Nove meses sem salários: TÉCNICOS DE SAÚDE DO HOSPITAL REGIONAL DE CATIÓ VIVEM EM SITUAÇÃO DE PENÚRIA

[REPORTAGEM_08/2019] Os técnicos de saúde que concluíram o curso geral  e colocados em novembro de 2018 no hospital regional “Musna Sambú” de Catió, região de Tombali, sul da Guiné-Bissau, levam já mais de nove meses sem salários. O governo nem sequer se dignou pagar os subsídios de instalação. Os recém formados clamam do governo o pagamento dos seus ordenados para poderem garantir a sobrevivência das suas famílias. São no total 29 técnicos, dos quais 18 enfermeiros, 3 médicos, 3 técnicos de Raio X [que até no dia da nossa reportagem não tinham começado o trabalho devido a avaria do único aparelho de diagnóstico], 4 parteiras, 1 técnico de laboratório e 1 farmacêutico.

Dos três médicos inicialmente colocados naquele hospital, apenas dois estão atualmente em funções, enquanto um, após ter entregue o credencial de colocação à Direção Regional, regressou para Bissau.

TÉCNICOS SEM SALÁRIOS TRABALHAM 24 HORAS PARA ASSEGURAR FUNCIONAMENTO DO HOSPITAL


A denúncia da situação de miséria e mendicidade vivida pelos técnicos de saúde naquele hospital regional que dista cerca de 250 quilómetros da capital Bissau foi feita por um dos responsáveis do hospital que pediu anonimato, por temer retaliações da parte das autoridades responsáveis pela área de saúde. O nosso informante alertou que são dezenas de técnicos de saúde que se encontram naquela situação e que alguns vivem situações mais graves, tendo em conta as condições dos centros onde foram colocados. 

O Democrata apurou que o hospital dispõe de um total de 46 técnicos, dos quais 17 efetivos que mensalmente recebem os seus ordenados e 29 recém-colocados que levam já mais de nove meses de labuta sem salários. Dos 17 efetivos, figuram 2 médicos, 12 enfermeiros, 2 farmacêuticos e 1 técnico de laboratório. Antes da colocação das parteiras formadas, eram as enfermeiras que atendiam as parturientes na maternidade. 

 Um dos enfermeiros vítima da situação, numa conversa com o repórter, implorou às novas autoridades no sentido de resolver o mais rápido possível a dramática situação dos novos ingressos.

“É muito triste a situação que estamos a passar, trabalhamos aqui todos os dias e no final do mês não recebemos nem sequer um subsídio para garantir a sobrevivência das nossas famílias”, lamentou. 

No ano escolar 2010/2011, a Escola Nacional de Saúde abriu polos de formação nas regiões de Bolama/Bijagós, Tombali e Quinará. A iniciativa do executivo visava formar  enfermeiros do curso geral, que seriam recrutados para trabalhar nas respetivas regiões. Lembrou que os técnicos formados em Bolama não tiveram problemas e que depois de terminarem o curso, foram colocados de imediato, enquanto os estudantes do polo de Catió e de outros centros que terminaram o curso em 2015 não tiveram a mesma sorte.

“Terminamos o curso no período da intensa crise política e governativa, por isso foi difícil a nossa colocação e ficámos muito tempo fora. Fomos colocados apenas em novembro de 2018, juntamente com os estudantes formados no polo da região de Quinara e com os da Escola Nacional de Saúde e outros técnicos do curso superior formados nas universidades em Bissau”, contou um dos jovens funcionários.

“Estamos aqui, ninguém nos informa o que está acontecer a fim de nos tranquilizar! Estamos nas mãos de Deus e a espera de esmolas de parentes e amigos para a nossa sobrevivência. Pode imaginar, um responsável de família deixar os seus filhos em Buba ou Catió e ir trabalhar nas últimas ilhas de Bolama, nestas condições! É bom que o governo nos veja e resolva o nosso problema, porque trabalhamos numa área muito sensível e de grande risco”, assegurou.


Por: Assana Sambú

Foto: A.S  

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