
Na sequência de declaração do ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Jean Yves Le Drian, qualificando as autoridades de transição no Mali de ‘ilegítimas e irresponsáveis”, a decisão de expulsão do diplomata caiu sem demora. A junta deu 72 horas para fazer as malas. A França, conhecida com a habilidade em lidar com bons e maus golpes, não tem moral para vestir o capote de “júri” do processo transitório no Mali!
O filho de Idriss Deby tornou-se Presidente de República no Tchad com o apoio incondicional do governo francês e aí a legitimidade, a legalidade, a responsabilidade, não existem? França não quer saber nada!
Na Guiné Conacri, ali pertinho, a transição até hoje não tem um calendário definido e ninguém vê o mesmo “nervosismo” dos padrinhos da democracia a imporem a mesma regra de jogo, a dar as mesmas ordens!
A última medida de “despachar” o diplomata gaulês em funções em Bamako é mais uma confirmação em como o regime transitório (que tem apoio forte dos Malianos) sabe o que quer, para onde vai e desde logo não será divertido pouco menos admitirá a falta de respeito de sempre com traces de coloniasmo.
Os Malianos querem a segurança e tranquilidade e é o que os regimes sucessivos naquele país não souberam fazer e mesmo com a benção da França! Os Malianos e Africanos em geral já estão fartos de narrativas vazias que servem apenas a adormecer o povo!
A declaração de Le Drian confirma a atitude de desprezo e sempre inspirada na lógica colonizador – colonizado. Até aqui, os regimes em África mesmo beneficiando de importante apoio popular não se sentem confortáveis enquanto a França der a sua “benção”! É o que permite aos dirigentes e políticos franceses insultar os regimes “hostis” depois de tomar um champanhe!
No caso do Mali, a questão de fundo não é a democracia! Já o dissemos várias vezes. O argumento de retorno à ordem constitucional só serve a distrair os menos atentos. A verdade é que quem até aqui comandava e descomandava, distribua as cartas ao belo prazer, pela primeira vez sentiu-se ameaçada. Dois motivos estão atrás desta hesitação toda: a chegada de outros parceiros também com seus interesses e a postura autonomista dos dirigentes actuais no Mali em defender a soberania nacional o que os sucessos dirigentes eleitos nunca souberam fazer. Com a eleição rápida no país, França poderia negociar um novo “aliado” legitimado nas urnas e tentar colar os pedaços da influência à beira de um inviável colapso.
O perímetro geo-estratégico está cada vez mais cerrado e a França sem grandes escolhas prefere a distração e instrumentalização dos seus afiliados da CEDEAO para travar o Assimi Goita e companheiros. Não é assim muito tarde?
O regime em Bamako sabe perfeitamente que não tem carta branca. Os uniformes, as armas e as balas serão insuficientes para conter a revolta popular perante traição e furto aos objectivos traçados no roteiro de transição. As autoridades sabem bem que o populismo e propaganda não enchem a barriga de quem tem fome. O único é trabalhar para resgatar a dignidade do povo maliano, que seria partilhada com seus irmãos de África!
Queremos que o tempo nos desmente nisto: o sono profundo da França e demais aliados não lhes permitirá reconhecer a direção de novos ventos em África e a esse ritmo as surpresas serão surpresas para os que dormiram demais!
Por: Armando Lona,
Editor Chefe
Agradeço muito este artigo isento, basiado num jornalimo transparente e pan africano.
Peço aos nossos jornalistas para abrir um debate sobre a politica francesa em africa, sobre o bem significado da democracia real. Sobre as manegancias da comunidade internacional em obaervacao das eleiçoes em africa?