O nosso lema sempre é que em cada momento sejamos capazes de ter os equipamentos mais avançados para que os nossos alunos saiam também preparados, como saem aqueles que estudam idênticas matérias em qualquer parte do mundo. Não queremos que haja aqui alunos de terceira. Portanto, penso que temos conseguido isso razoavelmente porque estamos a trabalhar com óptimos profissionais”, observou.
No concernente à iniciativa para a criação do hospital universitário, reconheceu que é preciso criar o hospital universitário, porém salientou que para a efetivação desse desiderato é necessário um investimento muito grande bem como a mobilização de grandes organizações.
Por: Assana Sambú/António Nhaga
Foto: Marcelo Na Ritche