[ENTREVISTA_março_2022] O antigo deputado e dirigente do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Mário Dias Sami, criticou duramente os dirigentes daquela formação política que, segundo a sua explicação, aproveitam a posição do partido para se enriquecer. Acrescentou que se fosse “bandido e imoral” como aquelas pessoas, teria tido os mesmos pensamentos ou comportamentos e aproveitar o partido para se enriquecer a todo custo.
Sem apontar dedo a ninguém, Mário Dias Sami denunciou que há um grupo de dirigentes do PAIGC que se enriqueceram num espaço de um ano, porque roubaram ao Estado. Embora tenha esse assunto como uma preocupação no seu projeto político, Sami preferiu adiar as acusações e ataques para o congresso ordinário dos libertadores.
O político e ex-secretário de Estado das Pescas destacou três eixos do seu projeto político, caso vença o congresso, nomeadamente: reunificação, redinamização e transformação do PAIGC. Ou seja, não permitir que as bases partidárias (regionais, setoriais e das secções) do partido funcionem apenas nos períodos eleitorais e defendeu que tem que ser um trabalho permanente.
“QUEM TRAI O POVO É INIMIGO DO POVO. TENHO AS MÃOS LIMPAS EM TUDO QUE PARTICIPEI” – DIAS SAMI
Em relação às vozes críticas que apontam a candidatura de Mário Dias Sami à liderança do PAIGC como um suicídio política, o político e uma das vozes críticas à liderança do presidente cessante do partido, Domingos Simões Pereira, qualificou essas vozes como “pessoas analfabetas na política”, sustentando que filiar-se numa formação política não significa ser político.
“Um partido de esquerda é um partido com a ideologia voltada para satisfazer o interesse do povo. Eu identifico-me mais com qualquer programa que tenha como foco satisfazer o interesse do povo. Ou seja, a minha ideologia, os meus pensamentos, a forma de captar imagem, concepção filosófica e a convição política estão ligados a satisfação do interesse do povo”, vincou.
O ex-deputado da nação na IX legislatura disse ter deixado bom legado no mistério das pescas, do qual essas vozes devem tirar referência, a partir das suas ações como Secretário de Estado das Pescas, que levaram o país ao perdão das dívidas, em vez de questionar a sua candidatura ou pensar que isso representa um suicídio político.
“Essas pessoas que apontam a minha candidatura como um suicídio político devem ser-lhes apontadas canhões, não contra mim. Não é admissível que seja no PAIGC que as pessoas devem enriquecer-se. Se eu fosse bandido e imoral como essas pessoas, teria tido os mesmos pensamentos o mesmo comportamento que tiveram de enriquecer a todo custo através do partido. A causa da minha luta é a razão da minha candidatura. A minha luta é permanente, porque o sofrimento do povo não só da Guiné-Bissau como no mundo é cada vez maior”
Sem apontar dedo a ninguém, Mário Dias Sami denunciou que há um grupo de dirigentes do PAIGC que se enriqueceram num espaço de um ano, porque roubaram ao Estado. Embora tenha esse assunto como uma preocupação no seu projeto político, Sami preferiu adiar as acusações e ataques para o Xº congresso ordinário do partido.
“São jornalistas podem investigar e vão, com certeza, encontrar fatos e as evidências que indicam que dirigentes do PAIGC roubaram ao Estado, construíram casas e traíram o povo. Quem trai o povo é inimigo do povo. Felizmente, para chegar onde estou, escolhi sempre a pureza e tenho as mãos limpas em tudo o que participei. Quando dirigi o setor das pescas tinha um processo naquele ministério que depois levou muitas pessoas para prisão, mas não fui acusado”, enfatizou.
Um dos candidatos à liderança do PAIGC, referiu que a sua candidatura não se trata de uma simples aventura e está desprovida de qualquer intenção de mandar, razão pela qual está longe de ser um suicídio para a sua carreira política. Sustentou que é chegada a altura de salvar o povo da Guiné-Bissau, não o PAIGC, porque a sua dimensão política ultrapassa a de qualquer tipo de formação política.
“Decidi candidatar-me para liderar o PAIGC para libertar o povo da opressão e de abusos dos governantes e minimizar o seu sofrimento. A dominação de um povo não se limita apenas à dominação estrangeira. Os espancamentos que ocorreram no país são uma forma de opressão nacional e abusos perpetrados pelos governantes. Temos que lutar para acabar com golpes de Estado e a subversão da ordem constitucional”, salientou.
DOMINGOS SIMÕES PEREIRA USA OS SEUS APOIANTES PARA HUMILHAR OS SEUS ADVERSÁRIOS NO PARTIDO
Mário Dias Sami destacou três eixos do seu projeto político caso vença o congresso, nomeadamente: reunificação, redinamização e transformação do PAIGC. Ou seja, não permitir que as bases partidárias (regionais, setoriais e das secções) do partido funcionem apenas nos períodos eleitorais e defendeu que o trabalho tem que ser um trabalho permanente.
Para Mário Dias Sami, as divergências internas que se vivem dentro do partido são derivadas de ambições e de interesses individuais dos dirigentes, porque o interesse do partido é dirigir e desenvolver o país.
O político desafiou os seus adversários políticos internos a provarem se alguma vez aliciou os militantes para votarem nele, frisando que as vozes críticas à sua candidatura decidiram adotar tal postura, porque não estão a acompanhar os mecanismos viáveis e a forma mais fina de fazer funcionar a democracia.
