[REPORTAGEM fevereiro_2021] As atividades das pescas ilegal através da utilização de técnicas não apropriadas, a invasão de pescadores estrangeiros que acampam nas zonas da reserva da biosfera, os cortes de madeiras nas ilhas e o crescimento demográfico, constituem uma ameaça séria aos recursos haliêuticos, em particular, às aves aquáticas e emigratórias, hipopótamos e tartarugas marinhas no Parque de Orango Grande.
A denúncia das atividades ilícitas no Parque foi feita pelo Coordenador da Reserva de Biosfera do arquipélago de Bolama Bijagós e diretor de Casa do Ambiente de Bubaque, Quintino Tchantchalam, durante uma entrevista concedida ao nosso semanário para falar da situação do Parque de Orango e das queixas sobre as tentativas de corte de madeiras nas aldeias próximas do parque e das atividades das pesca ilegal naquela zona.
O Parque Nacional do Orango Grande, encontra-se no Arquipélago dos Bijagós e compreende as ilhas de Orango, Orangozinho, Menegue, Canogo e Imbone e os ilhéus de Adonga, Canuopa e Anhetibe. Tem uma superfície de 158 235 hectares e a parte continental conta com 576,9 quilómetros quadrados.
O parque foi criado pelo governo em dezembro de 2000 e a sua gestão foi atribuída ao Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas (IBAP) – “Dr. Alfredo Simão da Silva”, com o intuito de proteger e valorizar os ecossistemas, assegurar a conservação da diversidade biológica e uma utilização sustentável dos recursos naturais em prol da promoção do desenvolvimento social das populações.
O parque conta com uma população estimada em 2 268 (dois e duzentos sessenta e oito) habitantes e repartidos em 33 aldeias, sendo a maioria da etnia bijagós, constatou o repórter do Jornal O Democrata, integrado numa equipa de 15 profissionais de comunicação social, entre os quais, jornalistas de diferentes órgãos, membros da rede de jornalistas ambientalistas “Eco Jornalistas” e gestores das redes sociais (influciadores sociais).
O grupo efetuou na semana passada uma missão ao arquipélago dos Bijagós juntamente com técnicos do IBAP, com o propósito de dotá-los do conhecimentos sobre a filosofia de conservação da biodiversidade na Guiné-Bissau, pela difusão de informações a nível nacional e internacional.
A visita iniciada em Bubaque, depois estendeu-se para a ilha de Imbone, onde se encontra um grande número de hipopótamos. Depois a comitiva seguiu para as ilhas de Anghor e Orango, concretamente na aldeia de Etigoga.
Ainda de acordo com as informações apuradas, as principais atividades do parque são a monitorização e seguimento de espécies, essencialmente da avifauna, tartarugas marinhas e do hipopótamo como também a fiscalização das atividades da pesca no interior do parque e outras como a animação e sensibilização sobre a necessidade de conservação dos recursos do parque, apoio à gestão de iniciativas do desenvolvimento local, reforço de capacidades, intercâmbio e troca de experiência.
CERCA DE UM MILHÃO DE AVES EMIGRATÓRIAS FREQUENTAM AS ILHAS DE BIJAGÓS
Em entrevista ao Democrata, o Coordenador da Reserva Biosfera do Arquipélago de Bolama Bijagós igualmente diretor de Casa de Ambiente de Bubaque, Quintino Tchantchalam, afirmou que a reserva da biosfera gere toda a região administrativa de Bolama e Bijagós. Explicou que a atividade de conservação do Parque foi iniciada desde o primeiro inventário realizado em 1978 por uma agência canadiana denominado “CCI”, seguindo-se estudos sócio económicos realizados em 1988. Sublinhou que o trabalho da agência canadiana foi seguido pela União Internacional de Conservação de Natureza (UICN) na Guiné-Bissau nos anos de 1990 que culminaram com a criação dos primeiros parques em 1997 e que mais tarde foi interrompido por causa do conflito político e militar de 7 de junho de 1998.
Assegurou que em 2000 e já depois do conflito, foi possível concretizar o processo da criação do Parque Nacional de Orango e Parque Nacional Marinha João Viera Poilão e em 2005, foi criada também a Área Marinha Protegida Comunitária das ilhas do Urok por isso, os três parques que estão na reserva da biosfera coincidem na zona central e resto de partes são zonas de tampão.
Tchantchalam informou que foram realizados vários trabalhos entre os quais estudos, pesquisas e formações nos anos de 2005 até 2010 e em 2012, a Guiné-Bissau, pela primeira vez, tentou submeter uma candidatura de reserva de biosfera a sítio de património misto, quer dizer natural e cultural, mas foi indeferido e o Comité Científico das Organizações das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) deixou várias recomendações, após uma missão de avaliação.
