Zona fronteiriça: “CAÇA” AOS REBELDES DE CASAMANSA CAUSA PÁNICO NA FRONTEIRA ENTRE A GUINÉ-BISSAU E O SENEGAL

A “caça” aos rebeldes do Movimento das Forças Democráticas de Casamansa (MFDC) desencadeada pelas forças armadas da República vizinha de Senegal está a criar pânico nos populares que vivem na linha da fronteira norte entre a Guiné-Bissau e o Senegal. 

O destoar das armas pesadas que as forças especiais do Senegal utilizam no bombardeamento aos rebeldes na barraca de Sekum está a deixar a população da secção de Sedengal, arredores de Ingoré, sem sono. Sedengal é uma secção constituída por várias aldeias e faz parte do setor de Bigene, região de Cacheu no norte da Guiné-Bissau.

Alguns populares daquela secção, por exemplo, os da tabanca de Tarreiro estão privados de acesso às suas quintas (pomares) de cajú que se encontram na linha de fronteira com a República do Senegal.

As quintas passaram a fazer parte da zona de risco, porquanto não podem neste momento circular na zona sob pena de serem atacados pelas tropas senegalesas uma vez que os rebeldes não têm uniformes que os possam distinguir da população da Guiné-Bissau que neste preciso momento estão a braços com a árdua tarefa de limpar as suas quintas de cajú para as preparar para campanha que costuma iniciar em Março.

As mulheres são advertidas pelas Forças Armadas Revolucionárias do Povo (FARP), para não desenvolver neste momento qualquer atividade  agrícola na linha de fronteira, uma vez que não há condições de as nossas forças armadas garantirem-lhes segurança para prosseguirem o cultivo dos campos, alguns estão a menos de 500 metros da linha fronteiriça. Aliás, a opinião é unânime em todas as tabancas por onde O Democrata passou (Papia, Mangomica 1º, Mangomica 2º, Brenguilon, Nhalon e Tarreiro), todos os lugares agrícolas junto à linha de fronteira são considerados, neste momento, que são zona de risco onde não se deve circular nem pastar gado.

POPULAÇÃO DE SEDENGAL DENUNCIA QUE BOMBARDEIROS SENEGALESES VIOLAM ESPAÇO AÉRO GUINEENSE


Os bombardeamentos são frequentes e intensos pelo que não há condições de as FARP garantirem segurança às mulheres que cultivam benon nem aos homens que têm quintas de cajú na linha de fronteira. As bombas das tropas senegalesas já estão a destruir, em algumas zonas de risco, pomares de cajú. 

Foi o que aconteceu com Uié N’Doque de Tarreiro, cuja quinta foi totalmente consumida pelo fogo das bombas das tropas senegalesas. 

Com 17 elementos na família, Uié perdeu uma quinta de cajú de 155 metros de largura e 255 de comprimento. Tudo porque a sua quinta está situada quase por cima da linha da fronteira. Como se não bastasse, os rebeldes tinham-no para não voltar à sua quinta porquanto estavam a preparar-se para a travar uma enorme batalha contra as tropas especiais senegalesas.

Mas, não chegou a haver nenhuma batalha, porque os aviões das tropas senegalesas bombardearam o Estado-Maior dos rebeldes estabelecido na floresta Sekum e o fogo alastrou-se consumindo toda a quinta de de Uié  que hoje vive desemparado, em Tarreiro.Não foi fácil O Democrata convencê-lo para ir visitar a sua quinta agora em cinzas na zona de risco. 

Aliás, toda população de Tarreiro considerava a visita à quinta de Uié N’Doque um enorme risco. Todos consideravam que era suficiente as suas declarações em casa no Tarreiro. Não se justificava uma deslocação de O Democrata ao local para constatar “in loco” aquilo que ele próprio chama agora de desgraças que bateu este ano a porta da sua família.

Quando Uié N’Doque ganhou coragem para acompanhar o repórter de O Democrata a zona de risco para mostrar a desgraça que o fogo das bombas das tropas especiais de Senegal “implantou no coração da sua família”, apareceu também Alficene Bangura a testemunhar que a sua quinta foi igualmente consumida pelo fogo de bombardeamento das tropas especiais senegalesas.

Em todas as tabancas da secção de Sedengal, a opinião é unânime que os aviões militares senegaleses têm violado o espaço aéreo da Guiné-Bissau. Por outro lado, O Democrata constatou que todas estas tabancas estão protegidas pelas forças armadas guineense e efetivos da brigada de Guarda Nacional. 

Em declaração a nossa reportagem, os populares das referidas tabancas garantem que não vão abandonar as suas tabancas para procurarem refúgio,  porquanto estão muito bem protegidos pelo exército da Guiné-Bissau.

Por: António Nhaga, Enviado Especial

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