Especial 24 de setembro: JURISTA AFIRMA QUE A GUINÉ-BISSAU NÃO TEM UM PROJETO EDUCATIVO COMPROMETIDO COM DESENVOLVIMENTO 

O Docente Universitário e Investigador do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, Fodé Mané, revelou que depois de 49 anos de independência, a Guiné-Bissau não conseguiu ter um projeto educativo objetivo e comprometido com o desenvolvimento e responsabiliza todos pela situação “miserável” que o país enfrenta.

Fode Mané fez essa observação numa entrevista exclusiva ao semanário O Democrata para falar dos avanços e recuos, nos 49 anos da independência, no setor de ensino guineense, tendo defendido que é preciso que haja uma “liderança esclarecida” e “visionária” para assumir verdadeiramente o setor da educação.

A Guiné-Bissau proclamou unilateralmente a independência a 24 de setembro de 1973, pela voz do lendário comandante, João Bernardo Vieira, depois de 11 anos de luta sangrenta contra as forças portuguesas.   

“Mas as cíclicas instabilidades políticas e as sucessivas trocas de ministros não têm contribuído no sucesso desse setor”, afirmou e disse que a educação da época colonial tinha como objetivo formar intermediários em termos do currículo escolar e o estudante tinha que dominar a geometria, a aritmética e a gramática para comunicar e fazer contas para servir administração colonial.

“Ao longo da luta de libertação nacional, concluiu-se que o guineense tinha que saber pensar, fazer projetos e estudar o seu país. Foi na base dessa ideia que se criou o tipo de educação chamado “o homem novo” que era formar pessoas para serem atores de desenvolvimento e foi implementado durante algum tempo. A partir de 2000, a educação perdeu essa meta, porque os currículos e o surgimento das escolas e formação dos professores não obedeceram a regra”, indicou.

O docente universitário fez lembrar que neste momento, há uma proliferação de escolas a lecionar até ao 12º ano de escolaridade e como há muita gente a concluir o ensino secundário, houve abertura do mercado para ensino superior.

Na opinião de Fodé Mané, o Estado deveria ter feito um estudo a partir desse momento e criar cursos de acordo com as necessidades e a capacidade do país. No entanto, avançou com a criação de estabelecimentos de ensino superior e criou o curso de ciências do mar, sem que o país tenha uma única frota e engenheira civil sem laboratórios e a cada dia proliferam cursos.

“A Guiné-Bissau é o único país da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) com escolas privadas de formação de médicos. Isto demostra que há desprogramação. É do conhecimento público que temos um ensino desatualizado e o país está a lançar para o mercado de emprego pessoas com diplomas que não têm quase nada. Temos um sistema de ensino que não tem objetivos nem direção. Tivemos um ano letivo em que os alunos nem sequer conseguiram ter 90 horas letivas e cursos superiores com menos de 200 horas, quando no mínimo deveriam ser 900 horas, isso é grave”, sublinhou.

Questionado sobre o que deve ser feito para inverter a situação que o país viveu durante 49 anos da independência, Fode Mané responsabiliza todos por tudo, em particular   os sucessivos governos que não assumiram a educação como prioridade, porque se tivessem encarado a educação como prioridade,” dariam menos em dinheiro nas forças de defesa e segurança e mais dinheiro na educação e saúde”.

“Os parceiros internacionais chegam às vezes a impor os seus programas, não discutem e os nossos sucessivos governos conformam-se com tudo o que se passa.  Os encarregados de educação também não assumem a responsabilidade, através de pequenas contribuições de 500 ou 1000 francos CFA, sobretudo nas escolas de autogestão. Mas têm dinheiro para comprar uma vaca de 300 mil francos CFA para cerimónias de “toca-tchur”, pagar um milhão de francos CFA para meca. Quer dizer que não há uma prioridade em termos de investimento para os seus filhos. Portanto, os professores, os pais e encarregados de educação, o governo e a comunidade internacional são todos responsáveis pela atual situação do ensino na Guiné-Bissau”, admitiu.

Por: Aguinaldo Ampa

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