Opinião: APU DE NABIAM, COLIGAÇÃO E PRESIDENCIAIS. O QUE FAZER?

Em termos quantitativos, o número de assentos parlamentares obtidos pelo partido ficou aquém das expectativas que se tinha sobre a agremiação cujo líder, derrotado na segunda volta das presidenciais de 2014, foi invenção política de Koumba Yalá. Entretanto, tudo se conspirou politicamente para que os cinco mandatos do partido de Nuno Gomes Nabiam gerassem um potencial político para que o partido fosse senhor de uma legislatura e encurtasse o caminho de seu líder ao palácio.

O partido tinha duas opções: articular com Madem e PRS, confeccionando uma maioria e mandar o PAIGC para a oposição, mesmo este tendo ganho, a quem da maioria absoluta, o pleito de 10 março de 2019; a outra possibilidade, a eleita pelos apuanos, era brindar o convite do PAIGC a partir de um pacto.

A segunda opção, assinada pela cúpula do partido, era a mais correta se o objetivo fosse fazer sangrar politicamente os dois adversários com vistas a potencialmente assegurar a condição da segunda força partidária já nas próximas legislativas, e a longo prazo estar a altura de disputar ombro a ombro com o PAIGC. Se foi esse o propósito, então o acordo pós-eleitoral rubricado com os libertadores foi certeiro. No entanto, se o pacto era celebrado tendo em vista as presidências de próximo 24 de novembro, o acordo fazia pouco sentido. Ao menos os detentores das cinco cadeiras parlamentares de “ouro” falharam nos termos de negociação com o PAIGC de DSP. Se a presidência da República era o imediato e macro objetivo político do emblema, então era melhor escorraçar o PAIGC para a oposição e condicionar segundo e terceiro partidos mais votados a apoiarem, em uma única frente, o líder de APU-PDGB.

Até hoje não estão claros os termos daquela negociação entre APU e PAIGC. E, do meu ponto de vista, não seria um absurdo nenhum condicionar o PAIGC a apoiar o presidente de APU, que também teria “dever político contratual” de nomear DSP para chefiar o Executivo, assim que ganhasse a corrida à presidência – o que era muito provável. Era uma arquitetura política delicada, mas as cartas estavam em cima da mesa e, inequivocamente, a favor do recém-criado partido. O PAIGC estava com a corda no pescoço e a APU podia enforcá-lo como também absolver. Tendo em conta o profundo abismo de Madem-G15 e PRS com o PAIGC, me parece que este último não conseguiria número necessário de deputados doutro lado se a APU lhe desfalcasse.

E agora, os cinco mandatos de APU-PDGB continuam valendo ouro? A APU ainda pode mandar o PAIGC para a oposição, sob alegação deste ter lançado à corrida o seu líder e não apoiar Nuno Nabiam? Levanto estas questões num momento em que se especula sobre a continuidade ou não da coligação face às crescentes desconfianças na repartição das pastas governamentais e suposta indignação do líder de APU com a candidatura de DSP. O último comunicado do partido, avisando que não se fará representado nas brigadas de correção dos cadernos eleitoras anunciada pelo governo (do qual o partido é parte) pode ser entendido como um ensaio para uma eventual saída do pelouro de Aristides Gomes.

Antes do mais, importa dizer que a decisão de APU e seu líder em relação à continuidade ou não na coligação terá efeitos políticos praticamente irreversíveis no que toca com a imagem e o futuro do partido e de seu líder. No entanto, uma ou outra decisão pode não produzir efeitos esperados, em termos de desempenho eleitoral, na corrida para a Casa Rosa.

Caros leitores do jornal O Democrata, me parece já ser muito tarde APU lograr um acordo eleitoral e politicamente produtivo com Madem-G15 e PRS. Também já está fora do timing forçar o PAIGC abdicar de ter um concorrente (sempre seria difícil, mas não impossível pela conjuntura de março) em nome de salvaguarda da estabilidade parlamentar e governativa. A possibilidade seria com o PRS, que abdicaria de ter um candidato e apoiar Nuno a tentar chegar segundo turno. E qual seria a contrapartida do PRS? Entrar no governo? Bem, seriam apenas 26 deputados: uma minoria. Entraria o Madem-G15? E Umaro Sissoco Embaló deixaria de ser candidato ou concorreria e um dos dois que passasse seria apoiado automaticamente pelo outro? Possíveis articulações com o Madem-G15 me parecem politicamente extemporâneas, ao menos que o Movimento coordenado por Braima Camará topar (com o sim de Sissocó) fazer um grande sacrifício mirrando impor derrota ao PAIGC. Mas me parece um acordo pouco provável.

Voltamos a falar sobre as articulações que dizem APU estar a flertar com o PRS. O PRS já anunciou ao menos duas candidaturas que disputarão as primárias do partido. O partido desistiria de ter primárias? E quais seriam consequências políticas disso para o já fragilizado PRS? O partido poderia entrar em uma ruptura de enormes proporções. Mesmo admitindo essa possibilidade, me parece improvável o PRS apoiar o candidato de APU sem uma contrapartida imediata. E não vejo nenhuma contrapartida a curto prazo sem a colaboração objetiva de Madem-G15 e o desembarque imediato de APU do governo. E se o partido de Nabiam desembarcar e o PAIGC lograr a cooptação de alguns deputados do PRS? Um cenário pouco provável mas não totalmente descartável. Teria que ser uma decisão política muito bem coordenada pelos renovadores, controlando todos os elementos de seu curral parlamentar.

E admitindo a possibilidade de concretização de um improvável acordo que altere a maioria no parlamento, julgo que o líder de APU iria politicamente arranhado ao pleito de 24 de novembro. Esse arranhão poderia o penalizar eleitoralmente entre os votantes mais precavidos e críticos, especialmente de Bissau. Poderia ser visto, por uma boa parte da opinião pública nacional, como responsável pela rotura de tão almejada estabilidade política que ele mesmo tenha usado como razão de seu acordo de incidência parlamentar e governativa com o PAIGC.

Penso que é melhor o Engenheiro Nuno Nabiam disputar votos ombro a ombro com seus adversários, explorando seu potencial político a partir de estratégias e marketing políticos muito bem articulados e executados. Em relação às alianças políticas, especialmente com o PRS, o que se pode fazer é tentar cooptar à sua plataforma de campanha figuras influentes dos renovadores (“alianças extrapartidárias ou alianças informais”), evitando anunciar um acordo interpartidário. Não seria uma boa estratégia.

Portanto, a não ser que o PAIGC enverede para os caminhos de flagrantes abusos e desmandos na coligação, e que sejam publicamente sintomáticos e visíveis, a APU não deve se desembarcar. Ademais, penso que é extemporâneo o timing para qualquer produtivo acordo fora da coligação (que altere a maioria parlamentar) nas vésperas das eleições.

Por: Timóteo Saba M’bunde, Mestre em Ciência Política.

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