[REPORTAGEM] Uma investigação de O Democrata sobre o abastecimento de água potável na cidade de Bissau concluiu que a Empresa de Electricidade e Águas da Guiné-Bissau tem vindo a fornecer, há três meses, água não desinfectada. O Democrata apurou que a empresa não dispõe de “cloro”, produto desinfectante usado no tratamento de água. A empresa, de acordo com a fonte, não comunicou a informação aos consumidores. O produto desinfectante esgotou-se em finais de 2019, confidenciou a mesma fonte da empresa em condição do anonimato.
“Até a data presente a água é abastecida aos consumidores sem mínima desinfecção”, prossegue o nosso interlocutor, adiantando que “o último stock de produto de desinfecção de água foi doado à EAGB pelo Reino de Marrocos”. “O produto desinfectante não existe no mercado interno”, revela a fonte.
Instada a dizer até quando a situação será resolvida, a fonte disse não saber tendo em conta as dificuldades financeiras do país e por outro lado a falta do cloro no mercado nacional.
CONSUMIDORES: “ÁGUA FORNECIDA PELA EAGB NÃO TEM CONDIÇÕES PARA O CONSUMO HUMANO”
Um funcionário da
Mãe de Água de “Alto Crim” em Bissau, igualmente em condição de anonimato,
confidenciou ao Jornal O Democrata que já la vão muitos meses que não viu o
produto de desinfecção de água a ser deitado neste maior depósito de água da
capital.
Explicou que dantes, a desinfecção era feita de três em três meses no depósito
de água de “Alto Crim” o que deixou de acontecer por razões que ele
desconhece.
Lamentou que o consumo de água sem desinfecção constitui forte risco para a saúde da população. Sobre a qualidade de água, adiantou que, os próprios consumidores as vezes quando ocorrer uma avaria nos tubos de canalização, numa determinada zona, não comunicam a Empresa de Electricidade e Água (EAGB) para efeitos da sua reparação.
“As impurezas penetram nos tubos de canalização de água e levam as sujeiras para as torneiras”.
O Democrata ouviu citadinos de Bissau que mostraram-se críticos à má qualidade de água fornecida pela EAGB. Margarida Mango, moradora no Bairro de Missira, disse que a água chega a sua torneira com muitas sujeiras.
“Nem posso explicar dos motivos dessa situação. Se os tubos da canalização estão ferrujados ou não. Mas o que posso dizer é que a água chega as torneiras as vezes com uma cor avermelhada”, explicou.
Perguntada sobre como ela trata a água antes de consumi-la, Margarida Mango, explicou que normalmente usa método de filtragem para retirar as impurezas ou fervê-la.
“A água fornecida pela EAGB não tem mínimas qualidades para o consumo humano”, revelou, apelando a instituição a corrigir rapidamente esta situação que atenta à saúde de consumidores.
Por seu lado, Aua Camará, residente no Bairro de São Paulo em Bissau, disse reconhecer actualmente algumas melhorias em termos de qualidade de água que a empresa EAGB fornece aos seus clientes, acrescentando que dantes o líquido precioso chegava as torneiras com muitas impurezas.
“Com a introdução dos novos tubos de canalização em algumas localidades, nota-se a melhoria de qualidade de água mas ainda há muito trabalho a ser feito para que os citadinos de Bissau possam de facto consumir água limpa”, frisou.
Camará sublinhou que quando a água passa pelos tubos antigos e que actuamente encontram num estado degradante, normalmente leva muitas impurezas para as torneiras.
“O Governo deve criar as condições para garantir aos cidadãos uma água de qualidade, porque muitas doenças que hoje em dia padecem as pessoas, nomeadamente tifoide entre outros, provem do consumo de má qualidade de água”, informou.
Por sua vez, Necas da Silva, moradora do Mindará, salientou que as vezes a água sai da torneira com cor esquisita, acrescentando que, para o efeito é necessário fervê-la ou filtra-la antes de ser consumida.
Disse contudo, que nos últimos tempos não se verifica essa situação, tendo apelado as autoridade competente no sentido de fazer tudo para garantir as populações uma água de qualidade de forma a evitar certas doenças causadas pelo consumo de água maltratada.
