Opinião: PELA LIBERDADE DE PENSAMENTO E DE IMPRENSA

A bipolarização que hoje caracteriza a sociedade guineense, resultado dos nossos envolvimentos políticos e cívicos nos últimos anos da crise política ainda vigente, entre muitas das suas consequências, tem possibilitado um desonesto acto de colar tudo e todos com facções políticas em disputa. 

Hoje, torna-se cada vez mais banal constatar que perante actos atentatórios às mais básicas liberdades – como são as liberdades de escolha, de expressão e de imprensa – não faltam argumentos dos que se armam em profetas para a “salvação da pátria”, esquecendo-se porém que nos seus desajeitados argumentos deixa-se transparecer a falsidade da sua missão profética. O facto de muitos entre nós escolherem a mania de atenuar os ataques a que determinados órgãos de comunicação social e seus servidores são alvos, através de um vergonhoso mecanismo de argumentação que procura definir a LIBERDADE a partir de um fingido medo da LIBERTINAGEM, para além de encobrir uma gritante falsidade, expõe uma dificuldade de compreensão: a liberdade é redondamente oposta à libertinagem.

A Guiné-Bissau, apesar de tudo, é um país com uma Constituição e outras leis, com um poder judicial e com estruturas de investigação de crimes como a Procuradoria Geral da República e/ou Polícia Judiciária, pelo que, se através de um órgão de comunicação social ou uma rede social, um cidadão ou uma instituição atentar contra a honra de qualquer outro cidadão ou instituição, os casos devem ser tratados dentro do quadro legal e não através de uso de força ou de aterrorização a pessoas ou instituições. 

É preciso sermos mais específicos? Ora bem! Se uma rádio ou um jornal difundirem informações falsas ou caluniosas sobre um determinado cidadão ou instituição, por que não o visado apresenta uma queixa junto das instituições judicialmente competentes, de modo a responsabilizar quem comete os referidos crimes? Se um cidadão, através de um determinado programa radiofónico ou coluna de um jornal, atentar ao “bom nome” de alguém ou uma instituição, o que custa usar mecanismos de responsabilização judicial contra essa pessoa, ao invés de ataques terroristas e aterrorizadores? As respostas a estas questões cada um dê de acordo com a forma como vê para a questão em abordagem, mas há aqui uma afirmação que não podemos adiar: quem acredita na sua razão não recorre ao uso de força.

É verdade que a profissão jornalística obriga à reportagem dos factos como eles acontecem, à isenção e à imparcialidade, mas é tão verdade que quem reporta não pode embelezar o tosco, o não polido, o rude, et cetera. O que pode um jornalista fazer de verdadeiro, mais do que perguntar ao titular da mais alta função de magistratura de promessas de milhões que fez quando era candidato a umas eleições? Como pode chamar um jornalista a um candidato que toma posse para a mais alta função de magistratura, sem seguir os ditames constitucionais? Que título faria um jornalista a uma notícia em que um concorrente a mais alta figura do Estado chama responsável de outro órgão de soberania de “liombrande”, ou trata os magistrados do Supremo Tribunal de Justiça de “bandidos”, ou ainda chama jornalistas de “bocas de aluguer”, se não a transcrição de cada um desses factos não inventados? E isso é parcialidade?!

Denunciemos todos os actos de libertinagem e se não os praticarmos melhor ainda, já que muitas vezes esquecemos do que somos em relação à pedra que lançamos. Sejamos exigentes aos jornalistas, professores, médicos e todos os servidores públicos, mas não nos esqueçamos de olhar para os nossos actos e certificar do que temos por reparar neles. Não devemos desculpar actos de terror e de silenciamento das nossas vozes, tentativas de eliminar as nossas liberdades mais básicas, sob qualquer pretexto de militância ou simpatia política, porque se a LIBERDADE não for parte dos valores que defendemos enquanto sociedade, estaremos longe da paz social almejada. E não nos esqueçamos, a libertinagem não define a liberdade, não!

Aos jornalistas, órgãos de comunicação social e organizações sindicais afins, o apelo é no sentido de reforçarem o profissionalismo, mas também estarem vigilantes. Sim, vigilantes, porque nada do que tem acontecido nos últimos tempos com a classe é por acaso. Controlar a imprensa através de censura e silenciamento de várias naturezas sempre foram armas usadas por quem almeja ter tudo sob as suas ordens.


Por: Sumaila Jaló, professor e activista

1 thought on “Opinião: PELA LIBERDADE DE PENSAMENTO E DE IMPRENSA

  1. Certo, professor Sumaila. De tudo quanto falou há uma nota importante a reforçar: * A responsabilidade e profissionalismo devem falar mais alto e tudo que fazemos.

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