Acrescentou que entre as recomendações deixadas, aconselharam a Guiné-Bissau para trabalhar nos aspetos que acharam que não estavam devidamente trabalhados nomeadamente: a questão da grandeza dos limites da reserva, o sistema de governação ou gestão da reserva, como também dotá-lo de um estatuto jurídico de proteção, através de um decreto lei do Estado guineense e a definição da zona do próprio sítio de património.
Afirmou neste particular que a partir daquele período, o IBAP lançou uma estratégia para identificar possíveis financiadores e encontrou a Fundação MAVA que prontificou financiar essa atividade e através da qual elaborou-se um projeto que devia terminar em 2020, mas houve vários sobressaltos que não permitiram realizar alguns trabalhos. Frisou que renegociaram com a fundação MAVA que aceitou a extensão por mais dois anos e neste momento estão a responder a várias recomendações, prova disso, em 2014 a reserva da biosfera foi classificada como sítio Ramsar, quer dizer zona húmida de importância internacional e os restos das recomendações estão a ser trabalhados e acredita que até final do projeto em 2022 podem concluir a implementação dessas recomendações.
“A reserva da biosfera é muito importante no sentido de continuar a preservar aquilo que temos até neste momento, razão pela qual está inscrito na rede da biosfera que existe no mundo como também na rede da reserva de biosfera lusófona.
Cerca de um milhão de aves migratórias frequentam o país, concretamente nas ilhas de Bijagós em cada temporada. Diferentes tipos de tartarugas marinhas, das sete que existem no mundo, cinco ocorrem na reserva da biosfera, o Papagaio Cinzento que as vezes era confundido com aqueles que vivem na África Central há vários anos, mas só em 2014 conseguimos diferenciar as duas espécies. Fizemos um inventário a nível do país e por sorte acabamos por saber que todos os papagaios que temos, vivem nas ilhas de Jeta, Peciche e Bijagós e de acordo com o mesmo inventário, foram registados entre 250 a 750 indivíduos de Papagaios e 40 por cento deles pode ser encontrados no Parque Nacional de João Viera Poilão, de maneira que devem ser protegidas porque constam na lista vermelha das aves ameaçadas de extinção”, sublinhou.
Sobre os recursos haliêuticos que o arquipélago de Bijagós dispõe, Quintino Tchantchalam explicou que as atividades de fiscalização das autoridades máximas do país através do FISCAP, muitas vezes não ocorrem da melhor forma possível, devido à falta de meios invocada todos os dias, sendo obrigados a lutar a nível dos parques para fazer o mínimo, para minimizar os danos causados por pescadores. Adiantou que no passado a Guiné-Bissau era classificada na décima posição a nível mundial em tartarugas marinhas, sobretudo tartarugas verdes, mas últimos estudos feitos em “Djiu de Poilão” é notado que o país está em sexta posição, não na décima, em comparação com a dimensão das praias nacionais em relação às outras praias do mundo nomeadamente das Caraíbas e Ilha de Assunção, chega-se à conclusão que a Guiné-Bissau está à frente.
O coordenador da reserva de biosfera lamentou que, apesar das riquezas que o país dispõe nomeadamente, em termos de recursos haliêuticos, aves aquáticas e imigratórias, hipopótamos, tartarugas marinhas e entre outras, continuam a ser verificadas ameaças, sobretudo resultantes da pesca ilegal e da pesca não declarada, devido a utilização de técnicas não apropriadas nessas atividades. Acrescentou que houve invasão de pescadores estrangeiros e que até este momento continuam os acampamentos na reserva de biosfera, tentativas de cortes de madeira nas ilhas, crescimento demográfico que também é notável e que está a originar conflitos nos parques, devido à apropriação de espaços e problemas de posse de terra ou seja é verificada a venda de terra de forma desorganizada, tanto por ocupantes tradicionais como pelas administrações locais para fins de turismo.
Ouvida pelo repórter, a responsável da Comunicação do IBAP, Udimila Queta, informou que na estratégia da comunicação do IBAP, constam realizações de intercâmbio de proximidade com os órgãos da comunicação social, razão pelo qual convidaram quinze profissionais entre quais jornalistas, produtores audiovisuais, fotógrafos e influenciadores sociais no sentido de conhecerem os trabalhos desenvolvidos por aquela entidade.
Adiantou que objetivo do intercâmbio de proximidade é promover os trabalhos feitos e constatar os recursos que a reserva biosfera de Arquipélago de Bolama Bijagós dispõe a fim de poder passar informação para a comunidade como forma de gerir os recursos naturais e haliêuticos para as gerações vindouras.
Por: Aguinaldo Ampa
Foto: Albano Barai