Edna Marciano Gomes, residente em Bôr, informou que a água de torneira as vezes trazem impurezas que ninguém pode explicar, se é por motivo de degradação de tubos de canalização ou não.
“Mas na minha modesta opinião, acho que a situação é devido à deteoriorização de tubos colocados no chão desde o período colonial e que necessitam de ser substituídos”, vincou.
“Má qualidade de água deve-se a falta de tratamento dos depósitos de água da EAGB”, afirma Secretário geral da ACOBES.
ACOBES: “ÁGUA DE QUALIDADE NÃO EXISTE MESMO AO NÍVEL DA CAPITAL BISSAU”
O secretário geral da Associação dos Consumidores de Bens e Serviços(ACOBES), afirma que a má qualidade de água fornecida aos consumidores pela Empresa de Electricidade e Águas da Guiné-Bissau(EAGB), deve-se entre outros com a falta de um tratamento adequado dos depósitos de água desta empresa.
Bambo Sanhá defendeu ao O Democrata que os depósitos de água da EAGB devem ser tratados pelo menos trimestralmente de forma que a água conservada possa chagar aos consumidores com boa qualidade.
“Não se pode considerar que a água proveniente das torneiras tem uma boa qualidade, porque as canalizações são muito antigas e velhas, contudo houve melhorias em algumas zonas da capital Bissau mas os trabalhos não foram concluídos em todas as localidade”, explicou.
O responsável disse que as canalizações velhas, fazem com que a água chega às torneiras com certas impurezas. “Constatamos isso muitas vezes e inclusive avisamos os responsáveis da EAGB em encontros que mantivemos”, frisou, acrescentando que a água as vezes chegam as torneiras com maus cheiros devido aos furos de canalizações que permitem a mistura de água provenientes de esgotos.
“Por esta razão podemos dizer que a água de qualidade não existe mesmo ao nível da capital Bissau e mais grave no interior do país onde até hoje em dia as pessoas consomem água juntamente com os animais nas lagoas e fontenários”, salientou.
Bambo Sanhá sublinhou ainda que as mulheres percorrem longas distâncias a procura de água que em muitas situações é duvidosa para o consumo humano acarretam doenças para os seres humanos.
Afirmou que, se a água das torneiras é mal tratada, não se pode falar das de fontenários que constituem um perigo enorme para a saúde das populações, acrescentando que não há equipas de sensibilização sobre as formas de tratamento de água antes de ser consumida.
“Apelamos aos consumidores para tratarem água antes de consumi-la através de filtração ou fervê-la e deitar gotas de lixívia nos recipientes onde quardam água para consumo de acordo com as recomendações dos técnicos de saúde pública”, disse.
“As impurezas que chegam as torneiras deve-se a degração de antigos tubos de fibras de canalização”, afirma Director de Serviços de Água da EAGB”
O Director de Serviço de Água da Empresa de Electricidade e Água da Guiné-Bissau (EAGB), Cesário Sá reconheceu que as impurezas as vezes encontradas nas torneiras, deve-se ao avançado estado de degradação dos tubos de canalização de fibra instalados desde o período colonial.
Em entrevista exclusiva ao jornal O Democrata, Sá explicou que as vezes quando ocorre avaria numa zona e no momento da sua reparação, os técnicos são obrigados a cortar o fornecimento de água e quando retomam o fornecimento a água chega às torneiras com muitas impurezas.
“A outra situação tem a ver com os tubos antigos de fibra que contêm muitas limas e que no momento de bombagem, a água arrasta essas limas e outras impurezas para as torneiras”, disse.
Questionado sobre se já estão a pensar em trocar esses tubos de canalização, Cesário Sá confirmou a existência de um projeto que permitiu substituir mais de 90 por cento de tubos antigos de fibra no centro da cidade de Bissau.
Por: Ângelo da Costa
27.03.2020
Eu e família estamos todos infectados por widal, por testes médicos recentemente realizados. Motivo para abertura de um processo de indenização. Agora só depois de tratar água, é que a bebemos ( ferver a água).