Qualquer comunicólogo com perfil de consciência comunicacional fica com a ideia clara de que há uma enorme distância cognitiva entre os valores da objetividade da opinião publicada que circula nos media nacionais, em particular, nas redes sociais com os da opinião pública.
Também não é menos verdade que semióticamente não se conseguiria facilmente descortinar as convicções e os valores dos objetivos de várias opiniões publicadas na nossa esfera pública nacional.
A opinião publicada não tem um grau de solidez e de energia para agitar um tribunal da opinião pública no nosso país, que permitiria que os cidadãos guineenses agissem com competência à escala do Estado do Direito Democrático estabelecido no nosso país.
Mesmo numa imprensa crítica, uma opinião publicada não tem um dispositivo de um tribunal de opinião pública. Neste contexto, a nossa imprensa também não consegue ser um olhar que traz à luz os segredos da política e das forças ocultas de muitos homens públicos que hoje atuam na nossa sociedade para o tribunal da opinião pública.
Pois, a opinião publicada não tem os mesmos poderes que opinião pública que é filha da razão que expressa a vontade coletiva através de debates de ideias, da liberdade de expressão do pensamento e da liberdade de imprensa.
A opinião publicada não tem caráter racional e comunicacional que formam os pilares da construção do sentido da moral e da ética da opinião pública. Infelizmente, os comunicólogos da Guiné-Bissau ainda não assumiram ou não querem assumir a erosão da legitimidade da opinião pública nacional provocada por uma avalanche de opiniões publicadas na nossa esfera pública.
Na Guiné-Bissau dificilmente uma opinião publicada terá, na imprensa como a nossa, o impacto pretendido nas decisões governamentais e na Sociedade Civil de modo a dinamizar e generalizar os debates públicos. Porque infelizmente a generalização da opinião publicada na esfera pública nacional dizimou por completo o poder da opinião pública como uma espécie de um juiz cuja atuação no nosso Estado de Direito democrático seria de extrema importância na nossa vida política democrática.
Nós vivemos numa sociedade amalgamada de uma narrativa discursiva de ódio que se confunde com a opinião pública. Isso leva os influenciadores de nativos digitais das redes sociais a entrarem numa espécie de falência de sentido de um certo entendimento da distância da opinião pública e da opinião publicada e da opinião do público. A ausência da distinção das três opiniões (opinião pública, da opinião do público e da opinião publicada) faz com que a Guiné-Bissau seja um país marcado por profunda crise de desconfiança social e política. Assim, a opinião pública continua a ser, apenas, uma mera referência fundamental da nossa teoria política democrática. Por outro lado, a tecnização da opinião publicada na Guiné-Bissau levou também à legitimidade da opinião pública guineense a mergulhar-se numa profunda erosão social, assassinando a sua reputação social na nossa sociedade política.
Hoje na Guiné-Bissau não existe uma verdadeira opinião pública. O que existe, na verdade, é “opinião-quási-pública” que comercializa a imposição da opinião publicada nas instâncias de formação da opinião pública nacional. A mediatização tecnológica da opinião publicada é apenas uma realização de um corte técnico da realidade social que já não tem significado da opinião pública na nossa esfera pública. É uma mera realização técnica abstrata quantificável e estandardizada que não tem nada da opinião pública.
Na Guiné-Bissau, vivemos numa sociedade de inversão de relações entre a opinião publicada e a opinião pública. Já não é a opinião pública que conduz os debates de ideias, da liberdade de expressão do pensamento e liberdade de imprensa, mas sim é a opinião publicada da classe política que os influenciadores de nativos digitais vendem nos media e nas redes sociais. Não há, assim, no nosso país uma verdadeira produção de opinião pública crítica e racional. Dos poucos produtores de opinião pública que existem, hoje no nosso país, todos estão quase mergulhados numa erosão de legitimidade na produção tecnizada da opinião pública. O que leva a população em todo o território nacional a consumir mais a opinião publicada do que a opinião pública. O conteúdo de uma opinião publicada não reúne as ferramentas com conceitos semióticos que desafiam a consciência pública dos guineenses que vivem no país, em África e no mundo em geral.
António Nhaga
Diretor-Geral