Editorial: OBRAS DE RECUPERAÇÃO DE BISSAU VELHO NOS MEDIA DA GUINÉ-BISSAU

Desde que Thomas Macaulay denominou a imprensa de “Quarto Poder” que cresce e ainda hoje continua a crescer o desejo dos jornalistas em descobrir a verdade e separar os assuntos  e problemas públicos da opinião popular na esfera pública. Infelizmente na Guiné-Bissau, com o radicalismo político, deixamos de saber e de poder dialogar no campo dos Media. Ou seja, o radicalismo político partidário tomou conta da nossa esfera pública, aberta a participação de todos. O que torna hoje difícil estabelecer, no campo dos Media nacionais, a distinção entre a opinião imbecil e a opinião instruída, entre a verdade e a falsidade, e entre narrativas patetas e sábias. O que, na verdade, torna difícil discutirmos no espaço público nacional uma nova teoria da opinião pública nos Media.

O processo de produção de informação que era composto de produtores e consumidores de informações é hoje, cada vez mais, estabelecido no mundo das redes sociais com os nativos digitais a serem eles próprios produtores de conteúdos noticiosos no nosso Campo dos Media. O que estabeleceu, no nosso país, uma polarização de opiniões publicadas, tendo a narrativa agressiva assumido um letramento generalizado na nossa população no Campo dos Media nacionais. Vivemos, assim, perante  um relato retórico de fatos assistidos  em computador.

Mas, no campo dos Media nacionais, não basta relatar os fatos com a verdade, é necessário dizer também a verdade dos fatos. O que implica ir para além da mera reprodução fiel do que chegou ao nosso conhecimento. É preciso certificarmo-nos, tanto quanto possível, da verdade dos fatos. A verdade dos fatos tem de existir independentemente de quem a reconhece. Se o relato de um fato puder ser verdadeiro para um sujeito e não para outro sujeito seria melhor abandonarmos o conceito de relato de “Verdade dos Fatos” e substitui-lo pela “Verdade dos Sujeitos.”

Todavia, é preciso que os gestores de bens públicos nacionais tenham na sua memoria um perfil da consciência pública adequado às funções que estão a desempenhar. Ou seja, é preciso que as convicções e os valores dos gestores de bens do Estado estejam em consonância com os interesses  públicos e não com uma racionalidade fundada nas imagens e nos sons tecnológicos que apenas nos emocionam e seduzem, fascinando-nos para as opiniões sensológicas dos partidos políticos que infelizmente circulam no Campo dos Media nacionais.  

As obras de reabilitação da cidade velha (vulgo Bissau-Velho), exigem que os nossos governantes  tenham  a consciência da coisa pública para poderem estabelecer, naquela zona da cidade, uma economia criativa cujas qualidades intelectuais e culturais podem gerar  valor económico para a nossa economia doméstica e nacional. Para isso, é preciso  criatividade dos nossos governantes para estabelecer um novo sistema económico que valorize Bissau-Velho no seu todo e não uma parte.

Para estabelecer uma economia criativa que rentabilize as qualidades históricas de Bissau-Velho é preciso que o governo tire o Estado-Maior das Forças Armadas da Fortaleza da Amura. A história da Fortaleza-da-Amura é que dinamizará, em todos os aspetos, o estabelecimento de uma economia criativa de qualidade em Bissau-Velho. É ela que suportará todos os valores do sistema económico financeiro daquela zona da cidade velha de Bissau. Portanto, sem a integração da Fortaleza-da-Amura, a economia criativa que se pretende estabelecer em Bissau-Velho não terá o impacto pretendido pela nossa classe política.

Aliás, não faz sentido termos hoje aquartelamento militar dentro da cidade, sobretudo na nossa cidade velha cuja história poderia ser o valor de uma verdadeira economia criativa para o nosso país. O governo deve aproveitar agora a obra da recuperação de Bissau-Velho para tirar o Estado-Maior das Forças Armadas da Fortaleza da Amura e estabelecer em toda aquela zona da cidade velha uma economia criativa. O governo tem e deve tentar encontrar caminhos para fazer os militares deixarem a Fortaleza da Amura. Como uma zona de economia criativa, Bissau-Velho deve também ser uma zona com  circulação de viaturas condicionada para não residentes, para permitir que os turistas visitem tranquilamente a zona para poderem conhecer melhor a sua história.

A recuperação global da imagem de Bissau-Velho vai dinamizar também, na perspetiva da economia criativa, todo o historial da revolta de três de agosto de 1959 e da luta armada da libertação nacional.

Por: António Nhaga

Diretor Geral

angloria.nhaga@gmail.com

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