
No ano académico que findou, 2021/2022, para ser mais preciso, na Universidade Jean Piaget, e alguns dias depois do congresso do Partido de Renovação Social, conhecido sobre a sigla de PRS, cujo congresso produziu um Status quo na liderança daquela Formação politica, dei aos meus alunos do terceiro ano do curso de Ciência politica e Relações Internacionais, um exercício de trabalho de casa com o tema: “Se todos os congressos dos partidos políticos Guineenses produzem o status quo na suas lideranças, por onde irá a Guiné-Bissau nos próximo quatros anos”?
Consciente que um tal tema seria visto pela comunidade académica como irrelevante e careceria de rigor científico porque teria um resultado mais especulativo de que científico, dois objetivos foram pretendidos neste exercício: o primeiro é uma chamada de atenção a nossa classe politica para uma reflexão profunda às suas ações; o segundo objetivo foi de empurrar os alunos para um exercício que a maioria dos seres humanos não se dê o tempo de fazer. Pensar o futuro.
Sabe-se que a tarefa mais difícil dos seres humanos é de pensar no futuro, muitas pessoas ficam presas no presente devido às necessidades da vida quotidiana e doutra vez, ficam também presas no passado seja nas felicidades deste passado que são para elas uma fonte de orgulho, seja nas tristezas do mesmo passado que provocam nelas um estado de melancolia. Há poucos seres humanos que consagram suficientemente as suas energias a olhar o futuro ou ainda melhor a escrever, preparar o futuro. Sabemos que há pelo menos três atitudes face ao futuro e devemos estar conscientes da atitude que escolhemos. A primeira atitude, mais espalhada, é aquela atitude passiva, que consiste a esperar que o futuro se dirige para nós, é a atitude fatalista. É a atitude das pessoas que acreditam que aquilo que vai advir ou acontecer já está por passar e que nada pode ser feito para o mudar basta somente esperar. Neste comportamento subimos o futuro feito pelos outros e este que não foi feito para os nossos interesses desfaz o nosso próprio futuro. Esta atitude é condenável, por que significa um abandono duma das faculdades que o Deus ou a natureza acordou ao homem, a faculdade de antecipar, a faculdade de projetar, de predizer. A segunda atitude em face do futuro consiste em pensar que basta fazer o presente e o futuro advirá como tal. É de dizer que embora não devemos adotar uma atitude passiva perante o futuro, o mais importante é de ganhar a batalha do presente assim se realizará um futuro melhor. Esta atitude também é um erro grave, porque o presente não é a única dimensão do tempo.
Há, como referiu Santo Agostinho, três tempos: há o presente do passado; o presente do presente e o presente do futuro. Embora vivemos num presente sempiterno, esta eternidade não é o presente do homem quotidiano. Para podemos pensar no futuro devemos, na realidade, dedicar uma parte das nossas atividades quotidianas para analisar os eventos do passado, as grandes tendências no mundo atual, e é a partir daí que podemos fazer projeções mais próximas daquilo que pode acontecer. O segundo objetivo desta reflexão, como o referimos em cima consiste numa chamada de atenção aos nossos políticos. Uma boa parte será reservada a este grito de compreender o que é a politica e qual seria o motivo de se engajar na politica. É esta atividade racional que propomos no presente artigo.
Não é segredo que as lideranças anteriores de todas as formações politicas desta terra do Amílcar Cabral, estavam em permanente desentendimento num passado recente, o que não beneficiou de nada no progresso da Guiné-Bissau. Neste momento de efervescência politica para as próximas eleições legislativas, onde se multiplicam os congressos dos partidos, é importante que se pense no futuro do país, no caso que todos os partidos vieram a guardar nas suas lideranças, as mesmas figuras. Embora que se nota que a teoria do vizinho de instrumentalizar as instituições jurídicas do Estado com finalidade de escolher quem deve participar nas competições eleitorais, quem deve ser excluído, está em bom andamento na nossa Guiné-Bissau. Importa chamar atenção que não é sempre verdade que as teorias que funcionam em outro lado podem ser aplicadas em Bissau e produzir os mesmos resultados que tiveram em “Casa di mansa”. Numa república é o povo que decide, não é um problema de um regime a escolher os seus adversários, é um problema de povo, é uma questão de defesa dos princípios da república. O grande sábio senegalês Cheikh Ahmed Sy, dizia que: “Cada juventude tem a sua responsabilidade ou ela a assuma ou a foge, a historia a julgará”.
