Conflito de posse de terra: UM ÓBITO E QUATRO FERIDOS A BALA NO CONFRONTO ENTRE POPULARES DE ELIA E ARAME

A disputa sobre posse de terra entre os populares das aldeias de Elia e de Arame resultou na morte de uma pessoa e quatro feridos a bala, estando dois em estado grave.

Elia e Arame estão localizadas na secção de Suzana, setor de São Domingos, região de Cacheu, no norte da Guiné-Bissau.

As duas tabancas estão em conflito de natureza fundiária desde 2012. A aldeia de Arame reclama a posse de terra de uma zona geográfica onde os populares de Elia plantaram pomares de cajú. A disputa é motivo da suspensão da campanha de recolha de cajú naquela zona há três anos.

Esta sexta-feira, 10 de junho de 2022, registou-se um confronto entre os populares das duas aldeias, resultando em um óbito e quatro feridos, dos quais dois em estado grave e que devem ser evacuados para Bissau.

O Democrata apurou junto do serviço de urgência do hospital de São Domingos, que o homem morto tinha 35 anos de idade e que foi atingido por uma bala no coração.

Em conversa telefônica, o médico clínico geral, Domingos Amadeu Pereira, confirmou que deram a entrada no serviço de urgências quatro pessoas com feridas provocadas por balas.

“Recebemos neste momento quatro pessoas feridas e mais uma que entretanto faleceu quando estava a ser transportado para o hospital. Os feridos estão agora estáveis e não correm para já perigo de vida”, disse, acrescentando que vão evacuar duas pessoas para Bissau, porque precisam de uma intervenção cirúrgica especial para retirar balas.

Segundo o médico, o malogrado foi atingido no tórax, tendo a bala penetrado e atingindo alguns órgãos internos, sobretudo o coração. Afiançou que o malogrado sangrou muito e não resistiu, acabou por morrer enquanto era transportado para o hospital.

“Ouvimos esta manhã tiros de armas tipo AK-47. Os sons das balas pareciam-me os de uma guerra entre o exército senegalês e da Guiné-Bissau, mas eram os do confronto entre as populações de Elia e de Arame”, explicou ao nosso jornal, o presidente da Associação de Filhos e Amigos de Elia, durante uma conversa por telefone.

Nelson Sanhá disse que o confronto resultou em três feridos, mas frisou que neste momento a situação está calma. Acrescentou que as forças de segurança já estão na aldeia, contudo criticou a chegada tardia das forças de segurança, apesar de muito depressa terem sido informados da situação.

“Desde o início do conflito de posse de terra nessa zona que degenerou em violências já foram mortas quatro pessoas, todas da aldeia de Elia”, contou.

Sobre o confronto desta sexta-feira, explicou que os populares de Elia acabaram por decidir que iriam recomeçar a apanhar as castanhas de cajú na sua mata [que se encontra na área em disputa com Arame] onde muita gente tem os pomares. Os populares de Elia nunca concordaram com isso.

“Essa situação tem criado confrontos entre as partes. Houve uma iniciativa de mediação de diversas entidades, inclusive da Associação de Filhos e Amigos da Secção de Suzana [AOFASS], infelizmente nenhuma iniciativa teve sucesso” lamentou, acrescentando de seguida que de há uns anos para cá tem havido confrontos neste período por causa da colheita de castanha de cajú naquela zona.

Contactado por telefone, o comité de tabanca de Arame, Moimu Sanhá, explicou que os populares de Arame foram surpreendidos esta manhã com tiros de armas nos pomares de cajú por parte de populares de Elia.

“A nossa população foi atacada esta manhã nos pomares de cajú. Os habitantes de Elia foram para o espaço em conflito e viram ali a nossa gente, logo começaram a atirar contra elas”, contou.

Explicou ainda que entre os dias 14 e 16 de maio último, duas casas foram incendiadas numa povoação de Bussali, habitada por manjacos que constituem a maioria da população daquela área.

“Pessoas por identificar foram à noite naquela aldeia e atiraram com armas de fogo contra as populações e incendiaram duas casas. Deslocamos àquela aldeia, inclusive as forças de segurança ver o que se estava a passar. Os nossos vizinhos (Elia) disseram que não tinham nada a ver com o ataque contra a aldeia de Bussali”, contou.

Informou que na manhã desta sexta-feira, por volta das 7 horas, ouviram tiros de armas na mata, por causa do confronto entre as populações de Arame e Elia. Sanhá disse desconhecer que tinha havido um óbito, mas confirmou dois feridos, dos quais uma pessoa da sua aldeia (Arame) e outra da aldeia de Cassu.

Por: Assana Sambú

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