
A presidente do Sindicato dos Jornalistas e Técnicos de Comunicação Social (SINJOTECS), Indira Correia Baldé, disse que a Assembleia Geral da organização não tem ainda uma data marcada para se reunir, contudo, garantiu que será antecedida da reunião do Conselho Nacional.
No que se refere à sua recandidatura à liderança do sindicato dos jornalistas, lembrou que está à frente de um projeto que a levou à presidência da organização e foi eleita em 2018, tendo assegurado que a sua recandidatura para um segundo mandato será também decidida no âmbito do mesmo projeto.
“Estou num projeto onde estão muitas pessoas, a Indira Correia não pode decidir sozinha se vai ou não para o segundo mandato. As pessoas que fazem parte deste projeto é que vão decidir sobre a minha recandidatura”, assegurou a sindicalista.
A sindicalista e jornalista da Radiodifusão Portuguesa (RTP-África) fez essas afirmações na entrevista ao nosso semanário para debruçar sobre os projetos levados a cabo pela sua direção, bem como das dificuldades enfrentadas na luta diária pela liberdade da imprensa e do exercício do jornalismo ao longo do seu mandato.
SOCIEDADE DEVE PREOCUPAR-SE COM VIOLÊNCIA CONTRA JORNALISTAS E A LIBERDADE DE EXPRESSÃO
A direção do SINJOTECS dirigida por Indira Correia Baldé foi eleita no congresso ordinário da organização realizado de 26 e 27 de março de 2018, para um mandato de quatro anos. O mandato da direção terminou desde o mês de abril do ano em curso, mas até ao momento não foi realizado o congresso.
Sobre a caducidade da sua direção, a sindicalista garantiu que a direção está a trabalhar para a realização do congresso, mas afirmou que o congresso vai ser antecedido primeiramente da reunião do Conselho Nacional, de acordo com os estatutos do SINJOTECS.
A jornalista explicou que só em 2021 registaram-se três agressões diretas perpetradas por forças de segurança contra jornalistas, tendo lamentado a falta de engajamento das autoridades competentes para fazer vincar a justiça sobre os promotorese os executores desses atos de violência.
“Não somos inimigos, apenas às vezes somos mal vistos e mal interpretados pelos agentes das forças de defesa e segurança, o que acaba por criar choques e ataques dos agentes das forças de segurança contra jornalistas que apenas fazem o seu trabalho”, referiu, para de seguida afirmar que “o que me faz sentir mais medo e estar preocupada são as situações que os jornalistas têm estado a enfrentar, por exemplo, ataques com armas automáticas do tipo AK-47 no assalto à rádio Capital FC e as agressões contra os seus profissionais “.
A presidente do SINJOTECS acusou os tribunais de agirem, neste caso em particular e nos casos que envolvem jornalistas, de forma parcial porque nunca conseguiram resolver ou julgar os processos apresentados pelos jornalistas ou organizações da classe contra uma determinada pessoa ou figura política ou instituição.
“Se um jornalista, no exercício da função atingir outra parte aí, sim, a justiça funciona, mas se for a outra parte a atingir os jornalistas, a justiça não funciona. Temos exemplos concretos. A rádio capital foi atacada duas vezes, a polícia judiciária fez inquérito e remeteu os processos ao Ministério Público que até ao momento não se dignou0 a emitir uma resposta, alegando complexidade do caso”, criticou a sindicalista.
Relativamente à execução ou implementação de projetos a nível do sindicato, lamentou a falta de condições financeiras que, segundo a sua explicação, têm constituído um constrangimento à direção na implementação de mais ações para o bem da classe. Indira Correia Baldé disse que o SINJOTECS funciona com recursos tirados dos próprios bolsos dos dirigentes.
“O SINJOTECS tem funcionado com os meios dos seus dirigentes e de alguns apoios vindos de alguns parceiros”, disse, acrescentando que mesmo não havendo meios financeiros para a implementação dos projetos delineados, a sua direção garantiu a implementação de alguns projetos, por isso considerou “positivos” os seus quatro anos de mandato à frente da organização sindical.
Baldé afirmou que a sua direção conseguiu “resgatar” a imagem do sindicato a nível interno e externo, como também conseguiu ter voz em várias reuniões regionais e internacionais para representar a imprensa guineense.
Para a Presidente do SINJOTECS, o género não pode constituir barreiras no desempenho das funções porque há “barreiras que precisam ser quebradas e dificuldades que devem ser ultrapassadas”, admitindo ter enfrentado, à frente da organização, dificuldades que qualquer homem enfrentaria no cargo.
Segundo Indira Correia Baldé, os constrangimentos encontrados foram causados pela conjuntura política, social, económica e cultural.
