Editorial: CORONAVÍRUS COMO PERFUME DO CONFLITO POLÍTICO NA GUINÉ-BISSAU

Na nossa Guiné-Bissau, não obstante o momento de aflição do Coronavírus que alarma todo o continente africano e o mundo inteiro, ainda vivemos numa relação conflituosa entre a verdade e a mentira na nossa classe política. Até parece que agora, em tempo do Coronavírus, ainda estamos em tempo das eleições presidenciais e legislativas. Em tempo de Coronavírus o perfume do conflito político partidário não nos diz em quem votar, nem tão pouco como salvar as vidas dos governados da nossa pátria amada. Infelizmente, a nossa classe política ainda adora fazer confusão na avaliação da nossa realidade política doméstica sem nenhum perfume de um Estado de direito democrático.

Com o Coronavírus a dizimar vidas humanas em todo mundo desenvolvido, que possuí grandes meios tecnológicos, sanitários e económicos, ainda na Guiné-Bissau andamos a brincar em moralistas a dizer que não gostamos de um determinado político por ser feio, arrogante ou mulherengo. A nossa classe política, em vez de deixar de ser individualista e tornar-se mais unida como aconteceu durante a luta armada da libertação nacional para podermos combater o inimigo invisível no mundo, cada líder partidário procura mostrar mais a sua face oculta de impor a sua visão do mundo ao outro. Ou seja, cada líder partidário espera sempre sancionar o seu homologo político sem olhar para os interesses dos governados.

A nossa classe política não possui a competência política e administrativa das políticas públicas. Por isso, a sua visão das políticas públicas cria enormes dificuldades ao Estado, quando este pretende criar alternativa aos governantes. Não há hoje, em tempo de Coronavírus na Guiné-Bissau uma coerência política nacional que possa restabelecer no nosso país o duro confronto político que reinou durante os processos das legislativas e das presidenciais. Aliás o contencioso eleitoral que ainda mora e cresce no Supremo Tribunal de Justiça é um exemplo claro que não é agora em tempo de Coronavírus que a nossa política doméstica vai deixar ou esquecer momentaneamente a velha política das cores dos seus óculos.

Na verdade, qualquer líder partidário da nossa classe política inviabiliza sempre todos os projetos das políticas públicas que não sejam das cores dos seus óculos políticos. Mesmo que o projeto seja do grande interesse dos governados e do Estado da Guiné-Bissau. Na classe política guineense não existe ainda hoje a ideia ou o vocabulário de unanimismo em torno das grandes políticas públicas de Estado. É uma das classes mais traidoras da pátria de Cabral.

Para ela nada é verdade ou mentira, tudo é conforme as cores dos óculos com que está a ver o assunto. Por isso, cada líder partidário pode pedir sanções económicas para o Estado da Guiné-Bissau de acordo com as cores dos óculos que ele utiliza diariamente. E pode também transformar-se num homem politicamente honesto de acordo com as cores dos seus óculos políticos. O Coronavírus está agora a testar todas as provas da honestidade das cores dos óculos dos vários líderes partidários da Guiné-Bissau. Estas pseudo-cores dos óculos da honestidade dos líderes partidários são, hoje em dia, as pedras desagregadoras das relações entre os governados e os governantes do Estado da Guiné-Bissau.

Em todo o mundo o perfume da democracia social a verdade política é o que é, e continuará sempre a ser verdadeira, independentemente de haver quem possa pensar e ter uma visão contrária. Infelizmente na classe política guineense não reina ainda esta lógica da verdade. Porque existem nos nossos partidos políticos militantes catequizados sobre as vontades e os interesses da missão económica dos seus líderes e não da visão do governo e do Estado da Guiné-Bissau. São militantes politicamente cínicos uma vez que têm apenas nas suas mentes a lógica discursiva da narrativa da missão económica do seu líder. Não conhecem nem reconhecem as competências e valor aos outros líderes partidários nacionais como se estes não fossem da Guiné-Bissau. Não pensam duas vezes até incriminar com “Fakes News” os seus confrades militantes para poder colher dividendos políticos eleitorais, económicos e sociais no espaço político e da governação nacional.

A catequização dos militantes partidários é uma prova inegável de que na Guiné-Bissau é urgente e necessário combater no espaço político nacional a desinformação dos governados e colocar na esfera política nacional os limites de idolatrarão dos líderes partidários. E recolocar de uma forma clara e inequívoca o homem político guineense no centro da verdade política contemporânea que sustenta os Estados de direitos democráticos. O que permitirá também os governados do Estado da Guiné-Bissau a conhecer e a saber de forma clara e inequívoca os líderes partidários que têm realmente um projecto das políticas públicas de governação do país com base na Justiça distributiva equilibrada e socialmente aceitável no espaço público nacional.

Na Guiné-Bissau existe na sua esfera política militantes partidários catequizados que ainda não sabem distinguir os factos com o juízo de valores políticos. Não são ainda capazes de discernir muito bem os interesses dos governados do Estado da Guiné-Bissau com as vontades e a missão económica e social dos seus líderes partidários. Sempre discordaram da verdade Suprema da Nação guineense e concordaram sempre com os interesses e as vontades dos seus líderes partidários que lutam diariamente pela conquista do poder político da governação da Guiné-Bissau.

Se hoje em tempo do Coronavírus a Guiné-Bissau vive com perfume do conflito político democrático, com o fim da guerra com este inimigo invisível do mundo, em que a crise económica poderá ter a sua residência no continente africano, a pátria de Amílcar Cabral poderá transformar-se ainda mais num dos maiores mantos de retalho do conflito político democrático da nossa sub-região de África Ocidental. Aliás, o nível da imprevisibilidade dos conflitos políticos partidários na nassa Guiné-Bissau deixa de rasto qualquer político com o perfume de um Estado democrático de direito. Até parece que a nossa classe política está hoje a criar na África Ocidental um modelo da democracia política africana de hipocrisia “fakes-newsianas” que poderá matar o novo ecossistema digitalizado dos Media e dos jornalistas na Guiné-Bissau.

Este modelo da democracia política de hipocrisia “fakes-newsianas” é e será sempre um dos maiores riscos da segurança de estabelecimento do sistema de um Estado de Direito Democrático na Guiné-Bissau. Aliás, ao viver neste cenário de permanente perfume de conflitos políticos democráticos, a pátria de Amílcar Cabral será sempre, a nível da nossa sub-região africana, o órfão pobre da democracia multipartidária que poderá contribuir na destabilização de sistemas democráticos na África Ocidental. Ou seja, com o seu perfume do conflito a nossa classe política poderá constituir uma das ameaças de estabelecimento e da estabilização de um Estado de Direito democrático na África Ocidental.

Mas, o que hoje ninguém compreende das cores dos óculos da nossa classe política é o facto de Amílcar Cabral, no seu tempo, ter conseguido compreender que a nossa luta armada de libertação nacional era contra o colonialismo português e não contra o povo português, e a nossa atual classe política não consegue compreender que o Coronavírus não é uma questão eleitoral, mas sim uma questão de salvar vidas dos governados votantes e do próprio Estado da Guiné-Bissau.

Por: António Nhaga

Diretor-Geral
angloria.nhaga@gmail.com

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