O antigo embaixador da vizinha República da Gâmbia para a Guiné-Bissau, Cabo Verde e a Guiné-Conacri, Abdu Jarju, alertou que a assunção da Guiné-Bissau à testa da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), nesta circunstância particular, não será uma tarefa fácil, porque são “desafios múltiplos”.
“Os desafios internos da construção da coesão social e da democracia, um país com um governo de iniciativa presidencial depois da dissolução da Assembleia Nacional Popular”, disse o professor de Ciência Política e Relações Internacionais nas Universidades Colinas de Boé e Jean Piaget.
Abdu Jarju disse que o país assumiu a direção da CEDEAO num momento em que três países sofreram golpes de estado e estão sob gestão de governos de transição.
“Portanto, a nossa casa tem de ser um exemplo de democracia, temos de criar mecanismos que garantam que a Guiné-Bissau seja um país mediador de crises, não um país de crises. Se os outros países do bloco começarem a ter dúvidas da gestão do nosso país, isso vai influenciar qualquer decisão ou posição que se queira tomar em relação a um ou outro Estado membro”, salientou.
Abdu Jarju fez essa observação em entrevista ao Jornal O Democrata para falar de ganhos diplomáticos que a presidência rotativa da CEDEAO, agora na vez da Guiné Bissau através do presidente Sissoco Embalo, pode trazer para o país.
Jarju disse esperar que até dezembro deste ano, o país possa encontrar estabilidade institucional para poder realizar muitas coisas.
“As pessoas podem ser críticas à minha análise, mas é verdade que a Guiné-Bissau conseguiu um passo importante na sua diplomacia. O antigo presidente do meu país, por exemplo, Yahya Abdul-Aziz Jemus Junkung Jammeh, tentou por 22 anos, não conseguiu o que Sissoco Embaló conseguiu em dois anos do seu mandato. Quando se vê um presidente que acaba de chegar ao poder conquistar em dois anos, a liderança da CEDEAO, é um passo inquestionável e de reconhecer que a diplomacia guineense está de parabéns”
Segundo Abdu Jarju, o país pode tirar mais ganhos deste feito, se convencer o mundo que a imagem que está a vender externamente é a mesma que tem internamente porque, se a Guiné-Bissau tiver ordem internamente, será um ganho não só no plano da construção da imagem de forma isolada, como também potenciais investidores poderão vir se se sentirem seguros.
O também docente universitário disse que vê para já nenhum entrave que possa comprometer a realização das cimeiras da CEDEAO no país, visto que tem infraestruturas consideravelmente avançadas para acolhê-las.
“O problema da segurança é apenas uma questão de construção. Acho que todo o povo guineense deve vir trabalhar com as autoridades e perceber que esse é um ganho nacional, da diplomacia do povo guineense, não individual”, enfatizou.
Abdu Jarju parabenizou os esforços diplomáticos da Guiné-Bissau e do Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, e disse que na perspetiva política, trata-se de um passo histórico desde a assunção de Umaro Sissoco Embaló à Presidência da República, porque tem priorizado a ação diplomática, embora tenha trabalhado essa componente com grandes desafios.
“A eleição à testa da CEDEAO é resultado de um longo período de tempo de trabalho. No plano diplomático, não se conquista algo assim num só dia. É um processo e temos que reconhecer que é uma conquista do Ministério dos Negócios Estrangeiros, da diplomacia guineense e do Presidente da República”, frisou
Questionado como a Guiné-Bissau vai trabalhar para tirar proveitos dessa oportunidade, Abdu Jarju frisou que o país já ganhou com o anúncio da decisão da sua eleição para liderar a presidência rotativa da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), um “processo que se iniciou com a construção da imagem do país”.
O diplomata gambiano disse que ” a imagem que as pessoas tinham da Guiné era de um país instável, em permanentes convulsões e que não encontrara o caminho certo de diálogo para seu progresso social, económico, político e outras demandas sociais”.
Questionado sobre o que poderá acontecer se o país falhar com o compromisso da organização, o docente universitário notou que em qualquer desempenho da presidência da Guiné-Bissau na CEDEAO não haverá consequências, mas se persistir a instabilidade interna poderá refletir na ação externa do Presidente Sissoco, o descrédito será notável e a imagem do país será comprometida.
“É do interesse do Presidente iniciar um diálogo interno pelo entendimento social, sobretudo da classe política. Acho que ele está consciente da carga que pesa nos seus ombros”, sublinhou.
Por: Filomeno Sambú