Durante a entrevista, a sindicalista denunciou ter havido relatos de assédio sexual contra as profissionais de comunicação social e que o SINJOTECS está a trabalhar de forma engajada no processo de sensibilização para mostrá-las que não devem ceder a nenhum tipo de pressão ou ao assédio sexual, e que devem denunciar qualquer tentativa de assédio sexual.
“O assédio nos órgãos de comunicação é preocupante, porque as jornalistas não denunciam os casos ao sindicato ou outras às organizações, apenas fazem-no em fóruns fechados e ultimamente aconteceu numa ação de formação promovida pelo SINJOTECS”, disse.
Em relação às ações levadas a acabo, Correia Baldé afirmou que na sequência de uma parceria iniciada em 2018, o governo, através da Câmara Municipal de Bissau, cedeu ao sindicato dos jornalistas da Guiné-Bissau, em janeiro de 2020, um terreno para a construção de raiz da sede da organização.
Lamentou que as condições financeiras tenham atrasado todo o processo, o que levou a direção que lidera a avançar com a iniciativa de construção de um anexo para assegurar o funcionamento provisório das estruturas do sindicato, que atualmente têm o escritório nas instalações do Consórcio Média, Inovação da Comunicação Social, enquanto um dos membros.
Indira Correia Baldé disse ao jornal O Democrata estar em curso o processo de recenseamento dos jornalistas e técnicos de Comunicação Social iniciado em 2018, indicando que o recenseamento está a ser feito em três categorias, nomeadamente privada, comunitária e pública.
Para a execução do processo, o sindicato indicou três vice-presidentes, designadamente os jornalistas Fátima Tchumá Camará, vice-presidente para os órgãos públicos, Sabino Santos que lidera as empresas de comunicação privadas e Demba Sanhá encarregue dos órgãos comunitários.
Segundo dados avançados por Indira Correia Baldé, apenas duzentos profissionais dos órgãos públicos foram recenseados.
“Falta uma parte dos órgãos comunitários e privados. Sobre a sede, este ano vamos funcionar num anexo provisório no terreno cedido pela Câmara Municipal de Bissau”, disse.
Questionado sobre o surgimento de várias organizações da classe, como também do distanciamento de alguns dos membros da sua direção, Indira considerou “normal” e disse: “acontece numa organização”.
“É normal alguém sair de uma organização de uma classe para outra. A verdade é que não recebi nenhuma comunicação de nenhum membro da minha direção que se tenha distanciado da minha equipa, tanto assim que ninguém explicou publicamente os motivos do seu afastamento ou distanciamento”, frisou.
A presidente do Sindicato dos Jornalistas e Técnicos de Comunicação Social disse que a sua direção não pode impedir quem quer que seja que não se reveja na sua atuação ou da sua equipa a desvincular-se do sindicato, mas “temos apelado à união no seio da classe, porque a união faz força, temos que nos unir porque divididos não vamos a lugar nenhum”.
Relativamente aos ataques que têm acorrido no país contra jornalistas e à liberdade de imprensa, Correia Baldé disse que são situações que devem preocupar a todos os jornalistas e cidadãos porque “podem suceder com qualquer um”.
“Temos que nos preocupar e a sociedade também, porque são atos que põem em causa a liberdade de imprensa e dos jornalistas no exercício da sua profissão”, precisou.
Instada a pronunciar-se sobre a situação dos bolseiros da Universidade Lusófona, a presidente do SINJOTECS afirmou que a sua direção tem feito diligências, promovido reuniões e audiências com a Universidade Lusófona da Guiné como também com o ex-Presidente da República, José Mário Vaz, que tinha assumido parte da dívida, mas que por alguma razão que desconhece, não cumpriu.
“Tentamos também junto do Presidente Umaro Sissoco Embaló contornar a situação da dívida contraída com a Universidade Lusófona, mas que até ao momento não temos tido respostas satisfatórias.
“A antiga direção do sindicato da qual eu fazia parte fez diligências para que os profissionais de comunicação social conseguissem bolsas de estudo. Recorremos a várias instituições de formação, apenas a Universidade Lusófona da Guiné garantiu que teríamos desconto no valor mensal de cada estudante. O curso iniciou com uma turma de bolseiros e depois alargou-se para duas turmas. Desconheço as razões do alargamento”.
Quanto ao processo de indemnização decidido, em 2007, pelo Tribunal Regional de Gabu a favor de 14 jornalistas envolvidos no acidente de viação que ocorreu a 01 de dezembro de 2005, o sindicalista disse que o dossi ê já foi remetido ao Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, e ao governo.
“Até ao momento não recebemos nenhuma luz verde das duas entidades, para além do comprometimento em ajudar no processo”, afirmou.
Por: Epifânia Mendonça