
[REPORTAGEM] A região de Cacheu, norte da Guiné-Bissau, temapenas quatro agentes colocados no Serviço da Proteção Civil. Três trabalham no setor de Cacheu, incluindo o comandante regional daquela corporação e outro no setor de São Domingos. Os restantes setores que fazem parte da região apenas têm colaboradores recrutados localmente e instruídos apenas para trabalharem na sensibilização das populações sobre a prevenção de incêndios.
A região é um dos maiores do país em termos de superfície. Tem seis setores (Cacheu – sede regional, Canchungo, Caió, Bula, Bigene e São Domingos) e conta com uma população estimada em mais de 185 mil habitantes, de acordo com os dados do censo de 2009, correspondente a 12,77% da população total da Guiné-Bissau.
Cacheu é uma cidade costeira do país situada a mais de 100 quilómetros da capital Bissau, fica junto ao rio com o mesmo nome, no nordeste da região e conta com uma superfície de 1.004,4 Km2 e uma população de mais de 15 milhabitantes, segundo dados do mesmo censo do Instituto Nacional de Estatística.
Os edifícios construídos na época colonial estão neste momento numa fase muito avançada de degradação e outros abandonados, acabando assim por deixar a cidade velha numa situação de ruína total. Não obstante os esforços das organizações não-governamentais que apoiam o setor com os projetos do desenvolvimento comunitário, Cacheu(cidade velha) continua a precisar de muita intervenção em quase todos os setores: social, económico, infra-estrutural e desenvolvimento comunitário.
O Serviço da Proteção Civil não tem edifício próprio, pelo que funciona nas instalações da Polícia de Ordem Pública (POP). No concernente ao resgate de pessoas naufragadas, trabalham em colaboração com os Serviços da Capitânia e da Guarda Nacional.
COMANDANTE DE BOMBEIROS: NA AUSÊNCIA DE MEIOS, A SENSIBILIZAÇÃO É A NOSSA MAIOR ARMA
O Comandante do Serviço da Proteção Civil do Sector de Cacheu, Dauda Bangura, explicou a repórter do semanário “O Democrata” que na ausência de meios de combate aosincêndios e para prevenção das calamidades que ocorrem na região, a sua corporação humanitária decidiu apostar fortemente na sensibilização da população com informações claras sobre as medidas de prevenção de fogo e sobre os momentos propícios tanto para a queimada dos seus campos de cultivocomo para a prática das atividades pesqueiras, devido ao mau tempo.
“Não conseguimos cobrir todos os seis setores devido às dificuldades e a falta de meios de transporte. Não temos meios de combate aos incêndios, muito menos para deslocações para a sensibilização das populações nas tabancas mais distantes da cidade! Fazemos a sensibilização apenas através da rádio comunitária local”, contou.
Bangura disse que a mensagem principal centra-se basicamente em como prevenir os incêndios bem como informações sobre os momentos propícios para fazer as queimadas dos campos de cultivo e evitar atividades pesqueiras nos dias em que o mar esteja agitado ou quando faz ventos fortes ou chuvas torrenciais.
“Trabalhamos com os meios da Guarda Nacional e da Capitânia, que sempre requisitamos para alguns serviços, em particular de resgate das pessoas no mar. Mas sempre sãooperações conjuntas. Por exemplo, no mês de julho deste ano, houve um naufrágio que resultou na morte de uma pessoa. Fomos obrigados a trabalhar juntos para salvar as vidasdaquelas pessoas que resistiam ao naufrágio, e que ainda corriam perigo de vida. Não temos minimamente nada para funcionar como um Serviço de Proteção Civil. Apenas temos homens, mas em número insuficiente e sem nenhum equipamento de trabalho”, lamentou.
CACHEU: CONSUMO DE ENERGIA ELÉCTRICA SEMANAL CUSTA TRÊS MIL FRANCOS CFA
A cidade histórica de Cacheu enfrenta enormes dificuldades,àsemelhança de várias outras do país, sobretudo no concernente à falta da energia eléctrica. A cidade velha encontra-se numa situação de “morte lenta” e de abandono, de acordo com os habitantes abordados.
A energia elétrica é uma das necessidades lamentadas pelas populações locais em particular os pescadores, tendo em conta que é um setor com grande potencial em atividades pesqueiras.
Segundo informações apuradas pela repórter, a eletricidade é assegurada por um cidadão nigeriano que dispõe de um gerador, que vende eletricidade às populações, mas, no entanto, não consegue cobrir nem a terça parte da população daquela pequena cidade.
Os populares queixam-se do elevado valor cobrado pelo cidadão nigeriano para a venda da eletricidade. Para o consumo semanal da corrente elétrica, cobra um valor de três mil francos cfa, que correspondem a 36 horas semanais do fornecimento da energia elétrica, das 18 horas às00 horas.
Atualmente, a pequena “empresa” de fornecimento da corrente elétrica é gerida por um grupo de cidadãos nacionais do setor,supostamente considerados próximos do proprietário do gerador que, de acordo com as informações disponíveis, viajou para o exterior.
Armando Djatá, um dos responsáveis pela gestão do pequeno gerador, explicou durante a entrevista que o cidadão nigerianoque geria o gerador abdicou-se da gerência da pequena central elétrica devido ao elevado custo docombustível e que as receitas recolhidas da cobrança não compensam as despesas, por isso resolveram assumir a gestão do gerador a fim de garantir o fornecimento da corrente elétrica.
“Temos um gerador que fornece eletricidade, mas não é suficiente! Havia um nigeriano que vendia corrente elétrica aos interessados (clientes)do setor, mas a um dado momento desistiu.Nós éramos clientes e decidimos ficar com a gestão do pequeno gerador. Numa reunião realizada na cidade,decidimosacionar mecanismos para dinamizar os trabalhos e escolhemos os responsáveis e continuamos a fornecera eletricidade a um número reduzido de clientes, devido aoelevado custo da luz elétrica”, espelhou.
O responsável do grupo justificou na mesma entrevista que decidiram vender a corrente elétrica à população um pouco mais caro do que o preço anteriormente praticado, porque compram o combustível num preço muito elevado e não beneficiam de nenhuma redução.
Por: Epifânea Mendonça
Foto: E.M