O presidente do Movimento Nacional das Organizações da Sociedade Civil, Fode Caramba Sanhá, afirmou que a paz na Guiné-Bissau está ameaçada devido às “clivagens” políticas, “com o desmoronamento das bases que se assentam na democracia, o disfuncionamento da justiça e o desentendimento entre o governo e as organizações sindicais dos trabalhadores”.
O ativista fez essas afirmações na cerimónia da comemoração do dia internacional da paz que se assinalou hoje, 21 de setembro de 2022, sob o lema: “Acabar com o racismo-construir a paz”.
Fode Caramba Sanhá disse que o clima político que se vive na Guiné-Bissau “é nebuloso à consolidação da paz”, porque “o país enfrenta práticas que minam a coesão nacional e que poderão levar o país a uma situação de ingovernabilidade”.
Fodé fez lembrar que, no início deste ano, houve uma tentativa de subversão da ordem constitucional, referindo-se aos acontecimentos do dia 01 de fevereiro que resultaram em várias mortes.
Segundo a sociedade civil, as constantes violações dos direitos humanos, o bloqueio das instituições do Estado, os sequestros e espancamentos ocorridos em Bissau e no interior, a tentativa de subversão da ordem constitucional em fevereiro, a subida dos preços dos alimentos e bens de primeira necessidade são situações que acabam por ameaçar a efetividade da paz no país.
As organizações da sociedade civil destacam o respeito pela liberdade e direitos humanos, o combate à corrupção e à impunidade, a credibilização do poder público, recurso ao diálogo construtivo, envolvendo todos os atores, e a definição de uma estratégia de construção de paz, como umas das prioridades para combater ameaça à paz.
Presente na cerimónia, a embaixadora da Paz, Lizidória Mendes, disse que a paz não se resume apenas à ausência da guerra, mas também quando há condições para a sua efetivação.
“Temos que refletir à volta do conceito da paz. Não podemos pensar que somos bons cidadãos, só quando exigimos que o Estado cumpra o seu dever. Devemos questionarmo-nos a nós mesmos que tipo de cidadãos somos ou que queremos ser, que tipo de pais somos ou filhos queremos ser?”, disse.
O Secretário-geral da União Nacional dos Trabalhadores da Guiné (UNTG), Júlio Mendonça, apontou as desigualdades sociais como motoras para instabilizar a paz e defendeu que as ações dos dirigentes têm de ir ao encontro da paz.
“A nossa terra oferece-nos condições de vivermos em paz, mas se a injustiça social continuar, com certeza, vamos ter o que não queremos”, concluiu.
Este ano, o dia internacional da paz é celebrado sob o lema “acabar com o racismo-construir a paz”, numa altura em que se assiste à guerra entre a Rússia e a Ucrânia.
Por: Epifânia Mendonça
Foto: E.M