“Vou aguardar até ao congresso. Não quero incendiar nada agora”, disse, salientando que o PAIGC deve ser protegido de agressões e ingerências externas, bem como de pessoas que estão a tentar imiscuir-se nos assuntos estritamente internos do partido.
“Quem quer contribuir para o bem do partido tem que estar dentro, não pode fazê-lo de fora. Há intenções maléficas de estragar o partido através de infiltração de pessoas estranhas ao partido. Temos que proteger o partido”, insistiu.
Questionado se a liderança de oito anos de Domingos Simões Pereira foi ou não um fracasso para o partido, Mário Dias Sami lembrou que quando o governo de Carlos Gomes Júnior (Cadogo) foi derrubado em 2005, não houve nenhuma perturbação. Também não apontou dedo acusador a ninguém com fracasso do PAIGC nos últimos anos.
“Depois de Cadogo, veio Aristides Gomes e Martinho Ndafa Cabi. A partir desse momento, o Presidente da República decidiu formar um governo de iniciativa presidencial, colocando o falecido Carlos Correia. As pessoas que assessoravam Carlos Gomes Júnior invadiram todos os ministérios. Colocavam e tiravam quem queriam que fosse colocado ou tirado de um determinado ministério. Depois das eleições de 2008, o partido conseguiu 67 deputados e o PAIGC fez quatro anos de mandato sem interrupção”, lembrou.
Dias Sami não ficou por aqui, fez uma radiografia gráfica e análise comparativa de projecções que o PAIGC teve em diferentes pleitos eleitorais, destacando que em 1999, o partido conseguiu 24 mandatos. Em 2004, o PAIGC saiu de 24 para 45 mandatos, mais 21 do que em 99. Em 2008, o partido conseguiu 67 mandados.
“Infelizmente, depois de termos atingido a altura máxima, começamos a cair de 67 para 57 e deste para 47 mandatos”, lamentou.
O antigo secretário de Estado das pescas foi crítico à forma como os subscritores da carta que requeria a convocação da reunião do Comité Central do partido, realizada 20 e 21 de janeiro deste ano. Segundo Dias Sami, depois de terem enviado a carta ao presidente do PAIGC foram obrigados a ler a carta na reunião como se o destinatário nunca tivesse visto a carta.
Em tom de revolta, Mário Dias Sami pediu ao Domingos Simões Pereira que não se arme em esperto porque tem estado a enganar-se politicamente, utilizando seus aliados para humilhar seus adversários, como foi o que aconteceu na reunião do Comité Central e o tratamento dado à carta que solicitava a sua convocação, porque “Domingos Simões Pereira não chega nem sequer a um terço do conhecimento que tenho do PAIGC e da política “.
“Um intelectual não coloca a esperteza no relacionamento. Quem se julga esperto é a pessoa mais porca e burra!”, afirmou.
Para Mário Dias Sami, solicitar o envio de uma força estrangeira para estabilizar o país é “contraditório” e constitui um ” retrocesso ” ao processo de desenvolvimento do país, porque ” se tudo isso acontecer é porque não temos um presidente da República”.
“Eu, pessoalmente, não tenho Presidente da República nem chefe. Sissoco Embaló não é o meu Presidente. Não podemos sacrificar o esforço demostrado pelos nossos valentes combatentes, ao ponto de solicitar o envio de uma força estrangeira. Os nossos homens das forças armadas estão à altura de fazer face a qualquer obstáculo, porque demostraram o que valem na luta de libertação nacional “
Mário Dias Sami acusou Umaro Sissoco Embaló de falta de capacidade para dirigir o país, porque ” produziu uma lista com nomes de militares que estariam envolvidos na tentativa falhada de golpe de Estado para incendiar o país”.
“Quer copiar a política Adolf Hitler, a minha luta e o pensamento de Benito Amilcare Andrea Mussolini mas não pode, porque não conhece as suas ideias, aliás, não leu nenhum dos pensamentos dos dois”, indicou.
Mário Dias Sami disse que as pessoas que estão a ser acusadas de tentativa de golpe de Estado por Umaro Sissoco Embaló merecem ser tratadas com dignidade, caso contrário estará a construir um novo caso para desenterrar o caso 17 de outubro de 1986.
Questionado se há possibilidade de vir a desistir a favor de Domingos Simões Pereira, tendo em conta a atual situação vigente no partido e pressão externa sobre o líder do PAIGC, Dias Sami descartou qualquer possibilidade e salientou que quem deve fazê-lo é Domingos Simões Pereira.
Apesar de ser crítico à liderança de Domingos Simões Pereira, Sami frisou que o interesse do partido sempre deve ser protegido, tendo aconselhado DSP a abster-se de se chamar de presidente do PAIGC porque terminou o seu mandato.
“Não pode querer ganhar uma coisa passando por cadáveres dos seus colegas. Talvez só isso possa levar-me a desistir, mas não a favor de alguém. Os jovens que estão a concorrer à liderança do país têm a única ambição que é a de ser primeiro-ministro”, criticou.
Em análise à situação política vigente no país, Mário Dias Sami responsabilizou todos que criaram condições para que Umaro Sissoco Embaló fosse eleito Presidente da República.
“O povo não tem culpa disso, nem os eleitores que votaram nele. Os culpados dessa história são os atores políticos guineenses, que fazem política de oportunismo”, salientou, para de seguida afirmar que a campanha eleitoral tem mais força que a campanha de comercialização de castanha de caju, devido aos meios financeiros que são alocados para aliciar os eleitores.
Por: Filomeno Sambú
Foto: Marcelo Na Ritche