Crônica: OS DE SEMPRE

Um marco histórico. Um acontecimento singular. A bravura de homens, até então, desconhecidos do grande público nacional, apenas pelos citadinos de Bissau. Uns haviam entrado na Grande Guerra pela nobre causa libertária. O grande projeto revolucionário de acabar com o colonialismo nesta província colonial portuguesa. Outros, e talvez em sua imensa maioria, eram fugitivos de prisões e perseguições da PIDE. Nem sempre, como se tem afirmado, e propagado por aí, pela causa da liberdade, mas sim pelas malfeições praticadas, os pequenos furtos, os assaltos com armas de alta periculosidade.

De repente, um buraco negro. Bem negro. Preto mesmo. Com uma luz ténue.

Por causa desta Senhora Liberdade que representa a primeira imagem de um buraco negro, os heróis ficaram mal na fotografia.

O comportamento, as atitudes de governação, e de estada na sociedade.

Ao invés do desenvolvimento da nossa terra, o centro da ação política e governativa encontra-se no centro da galáxia das mansões milionárias na Europa. E o desenvolvimento? Este a 45 milhões de anos-luz deste pedaço de Terra, batizado em Boé, em 24 de setembro de 1973, como Estado da Guiné-Bissau. É visível o desvio de procedimento na constelação de apart-hotéis de violação da menina Virgem.

– Agora, meu filho, já vimos o que não pode ser visto, disse o pai ao seu filho adolescente.

– Os buracos negros, digo no plural, pois já são muitos, os casos se tornaram reais, eles não são apenas rascunhos escritos num papel reciclável, ou num quadro escuro na noite fria, não. Eles estão realmente lá fora na noite, complementou o pai.

Mas o silêncio do filho perante esta declaração não o surpreendeu, pois este parecia mostrar-lhe através de um sorriso entusiasmado que o futuro podia ser risonho, dizendo-lhe:

– Pai isto ainda há de mudar. Pois isto, segundo me parece, marca o início de uma nova era na história nacional.

– Este teu otimismo adolescente pode, na imagem que tu me dás com esta afirmação, levar a acreditar que o buraco negro parece um anel laranja em torno de uma silhueta redonda escura. Ele não se localiza exatamente no centro da galáxia de que te falei há bocado, responde-lhe o pai.

Um longo silêncio reina no meio dos dois. Cada um a olhar de soslaio para o seu par. Cada um absorto em seu pensamento a imaginar uma saída mínima que fosse para o caos que se instaurou.

  1. A distorção do tempo e do espaço

Os dois, junto, aqui e agora, pensativamente a imaginar o fenómeno da distorção tanto do tempo da nossa história menina quanto do espaço a que estamos condenados a conviver uns com os outros ainda que cinicamente.

Os dois, pai e filho, são, afinal das contas, duas gerações perdidas. O primeiro viu após décadas de pura obstinação seus sonhos a esvaírem-se. O segundo, ainda que alimentada por uma teimosa fé no devir, acabará por compreender o quanto será fugaz a sua alegria de adolescente. Porque são de tal maneira condenados à densidade do descalabro social que nada, nem mesmo a luz, lhes consegue dar ânimos suficientes que lhes sirva de válvula de escape para este festival de infortúnios, alimentados por desgraça acima da desgraça.

Estou em crer que pelo andar da carruagem, a sensação que se tem, após uma análise aturada e acuidada, é que há gente que acredita serem “extremamente poderosas” que não cabem (mais) nas malhas da justiça.

Mais uma vez está instaurada a confusão. Impasse sobre impasse. Além disso, o buraco negro que se avizinha é muito mais profundo do que se pode alguma vez imaginar. Pois, além do buraco negro, com sua luz ínfima no fim último do túnel. Chegaremos a tempo de espreita-la? Ou teremos que tentar ainda que sem mais forças, nem energias para aurir energias positivas que possam servir de combustível para locomovermos o nosso avião espiritual?  Ou devemos simplesmente entregar os pontos e darmo-nos por vencidos?

Que fadiga. Este destino cruel, e fastidioso.

Parece ser um dos mais pesados já detectados na nossa história nacional. Conversa daqui conversa dacolá, e nada. Sempre os mesmos atores no mesmo palco promovendo um show de horrores.

Antevejo o espetáculo das Líridas. Ele também expulsa um fluxo perceptível de partículas para fora do universo?

  • Uma chuva de meteoros

De repente cai uma chuva intensa de meteoros, a que os físicos chama de chuva de estrelas. Ou seja, trata-se de uma espetáculo das Líridas vistas a partir do planeta terra. Contanto que não atinjamos o ponto do não retorno. Uma viagem sem volta, pois só o abismo é que está à vista.

Seria bom, que, no entretanto, não procedéssemos uma nova viagem à volta de um buraco negro, que, há muito tinha sido escavado. Pois senão este mesmo buraco consumirá tudo o que cair dentro dele em pouco tempo. E aí, então, é que provaremos o fel da perdição.

Essas partículas problemáticas da história nacional somadas às partículas de problemas importados do exterior podem fazer cair toda esta nação em construção no imenso buraco negro que se abriu neste solo pátrio. Mas pensam que as partículas são projetadas pouco antes de cruzar as fronteiras da tecnologia de navegação similar à que vemos nos carros autónomos?

Se o piloto não assumir o controlo deste Chão, nem o comando de navegação, ele contará com um sistema de navegação muito problemático no pós hospedagem palaciano, e isto não o permitirá ter uma condução autónoma em tempo real dos acontecimentos.

Precisa urgentemente de construir um modelo coerente do seu entorno, de modo a que todos os principais objetivos da missão prometida há quase cinco anos estejam completos.

  • O duelo da linha vermelha

Mais uma vez, dois gigantes da política nacional a duelarem-se. Ao vencedor, as batatas, e os benesses do poder.

Vejo-os como dois dos objetos bestiais mais brilhantes e avermelhados a travarem embate final com vista à conquista da mesma parte do espaço – a riqueza.

Assim, a chuva de meteoros – Líridas – vai cair sobre o céu estrelado de Bissau. E o país poderá mergulhar-se in continuum na lengalenga do exercício democrático o mandato ora conferido a eles.

Ora, os meteoros das Lirídeas são visíveis a partir da constelação de Lyra, que dá o nome à chuva de meteoros. E nesse caso na constelação da noite escura, nem esta luz do fim do túnel nem outra sequer será possível ser observada no firmamento. Mais estrelas cadentes cairão a toda a hora.

Que este reencontro seja celestial e não bestial. O povo ofereceu-lhe uma grande oportunidade para tirar fotos de ‘amizade’, escrevendo os nomes na página dos amigos antes do nascer do Sol noturno.

No entanto, a visibilidade das estrelas cadentes que os acompanham neste duelo vermelho, as mais fracas ao amanhecer terão prejudicada os seus brilhos com a chegada da lua nova.

Caro leitor de O DEMOCRATA, até prόximo episόdio!

Por:  Otinta, poeta ensaísta e crítico literário guineense

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