Porta-voz dos bancos comerciais: “EMPRÉSTIMOS DO BCEAO QUE RECEBEMOS SÃO SUFICIENTES PARA FINANCIAR AGENTES ECONÓMICOS”

[ENTREVISTA 15.04.2020] O porta-voz da Associação dos Bancos Comerciais da Guiné-Bissau, igualmente diretor-geral do Banco da África Ocidental (BAO), Rómulo Pires, admitiu que os empréstimos que o Banco Central dos Estados da África Ocidental (BCEAO) faz aos bancos comerciais são suficientes para financiar os agentes económicos do país. O economista guineense fez essa observação em entrevista exclusiva ao jornal O Democrata para falar de impactos e prejuízos que novo Coronavírus deixou no funcionamento dos bancos comerciais da Guiné-Bissau, tendo afirmado que a crise provocada pelo novo Coronavírus (Covid-19) a nível mundial e na Guiné-Bissau afetou as atividades económicas dos bancos comerciais.   

“Quando falamos de empréstimos do Banco Central aos bancos comerciais, estamos a falar da liquidez no sistema bancário. O que os bancos têm nos seus ativos são carteiras de crédito concedido à clientela ou títulos da dívida pública adquirida e caso tenham a necessidade de transformar esse ativo, esse direito (liquidez), recorrem ao Banco Central e cedendo esses ativos ao BCEAO em contrapartida recebem outros, a disponibilidade financeira, que se chama liquidez no sistema bancário e é isso que o Banco Central tem estado a fazer”, explicou o porta-voz da associação dos bancos comerciais.

Porta-voz: “BANCOS COMERCIAIS TÊM ROBUSTEZ FINANCEIRA PARA FAZER FACE AO COVID-19”

Lembrou na entrevista que a função principal dos bancos comerciais é a de intermediação e que é de ganhos dessa intermediação que o setor vive e essa intermediação baseia-se em recolher os depósitos e fazer as operações de crédito e fornecer outros serviços que a clientela precisa. Em consequência, informou que estão a receber menos depósitos, porque a atividade económica não está no seu pleno funcionamento, e estão a ter também menos operações de crédito, financiamento, emissões de garantias bancárias, visagens de cheques, envios de transferências, porque “a prudência recomenda que as pessoas abrandem também em termos de investimento e importações por causa das limitações, o que isso acaba por prejudicar as atividades dos bancos comerciais”.

“Neste âmbito, estando a atividade económica a trabalhar num ritmo anormal, muito abaixo do habitual, devido aos condicionantes que levaram o país a decretar o Estado de Emergência, nós realmente estamos a sentir esse abrandamento a nível das atividades”, sublinhou.

“Nada está bloqueado. Tudo isso tem a ver com as demandas. Há menos demanda neste momento. Porque os operadores económicos são os principais utilizadores desse serviço, mas devido à Covid-19 têm também as suas atividades limitadas”, precisou.  

O porta-voz dos bancos comerciais admitiu na mesma entrevista que os bancos comerciais da Guiné-Bissau têm robustez financeira para fazer face ao novo coronavírus e assegurou que o que dá garantia é a robustez do próprio sistema financeiro associado às “normas prudenciais” que devem ser cumpridas.

“Por isso é que os bancos, nos últimos tempos, têm reforçado os seus fundos próprios e isso vai permitir, em momentos de choque como é o que estamos a viver agora, termos fundos que nos garantam não entrar em incumprimento com as nossas obrigações”, reforçou.

“SERIA PRECIPITADO FINANCIAR A COMPRA  DE PRODUTOS QUE NÃO TERÃO CONDIÇÕES DE SEREM COMERICIALIZADOS”

Rómulo Pires revelou que o Banco Central dos Estados da África Ocidental (BCEAO) adotou medidas   para prevenir problemas de liquidez nos bancos. Ou seja, em caso de necessidade de liquidez, os bancos comerciais podem recorrer ao BCEAO para satisfazer essa necessidade e garantiu que de uma forma geral os bancos estão a agir dentro daquilo que é exigido pela norma e que os empréstimos que o Banco Central faz aos comerciais são suficientes para financiar os agentes económicos.

