Especialista em saúde: “PREVENÇÃO DE CORONAVÍRUS DEVE SER PROPORCIONAL À SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA E À SUA DINÂMICA”

O especialista guineense em saúde internacional, Plácido Cardoso, defendeu que as medidas preventivas sobre coronavírus (Covid-19) a adotar pelo governo têm que ser proporcionais à situação epidemiológica da doença e à sua dinâmica. O antigo presidente do Instituto Nacional da Saúde Pública da Guiné-Bissau (INASA) defendeu essa ideia numa entrevista exclusiva ao jornal O Democrata para analisar a eficácia das medidas preventivas e de controlo que as autoridades nacionais estão a tomar para se prevenir do COVID-19, que já está presente no Senegal e na Guiné-Conacri, dois países com quais a Guiné-Bissau tem uma vasta linha fronteiriça.

Sobre as medidas da suspensão de voos para a Guiné-Bissau, Cardoso confessou que não é apologista da ideia das correntes que defendem o corte de voos com todos os países atingidos pela pandemia COVID-19, cujas companhias operam na Guiné-Bissau e defendeu que seja respeitado e observado o Regulamento Sanitário Internacional, um instrumento jurídico internacional aplicável, “justamente”, neste contexto para saber se se deve ou não suspender os voos ou encerrar as fronteiras terrestres, mas de que muitos não falam.

“O instrumento a que referi tem o seu enquadramento jurídico e a sua efetivação é justificada a partir de um perigo eminente de contágio e vai-se moderando sempre. Por isso falei da proporcionalidade das medidas em relação à situação epidemiológica. Estamos numa dinâmica e o que é aconselhável hoje pode não ser necessário horas depois ou dias depois. Portanto, temos que ter pessoas à altura e capazes de fazer esse monitoramento da situação epidemiológica e em cada momento para serem enquadradas as medidas que devem ser tomadas”, alertou.

Em análise à situação da doença que já matou milhares de pessoas, o especialista em saúde internacional começou por descrever a pandemia COVID-19 como uma doença muito preocupante, mas lembrou que em relação à prevenção o governo já tomou medidas preventivas que disse serem proporcionais à situação epidemiológica. Apesar dos casos já registados no Senegal e na Guiné-Conacri, Plácido Cardoso referiu que muitas das vezes não é a aproximação geográfica ou física que determina o grau de risco.

“Por exemplo, Portugal e Marrocos são países com os quais temos cerca de cinco voos semanais e o movimento de passageiros é bastante ativo e desde o momento em que se registaram os primeiros casos de Coronavírus nesses países, o risco era enorme devido ao grau da contagiosidade da doença e a mobilidade das pessoas, mas o mais importante neste momento é a efetivação das medidas que o executivo está a tomar para se prevenir da pandemia”, sublinhou.

Segundo Plácido Cardoso, o grau de nível de letalidade da doença é variável. Embora a Organização Mundial de Saúde (OMS) tenha estimado no início que poderia ser de dois por cento (2%). Na China, por exemplo, o epicentro da doença, a letalidade situa-se entre 3% e 3,6% por cento, o que na observação do especialista demostra que a letalidade pode variar de país a país, porque desde início tem variado de contexto a contexto. Contudo, revelou que existe uma presunção médica em termos gerais da doença que o grau da letalidade não ultrapasse os 3% e 3,6% por cento.

Cardoso diz acreditar que o país está a dar passos significativos, sobretudo com a existência de um centro, embora de pequena dimensão, mas que poderá ser ativado a qualquer momento para o isolamento de eventuais casos suspeitos que poderão aparecer e um dispositivo a nível laboratorial para testes de primeiros casos que poderão ser confirmados mais tarde no Senegal ou noutros laboratórios. Alertou por isso que é preciso trabalhar mais e mais na organização, na preparação e na resposta às situações epidémicas ou pandémicas como a que se vive hoje no mundo.

“O quadro sob o qual trabalhamos para a prevenção do Ébola não é o mesmo que hoje, em relação ao Coronavírus. Por isso deve-se dar mais atenção a uma melhor organização das estruturas de diferentes níveis para que os trabalhos possam correr sem grandes sobressaltos”, precisou.

Por: Filomeno Sambú

Foto: F.S

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