Voltando ao trabalho de casa dado aos alunos do terceiro ano de Ciências politicas e Relações internacionais, referido logo no inicio do presente artigo, assinalamos que num total de trinta e seis alunos, todos chagaram a mesma conclusão, embora com razões e argumentações variadas que se todos os congressos reconduzem as mesmas figuras na liderança dos respetivos principais partidos políticos Guineenses, não se pode esperar um clima de estabilidade governativa nem de paz social depois das legislativas de dezembro 2022 na Guiné-Bissau. Dois argumentos, no pessimismo dos meus alunos, me interessaram muito: o argumento de que muitos dos nossos políticos não se importam do povo, mas de seus bolsos e outro argume0nto que indica que muitos não mesmo sabem o que é a politica, o que é ser deputado, que fará a democracia. Estes argumentos nos obrigam a voltar a falar de forma breve sobre os conceitos de politica, da função do deputado e de democracia. Numa simples e única frase, a politica significa gestão da polis, participar na gestão da polis. Então o politico é aquele indivíduo que se preocupa do bem-estar da polis e participa na sua gestão, (ver, hoje o estado). A politica em cima de todo sendo uma arte de governar os homens, e devido à complexidade do homem, a sua prática exige o conhecimento. A arte política requer uma larga cultura, é por isso que um político deve ser alguém que tem um projeto, uma ambição e uma visão para o seu país. Um político não deve ir a política para negócios nem com finalidade de resolver os seus problemas, mas deve lá ir para resolver os problemas do povo, é daí que, é importante assinalar que por mais importante ter um projeto, uma ambição e visão, o fundamental é de ter a aptidão, a competência e as capacidades intelectuais de as realizar. Há pessoas que vão para política para salvar os seus negócios, outras para ter imunidade e ainda outras para escapar da justiça. São muitos os políticos que acreditam que a política é interessante quando esta última lhes beneficia, que quando tiram proveito dela de uma forma ou outra. Estes políticos não aceitam que a política é interessante também, quando se deve enfrentar o exílio, a maldade humana, as ameaças, às prisões, as intimidações e adversidades, eles procuram sempre estar do lado daqueles que estimam ser necessariamente vitoriosos do momento. Quanto à função do deputado, definimo-la em varias ocasiões, mas repetir é pedagógico. A função de um deputado é de representatividade e de criar e votar as leis e por fim controlar a ação do governo. Em relação ao conceito de democracia, a sua definição clássica foi evocada nos nossos artigos anteriores, para a presente reflexão basta dizer que a democracia é de antemão, uma comunicação, a comunicação é o conteúdo, o conteúdo é o programa e é este programa que liga o candidato ao eleitor. Porque é na base do cumprimento ou incumprimento deste programa que o candidato será julgado pelo eleitor. O famoso checks and balances da democracia se fundamenta num programa.
O argumento dos alunos para sustentar o seu pessimismo sobre o futuro da Guiné-Bissau permite nos deduzir que precisamos de políticos que são imbuídos de honestidade moral e intelectual nas suas análises da situação do país, pois em política não deve aceitar de agir na base das mentiras, deve se exigir o dever de saber, de conhecer e agir em função do conhecimento. Queremos políticos que respeitam e amam o povo, que devem estar colados, interessados às aspirações do povo, políticos que respeitam o princípio da competência na governação do país, deve fazer todo por todo que se vê no anterior do governo, o respeito do princípio do homem certo no lugar certo e não as nomeações de amiguíssimo, camaradaria, nem nomeações de clãs e étnicas.
Concluímos a presente reflexão para dizer que juntamos parcialmente ao resultado que chegaram os estudantes, que se não houver mudança na liderança dos partidos, há motivo para se preocupar do futuro do país nos quatros anos a vir, mas acreditamos na capacidade de resiliência e de mudança do ser humano e nesta base os nossos políticos irão privilegiar o interesse e o amor do povo.
Por: Prof. Abdou Jarju
Mestre em Ciências politicas e Relações
Internacionais: Segurança e Defesa, pela
Universidade Católica Portuguesa
Docente
Bissau, 02/10/2022