
O Sporting Clube da Guiné-Bissau (SCGB) reprovou, liminarmente, o relatório de atividades e de contas 2020-2021 da Federação Nacional de Futebol (FFGB), recentemente aprovado pelos clubes e associações filiadas no organismo que gere o futebol nacional.
O Sporting Clube da Guiné-Bissau foi o único clube presente no Congresso Ordinário da FFGB que votou contra a aprovação do documento, alegando que o relatório “não tem assinatura e nem autenticidade”.
A informação foi transmitida ao Jornal O Democrata pelo presidente em exercício do Sporting, Ricardo Pascoal Caetano, durante uma entrevista concedida ao semanário privado, na qual questionou o organismo sobre o gabinete de contabilidade para certificar as contas da instituição.
“Um documento que não tem assinatura nem carimbo, é um documento que não existe, por isso é falso. Mas pergunto quem na verdade elaborou o relatório? Perguntamos se a federação não tem contabilista ou um gabinete de contabilidade credível para certificar as contas, porque o documento levado ao congresso deveria ter sido certificado”, disse.
No relatório entregue aos associados, o Comité Executivo disse que a FFGB recebeu da FIFA para época desportiva 2020-2021 1.514.193.949 francos CFA, 138.963.860 francos CFA da CAF, 21.646.225 francos CFA da UEFA e 3.679.000 francos das outras entradas, totalizando assim 1.678.483.034 francos CFA.
No documento a que o Democrata teve acesso, a FFGB justifica que o fundo foi aplicado em diferentes áreas, nomeadamente: futebol júnior, competições masculino e feminino, desenvolvimento técnico, arbitragem, futsal, plano e administração, marketing e comunicação, infra-estruturas, diversos e encargos bancários.
Segundo a FFGB, o maior bolo foi aplicado no o sector de marketing e comunicação, infra-estruturas. Nas infra-estruturas, foi gasto um montante de 323.966.198 Francos CFA e no marketing e comunicação foram gastos 20.637.916 francos CFA.
Reagindo aos números apresentados pelo órgão, Ricardo Pascoal Caetano criticou que os fundos são avultados e que precisavam de uma explicação, porque o relatório das atividades e de contas aprovado não tem anexo. O dirigente leonino disse duvidar do valor que a FFGB alega ter utilizado nas infra-estruturas, uma vez que na prática “não é visível as infra-estruturas melhoradas pela FFGB”.
Pascoal Caetano acusa o Comité Executivo da instituição liderada por Carlos Mendes Teixeira “Caíto” de enganar os clubes e as associações filiados na federação.
“Esperemos que no futuro na nova liderança venha a ter coragem de auditar as contas da federação e a gestão dos fundos da atual direção”, disse.

“Não estamos contra a atual direção da FFGB, simplesmente estamos a emitir as nossas opiniões para ajudar o futebol nacional. Estamos a pautar pela verdade desportiva e a gestão dos fundos do órgão deve ser transparente”, acrescentou.
“Aprovar um relatório sem assinatura mostra claramente que a atual direção está a praticar má gestão dos fundos da FFGB que foram disponibilizados pela FIFA e pela CAF.
O presidente em exercício do Sporting pediu a intervenção das autoridades competentes, nomeadamente o Ministério das Finanças no sentido de auditar os fundos da FFGB, uma vez que o assunto é público. Além da instituição governamental, Pascoal Caetano pediu ainda a intervenção do Tribunal de Contas, da Polícia Judiciária e do Ministério Público para desencadearem uma investigação sobre o mesmo assunto.
Questionado se o clube vai avançar com uma queixa junto da FIFA e da CAF, Caetano revelou que o Sporting pondera mesmo mover uma queixa contra a FFGB. O dirigente leonino aproveitou a ocasião para assegurar que a crítica do clube não está ligada aos acontecimentos do Campeonato Nacional que terminou recentemente.
Em reação às denúncias do Sporting Clube da Guiné-Bissau, o vice-presidente para Área Administrativa e Finanças da FFGB, Serifo Só, refutou todas as alegações do clube verde e branco e afirmou que “o relatório é credível”. Serifo Só nega que a FFGB tenha gerido mal os fundos do órgão e pede ao dirigente do Sporting para apresentar provas.
Numa entrevista ao Democrata, Só assegurou que a FFGB recebeu em 2020 a subvenção da FIFA, que foi destinada a todos os seus associados por causa da Covid-19, que permitiu reativar a federação. Segundo explicação, o valor em causa foi investimento nas áreas que não estavam programadas no orçamento, nomeadamente o processo da iluminação do Estádio Lino Correia em Bissau e subvenção aos clubes de futebol.
O vice-presidente do organismo revelou que todo o fundo utilizado, acima de 5 milhões de francos CFA pela FFGB, foi feito através de concurso público, observado pela direção-geral dos Concursos Públicos.

Serifo Só afirmou que o relatório de atividades e de contas 2020-2021 foi aprovado internamente e pela FIFA, sem reservas.
Em relação à assinatura do relatório, o dirigente federativo lembrou ao Sporting que no documento o mais importante era o conteúdo, não a assinatura.
Em janeiro de 2021, o então segundo vice-presidente do órgão, Hussein Farhat, disse que pediu demissão do cargo, por alegada falta de transparência na gestão dos fundos da FFGB. O Democrata tentou obter uma reação de Farhat sobre a denúncia do Sporting, mas sem sucesso.
De recordar que no final do mês passado, os clubes e associações desportivas aprovaram os pontos que estavam na agenda de trabalho, entre os quais o relatório das atividades e de contas 2020/2021 e a condição para ser membro do Comité Executivo e do presidente da FFGB.
Por: Alison Cabral
Foto: AC