O contexto atual da economia mundial é caracterizado pela persistência de elevada incerteza, derivada da evolução da pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Assim, a atividade económica tem sido fortemente afetada por interrupções nas cadeias de produção, distribuição e comercialização à escala global. Nos EUA, por exemplo, durante o primeiro e segundo trimestre do ano em curso, verificou-se uma contração mais pronunciada, respetivamente de -5% e -31,4% em termos homólogos. Na Europa, apesar de alguns sinais positivos verificados nos finais do segundo trimestre deste ano (suspensão de medidas de restrição à mobilidade e as políticas de estímulo implementadas pelos governos), as perspetivas de recuperação económica continuam fracas sobretudo despois da confirmação da segunda vaga da pandemia. De acordo com as previsões do Fundo Monetário Internacional, a economia mundial passará por uma forte recessão em 2020, com uma queda de -4,9% do PIB mundial, após um crescimento de 2,9% em 2019.
As economias africanas se demonstraram mais resilientes ao choque, contrariamente às previsões de Março 2020 que apontavam os sinais mais alarmantes, tendo em conta à falta de infraestruturas sanitárias para fazer face à pandemia. No espaço UEMOA em particular, segundo os dados do Banco Central dos Estados da África Ocidental (BCEAO), o Produto Interno Bruto (PIB) apresentou um crescimento de 3,3% no primeiro trimestre de 2020, após 6,5% no trimestre anterior, imprimindo assim, os primeiros impactos da propagação da Covid-19 na economia da zona. Já no terceiro trimestre, à semelhança da Europa, houve algumas melhorias que indicam uma possível recuperação em forma de V ainda em 2021. Isso deve-se, por um lado, ao abrandamento da propagação do vírus no continente africano e, por outro lado, à resposta dada pelos Estados-membros em termos de políticas públicas bem como a política monetária adoptada pelo BCEAO que tende a ser cada vez mais expansionista. Em geral, a economia da União deverá registar um crescimento de 1,3% em 2020 contra 6,1% do ano anterior, segundo os dados do BCEAO.
No plano nacional, o impacto da pandemia é observado principalmente no setor terciário (turismo, hotelaria, transportes e comércio), no qual o valor acrescentado sofrerá uma contração de -4,7%, contra um crescimento de +2% no ano anterior (o peso do setor terciário na economia guineense é de 58% em 2019). O setor secundário acusará uma contração de -1% contra +2% em 2019. Quanto ao setor primário, cujo peso na economia nacional é de 30% em 2019, o seu crescimento será de 4% em 2020 contra 7% em 2019 (ver figura 1).
Relativamente ao setor exterior, a interrupção nas exportações de matérias-primas deverá causar um défice da balança comercial em termos absolutos de 138 bilhões de FCFA. Esta contra-perfomance se explica pelo efeito conjugado da queda de 38% constatada nas exportações e a estagnação das importações na ordem de -0,81% (ver tabela 1). Com efeito, os produtos exportados pela Guiné-Bissau (castanha de caju, madeira etc.) são de natureza pro-cíclica, isto é, estão fortemente correlacionados com a evolução do ciclo económico. Em contraste, do lado das importações, o país é deficitário de produtos de primeira necessidade (arroz, combustível…) dos quais depende a subsistência alimentar e o bom funcionamento das atividades económicas básicas. A título de exemplo, o preço da tonelada de arroz no mercado internacional passou de 424 dólares em Março para 514 dólares em Setembro 2020.
O preço do principal produto de exportação da Guiné-Bissau, a castanha de caju, sofreu uma queda acentuada nos mercados internacionais, passando de 1 070 dólares americanos por tonelada em Setembro de 2019 à 565 dólares em Setembro do ano em curso, ou seja, uma queda de 47%, segundo os dados do BCEAO. Ademais, segundo os recentes dados dos operadores no setor, o país exportou cerca de 150 000 toneladas de castanha de caju em 2020, contra 200 000 toneladas nos anos anteriores. Correlativamente, o crescimento do valor acrescentado do setor primário, dominado pela produção de castanha de caju, deverá passar de 7% em 2019 para 4% em 2020. A sua contribuição no crescimento económico será positiva, na ordem de 1,8 pontos percentuais; a dos setores secundário e terciário será respetivamente de -0,61 e -3,15 pontos percentuais. Consequentemente, a economia guineense deverá sofrer uma queda de 1,9 pontos percentuais.
Figura 1– A Contribuição sectorial no crescimento económico da Guiné-Bissau entre 2001-2020
Fonte: dados do BCEAO, extraídos pelo autor.
No que diz respeito as outras variáveis macroeconómicas, as previsões apontam para um crescimento do consumo interno de 18% em 2020, contra 9% em 2019 e -8% em 2018. O investimento deverá atingir 155 bilhões de FCFA em 2020, ou seja, um crescimento 20% em termos anuais. Nota-se um crescimento exponencial da poupança interna (variável contra cíclica), sendo ela uma parte do consumo presente adiado para o futuro. A poupança bruta de uma nação corresponde ao seu rendimento residual que não foi utilizado na aquisição de bens de consumo final. O ano 2018 foi menos produtivo para a Guiné-Bissau, com taxas de crescimento do investimento e do consumo negativas, em consequência do fraco rendimento observado no setor primário, particularmente na fileira de caju.
Tabela 1- A evolução das principais variáveis macroeconómicas da Guiné-Bissau entre 2018 e 2020
Variáveis macroeconómicas | 2018 | 2019 | 2020* |
Consumo | -7% | 9% | 18% |
Investimento | -22% | 10% | 20% |
Gastos do governo | 3% | 13% | 9% |
Exportações | 30,90% | -0,10% | -38,00% |
Importações | -0,87% | 0,66% | -0,81% |
Poupança interna | -27% | -94% | 536% |
*previsão
Fonte: dados do BCEAO, extraídos pelo autor.
Por: Suleimane DJALO
Economista ID15881
14.11.2020