“Quando falamos de empréstimos do Banco Central aos bancos comerciais, estamos a falar de liquidez no sistema bancário. O que bancos têm nos seus ativos são carteiras de crédito concedido à clientela ou títulos da dívida pública adquirida e caso tenham a necessidade de transformar esse ativo, esse direito (liquidez), recorrem ao Banco Central e cedendo esses ativos ao BCEAO em contrapartida recebem outros, a disponibilidade financeira, que se chama liquidez no sistema bancário e é isso que o Banco Central tem estado a fazer”, assegurou  

Em reação ao pedido que o BCEAO fez a bancos comerciais de um período de moratória às Pequenas e Médias Empresas, o diretor  do Banco da África Ocidental (BAO) referiu que o pedido foi acolhido pelos bancos com “satisfação”, porque sentiram que são parte do problema e devem fazer também parte da solução.

“Somos operadores económicos, recebemos depósitos de clientes sedentários e utilizamos esses depósitos para financiar os operadores económicos. Havendo dificuldades de os operadores económicos fazerem face ao serviço da dívida, amortizarem ou cumprirem atempadamente com as suas responsabilidades, nós analisamos estes pedidos caso a caso. O cliente, por exemplo, que tiver essa dificuldade deve ir junto ao seu banco apresentar um pedido de congelamento temporário de pagamento da sua dívida, justificando o pedido. Porque nem todos têm sentido na sua atividade os impactos da crise- Covid-19”, indicou.

Segundo Rómulo Pires, a medida preventiva e de luta contra a propagação da Covid-19 adotada pelos bancos comerciais que passaram agora a fechar as suas portas às 13 horas e reduzir o número de funcionários, não afetou os clientes.

“Havendo limitação de circulação de pessoas, não tem havido também a necessidade de os bancos ficarem mais horas abertos, porque a partir de uma determinada hora não temos mais clientes nos balcões. Portanto, ficar mais tempo abertos é desnecessário, de um lado e do outro é uma medida adotada para proteger os próprios clientes e todos aqueles que estão cá para servir os clientes. Fazemos parte da população guineense e devemos todos nos proteger e é neste sentido que diminuímos, além do horário de funcionamento, o número de funcionários que permanecem diariamente no banco”, esclareceu.

Rómulo Pires disse que a maior afluência de clientes aos balcões acontece sempre nos dias de pagamento de salários, mas é controlada a entrada, as pessoas aguardam lá fora e entram as que estão a ser atendidas e conforme forem sendo satisfeitas saem e entram outras para evitar aglomeração.

Instado a pronunciar-se se os bancos comerciais estão em condições de financiar os operadores económicos que atuam no ramo de caju, Rómulo Pires não foi específico na resposta, mas lembrou que devido às limitações impostas pelo estado de emergência na sequência da Covid-19 que assola o mundo, o país não tem tido muita procura, porque os principais países importadores da castanha nacional (a Índia e o Vietnam) ficaram afetados com a pandemia e estão limitados financeiramente.

Rómulo Pires insistiu que seria precipitado os bancos comerciais estarem a financiar os operadores económicos neste momento para comprar um produto que depois não terão condições de comercializar, porque algumas fábricas desses países estão encerradas. Contudo, assegurou que vão continuar a acompanhar a situação e assim que estiverem reunidas as condições “nós daremos certamente o apoio necessário neste sentido”.

Em relação ao impacto do Covid-19 na situação do portfólio do Banco, Pires assegurou que não tem havido nenhum incumprimento e que as pessoas têm estado a conseguir regularizar, regularmente, as suas dívidas e disse que o banco que dirige não se confrontou com tensões de tesouraria devido à pandemia.

Sem apontar números, Rómulo Pires informou que o peso da moeda eletrónica neste momento na Guiné-Bissau tem vindo a crescer, sobretudo nos últimos dias. Contudo, não avançou nenhum dado relativamente à taxa de penetração, ou seja, de bancarização no país.

O Democrata foi buscar elementos junto do diretor do BAO para abordar e perceber quais foram os avanços alcançados pelos bancos comerciais no processo de “resgate aos bancos de 2014”. Em reação, Rómulo Pires esclareceu que não se tratou de um processo de resgate, mas sim “de cedência da carteira de crédito vencido” e referiu que o assunto deixou de ser centro de discussões nos últimos tempos talvez porque as pessoas tenham percebido do que se tratava, “por isso é que nunca mais se falou disso”.

Afirmou que o processo “de cedência da carteira de crédito vencido”, não afetou o funcionamento dos bancos, mas os operadores nessa situação ficam depois limitados no seu funcionamento e, consequentemente, isso terá impactos na economia do país, o que pode gerar menos investimento, emprego, produção, impostos, etc. Avisou que é por isso que os bancos comerciais continuarão a trabalhar na recuperação das carteiras de crédito vencido, recorrente à justiça.

Por: Filomeno Sambú

Foto: F.S

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