[setembro de 2022] Os principais clubes de futebol da Guiné-Bissau afirmaram que a compensação financeira recebida da Federação de Futebol do país (FFGB), pela conquista do campeonato nacional da modalidade, é muito inferior às despesas que suportam em uma época desportiva. As equipas abordadas relataram que os sócios têm dificuldades em pagar as quotas e que há uma ausência total de patrocinadores, tendo acrescentado que a receita da bilheteria dos jogos não cobre as despesas.
Alguns clubes alugam os seus edifícios para assegurar o funcionamento e suportar as despesas. Mas a maioria dos clubes depende exclusivamente dos recursos mobilizados pelos dirigentes ou pelo presidente para funcionarem. Quase todos os clubes membros filiados na FFGB fazem muitas despesas na realização dos jogos da competição interna do país, nomeadamente o pagamento de salários aos jogadores e alguns funcionários do setor administrativo.
PR BENFICA: “FUTEBOL É UMA INDÚSTRIA E NÃO PODE SER PRATICADO POR AMOR À CAMISOLA”
A equipa do Benfica de Bissau, que foi a vencedora do campeonato nacional da primeira divisão e a Taça da Guiné em futebol na última época desportiva, de acordo com a sua direção administrativa, teve uma despesa de 20 milhões de francos CFA na época passada. Recebeu 10 milhões e meio de francos CFA como vencedor do campeonato nacional, o que não compensa os gastos da equipa, nem contribui para o desenvolvimento técnico e financeiro do clube.
Numa entrevista concedida ao Jornal O Democrata, o presidente do Sport Bissau e Benfica (SBB), Wilson Pereira Batista, revelou que diversas vezes teve que tirar do próprio bolso dinheiro programado para resolver assuntos familiares para suportar as despesas do clube.
“Às vezes, usamos o dinheiro destinado a resolver assuntos familiares para despesas dos clubes. O futebol não pode ser desenvolvido dessa forma, porque o setor é desenvolvido com envolvimento de entidades fortes como o executivo e a FFGB”, declarou.
Preocupado com a situação financeira que os clubes nacionais enfrentam, Pereira Batista pediu ao Estado da Guiné-Bissau para apoiar os esforços da FFGB para que o desporto nacional possa evoluir.
“A Federação de Futebol (FFGB) tem estatuto de utilidade pública. Mas temos que compreender que o que acontece noutros setores é a mesma dificuldade que se vive dentro dos clubes e na federação. Várias vezes a federação foi criticada e houve vozes que defenderam que tem que ser ela a procurar patrocínios para desenvolver o futebol. Os clubes também podem fazer o mesmo, mas não temos conseguido patrocínios porque não existem empresas”, disse.
Pereira lembrou às autoridades competentes que o futebol é uma indústria, razão pela qual não se pode continuar a praticar o futebol na Guiné-Bissau por amor à camisola.
MANSOA EXORTA EXECUTIVO A COMEÇAR A SUBVENCIONAR OS CLUBES NACIONAIS
Confrontado com a realidade, o presidente do Conselho Fiscal do Clube de Futebol dos Balantas de Mansoa, Umaro Pinto Martins, disse que o maior ativo dos clubes são os seus jogadores, mas as equipas nacionais não conseguem vender os seus atletas como acontece nos outros países, para recompensar dos gastos que despendem nas competições nacionais.
Segundo a explicação de Pinto Martins, a direção do seu clube assume em cada época desportiva, a estadia em Mansoa de todos os atletas que saem de diferentes localidades da Guiné-Bissau e do estrangeiro, nomeadamente do Senegal, dando refeição a tempo inteiro.
“O clube assume as despesas diárias destes jogadores, juntamente com as despesas dos jogos dos Balantas de Mansoa que custa 345 mil francos CFA e a receita do campo é muito insignificante para compensar os gastos”, explicou.
O dirigente da equipa nortenha, que chegou a receber 10 milhões de francos CFA na época desportiva 2012-2013, por ter sido o campeão nacional, salientou que o executivo e a FFGB devem arranjar mecanismos para subvencionar os clubes nacionais, minimizando as enormes despesas das equipas.
Conhecido entre amigos por “Kanú”, o antigo atacante dos Balantas de Mansoa revelou que, para além do seu clube, outros têm recebido donativos financeiros que têm permitido às direções dessas equipas suportar as despesas das sucessivas épocas desportivas.
“Se não mudarmos esta situação, o futebol nacional não poderá evoluir, porque hoje para fazer funcionar o futebol devem existir condições financeiras”, acrescentou.
SPORTING: “É POSSÍVEL PRÉMIO DO CAMPEONATO CHEGAR A CEM MILHÕES DE FCFA COM APOIO DA FIFA”
A direção em exercício do Sporting Clube da Guiné-Bissau, que tem criticado a gestão dos fundos pela FFGB, volta a apontar o dedo ao organismo que dirige o futebol nacional, uma situação que levou o clube a não votar a proposta apresentada pela entidade no último Congresso Ordinário da federação.
Em entrevista ao Democrata, o vice-presidente da Mesa de Assembleia geral da equipa leonina, Emanuel Fernandes, afirmou que a FFGB tem recebido muitos apoios financeiros da FIFA e que é possível subir o dinheiro do prémio do campeão nacional para 50 ou 100 milhões de francos CFA.
Segundo a explicação de Fernandes, essa recompensa monetária ao campeão nacional traria maior competitividade entre os clubes e ajudaria o campeonato a sair de semiprofissional para profissional e os atletas dedicar-se-iam a tempo inteiro à prática da modalidade.
O dirigente do clube com maior número de títulos no país lembrou que, quando o Sporting Clube da Guiné-Bissau foi campeão nacional na época 2020-2021, a FFGB depositou inicialmente um montante de 5 milhões de francos CFA e posteriormente um 1 milhão de francos CFA, que não cobrem as despesas da equipa.
“Se continuarmos assim, vamos desencorajar a prática de futebol, por isso é preciso que a FFGB seja o mais transparente possível e os clubes que disputam o campeonato sejam mais maduros para termos um campeonato profissional”, disse.
Fernandes lamentou que os clubes tinham ficado calados e não terem discutido, no congresso da FFGB, assuntos que pudessem ajudar a desenvolver o futebol da Guiné-Bissau, referindo em concreto ao último Congresso Ordinário realizado no mês de julho.
De referir que o Sporting reprovou o relatório de atividades e de contas 2020-2021 da FFGB, alegando que o documento “não tinha assinatura, nem autenticidade”. No mês passado, a Liga Guineense dos Clubes de Futebol (LGCF) aprovou um aumento de prémios para o vencedor do Campeonato Nacional de Futebol da primeira divisão da Guiné-Bissau- “Guines-Liga” a partir da próxima época desportiva 2022-2023, que arranca no mês de novembro.
O vencedor da competição organizada pela LGCF vai receber a partir de agora 10 milhões de francos CFA, como prémio pela conquista do título de campeão nacional.
Por: Alison Cabral
Foto: AC