O despacho do governo que anunciou o fim de contrato com os técnicos novos ingressos do setor de saúde já provocou cinco óbitos evitáveis no centro de saúde de Buba, em apenas 48 horas depois de ter sido anunciada a decisão e em Canchungo a medida levou a paralisação de quase 90% de serviços no hospital regional.
Segundo os representantes dos novos ingressos dos dois centros hospitalares entrevistados pela redação de O Democrata, a narrativa do governo de tratá-los como contratados, além de ser pejorativo, não vai funcionar e defendem que sejam efetivados, porque cumpriram todas exigências para que o processo fosse concluído em tem record.
Em entrevista telefónica ao jornal O Democrata, Alfa Umaro Baldé, representante de novos ingressos na região de Quinara, revelou que depois de 48 horas da revogação do despacho que os colocou no sistema nacional de saúde em 2021, o centro de saúde de Buba, que funciona na veste do hospital regional, registou cinco óbitos que poderiam ter sido evitados nos serviços da medicina e da maternidade.
“Há seis semanas, antes da revogação da nossa colocação, registamos um óbito. Depois dessa decisão, o centro de Buba registou cinco óbitos na medicina e na maternidade. Portanto, essa medida está a ter impacto negativo na vida da população”, disse.
A região de Quínara tem apenas um médico que está no centro de saúde de Buba para atender cerca de setenta mil habitantessegundo o censo do Instituto Nacional de Estatística de 2009, distribuídas em 14 estruturas sanitárias.
O centro de saúde de Buba, por exemplo, está a funcionar neste momento sem diretor-geral, nem diretor clínico, porque todos são quadros recém-colocados e a medida paralisou o Centro de Tratamento Ambulatorial (CTA) de Buba.
“O técnico que se ocupava desse serviço não está treinado para assumi-lo integralmente e sozinho”, afirmou.
Alfa Umaro Baldé revelou que o centro de saúde de Banta, área sanitária do setor de Buba, de tipo C, uma vez chegou a ser assegurado por um estagiário. Porque a enfermeira responsável estava na cidade de Buba num encontro mensal.
“O centro tinha quatro técnicos, dos quais três recém-colocados. Com o despacho, apenas a enfermeira Cadi está a segurar os serviços naquele centro e um estagiário que foi mandado para o centro quando a mana Cadi tinha que participar no encontro mensal que se faz a nível da região. O que significa que cada vez que a enfermeira Cadi está fora do centro, vão mandar um estagiário”, salientou e disse que “foi uma medida perigosa porque coloca em risco vidas de muitas pessoas”.
Segundo os dados avançados pelo responsável dos técnicos recém-colocados da região de Quinara, num universo de 102 técnicos de saúde que a Quinara tem, 39 estão em casa a aguardar nova decisão do governo e apenas 63 estão neste momento a atender as demandas dos cerca de setenta mil habitantes.
Embora tenham reunido com o delegado regional de saúde, Alfa Umaro Baldé assinalou que do encontro não saiu nenhuma informação que pudesse mantê-los nos seus postos de serviço, por isso decidiram ficar em casa até que seja encontrada uma solução.
“O delegado informou-nos que o governo fará contratações e que seria pertinente que ninguém saísse da sua área sanitária. Não somos contratados. Colocaram-nos através de um despacho e o processo subsequente seria efetivação, portanto é absurdo pensar em contratação para colocar em causa a vida profissional de cerca de dois mil técnicos”, declarou, para de seguida indicar que neste momento não têm nenhum vínculo com o Estado e que a melhor solução é ficar em casa.
Lamentou que tenha havido, no meio de tudo isso, um “conformismo absoluto” das populações face à situação dos técnicos de saúde.
NOVENTA POR CENTO DOS SERVIÇOS DO HOSPITAL REGIONAL CANCHUNGO PARALISADO
Em entrevista telefónica a partir da cidade de Canchungo, o enfermeiro Raulinho Aires Ferreira Gomes, responsável dos técnicos recém-colocados na região de Cacheu, disse que o hospital de Canchungo está a funcionar a meio gás e que quase noventas por cento dos serviços estão paralisados.
Raulinho Gomes, colocado no centro materno infantil de Canchungo, revelou que, devido ao despacho, a enfermaria teve que fechar praticamente as suas portas, apenas a maternidade e a urgência (banco de socorro) estão a funcionar, adiantando que a decisão de técnicos de ficar em casa paralisou também os serviços da cirurgia, de medicina e de pediatria.
“A maternidade e o banco de socorros estão a funcionar porque foram elegidos como prioritários. O centro de Batucar tipo C, por exemplo, a 13 quilómetros de Canchungo, em direção ao Setor de Caio, está praticamente fechado, porque os cinco técnicos são recém-colocados. Aliás, eram cinco. Na verdade, são três neste momento. Os restantes dois estão em Portugal”, esclareceu.
Confirmou terem sido contactados pela delegacia regional para permanecerem nos seus postos de serviço porque serão contratados.
“Formamo-nos para trabalhar como efetivos e organizar as nossas vidas, garantir a nossa reforma num quadro legal. Portanto, a nossa exigência mantém-se, ficar em casa até que seja encontrada uma solução”, fincou.
Os dados estatísticos indicam que o hospital regional de Canchungo tinha 86 seis técnicos para 19 áreas sanitárias, dos quais seis estão no estrangeiro. O centro de Canchungo tem 28 técnicos recém-colocados, 21 enfermeiros, três no centro materno infantil, um técnico de laboratório, dois médicos e uma parteira.
Por: Filomeno Sambú