A Diocese de Bissau decidiu, através de um entendimento com a comunidade de Bôr, ceder um espaço de cem mil e quinhentos e trinta e nove metros quadrados para construção de ummercado, de um cemitério, de um campo de futebol, a instalação de uma esquadra policial e um espaço para a prática de ritos tradicionais e culturais. O entendimento foi alcançado graças a um entendimento que permitiu às partes rubricarem o acordo no passado dia 21 de agosto de 2021.
O acordo foi assinado para pôr fim a uma disputa pela posse da terra que opunha o poder tradicional e a Diocese de Bissau. Antes, alguns populares vinham reclamando com algumafrequência que eram proprietários do espaço em causa e têm acusado a entidade religiosa de apropriar-se do espaço que lhes pertencia, disputa que várias vezes foi mediada pela intervenção das autoridades policiais.
RÉGULO DE BÔR: “NÃO SABEMOS EXPLICAR COMO É QUE A IGREJA ADQUIRIU O ESPAÇO”
Dados indicam que antes da ocupação colonial, o espaço tinha sido habitado por ocupantes tradicionais, mas no início da colonização foram expulsos e instalados os missionários, com ointuído de evangelizarem a população. Estes por sua vez, construíram um internato, uma capela e algumas residências para os próprios.
Para tomar o controlo total da zona, homens brancos colocaramum posto para controlar a entrada e saída de pessoas à região de Biombo, especialmente as que mostravam resistência contra o regime colonial. Foi assim que se espalharam por toda a região e tomaram o domínio total de Safim, Quinhamel, Biombo, Prábis e outras localidades da região.
Em entrevista ao jornal O Democrata para falar da disputa pela posse da terra, o régulo de Bôr, Fula Té, afirmou que o espaço em causa pertencia ao poder tradicional, mas que acabou por perdê-la a favor da entidade Católica, devido à pressão que sofreu “dos Tugas”, que o obrigou a abandonar o espaço para ocupar a outra margem, à esquerda para quem vai em direção ao setor de Prábis.
“Nos fomos forçados a abandonar aquela zona por forças da administração colonial, por isso instalamo-nos nesta margem. Alguns dos nossos conterrâneos que resistiram à pressão colonial abandonaram e foram para diferentes secções e setores que compõem a região de Biombo, porque tinham medo do regime”, explicou.
Segundo o régulo de Bôr, os populares locais estavam esperançados que depois da independência, o espaço seria devolvido aos ocupantes tradicionais, mas de repente foram surpreendidos quando pessoas estranhas começaram a colocar placas no terreno, por ordens da administração regional, alegando que o espaço pertence à Diocese de Bissau.
“Até ao momento não estamos em condições de explicar em que condições essa entidade religiosa adquiriu o espaço ao ponto de nos ter impedido de realizar as nossas cerimónias funerárias no cemitério. Foi daí que começamos as revindicações para que seja devolvida alguma parte do tereno para o benefício da comunidade”, afirmou.
O Padre da Cunha Cumba, responsável do património e bens imoveis da Diocese de Bissau, explicou que a história começou desde 1940, altura em que a Guiné-Bissau e Cabo Verde eramuma prefeitura apostólica.
“Depois a Guiné-Bissau desanexou-se, passando a ser uma prefeitura apostólica SUI YURES com todos os direitosinerentes ligados à Igreja Católica com personalidade jurídica. Poucos anos depois da luta de libertação nacional, com o regime do partido único e a mudança da Capital de Bolama para Bissau,o Governo do partido único nacionalizou tudo aquilo que tem haver com hospitais, escolas, aguilhós (internatos) e de mais património, mas passado tempos e por erros de gestão, o regime optou por devolver parte do património nacionalizado.
Segundo o Padre Bernaldo, foi a partir desse momento que ofalecido Bispo D. Settimio Arturo Ferrazzetta insistiu que o internato fosse devolvido à Igreja Católica, porque “era a propriedade da comunidade Católica” e conseguiu-se recuperar o antigo internato de Bôr e todo o espaço da Igreja católica em todo o território nacional foi recuperado.
“Em 1996, o espaço foi entregue oficialmente à Igreja na presença da antiga Ministra Odete Semedo. O processo ligado ao espaço é de 1954. A Igreja tem, na sua posse, toda a documentação do processo nº 174/1952, que instituiu a data da legalização do terreno em causa”, explicou, lembrando que o espaço era circunscrito a uma área de quinhentos e vinte mil hectares, que abrangia a zona da forca Aérea, Plak, algumas zonas de Cumura e áreas do hospital de Bôr.
Sublinhou que foi na sequência da perda da maior parte da propriedade em 2003, se fez uma nova delimitação do espaçopelo Ministério das Obras Públicas de trinta e cinco hectares, afirmando que alguns moradores aproveitaram do espaço para aprática da agrícola e plantaram pomares de cajú e outros.
O padre Bernaldo disse que a Diocese de Bissau, por livre vontade, decidiu pôr fim ao desentendimento que a opunha aos populares de Bôr, referente ao processo nº 11/1952, ratificado em 17 de janeiro de 2003, pelo ministério das Infraestruturas Sociais, onde aquela entidade religiosa decidiu ceder parte da sua propriedade à comunidade local, nomeadamente uma área gráfica de vinte mil e quatrocentos e cinquenta metros quadrados à família do professor Júlio da Silva, em reconhecimento ao trabalho desenvolvido pelo malogrado no antigo internato de Bôr na época colonial.
A Igreja decidiu tirar do seu espaço vinte e dois mil quarenta e oito metros quadrados para a edificação do cemitério local, dez mil e setecentos e cinquenta e dois metros quadrados para a prática de rituais Culturais, religiosos e tradicionais. Dezoito mil e oitocentos vinte e quatro metros quadrados forma disponibilizados para construção do mercado definitivo, um campo desportivo e zona A, numa superfície de vinte e quatro mil e trezentos e quarenta metros quadrados, bem como quatro mil e cento e vinte e cinco metros quadrados para a construção de uma esquadra da Polícia de Ordem Pública, totalizando assim cem mil e quinhentos e trinta e nove metros quadradoscedidos à secção de Bôr.
Em representação dos Filhos, pais encarregados de Educação e amigos de Bôr, Victor Manuel Có enalteceu o gesto da comunidade que conseguiu recuperar parte do terreno que hámuito tempo vem reclamado, tendo apelado à mobilização de todas as forças da secção para mudar a imagem da comunidade.
“Temos muitos projetos em manga para executar em benefício não só dos filhos e moradores de Bôr, mas também para aGuiné-Bissau, principalmente os citadinos da Capital Bissau”, assegurou, revelando que já construíram dois pavilhões, sendoque um deles tem 16 salas de aulas já em funcionamento e o outro com 8 salas em fase de finalização.
Segundo o ativista, a organização está a investir também na formação dos jovens nos diferentes centros de formação e universidades do país, bem como na vedação do campo desportivo, a construção de Centro de saúde, pavimentação, iluminação e cobertura do mercado.
“A escola funcionava desde 1941 apenas com uma única salatenho sido ampliada posteriormente com uma segunda sala nos meados dos anos oitenta, graças à uma mãozinha de voluntáriosdinamarqueses. O nome da Escola Amizade Guiné-Bissau (ADPP) de Bôr deve-se à caridade e à ajuda que população da localidade recebia dos voluntários da ADPP.
O jovem critica o Estado por ter-se preocupado apenas emcolocar os professores na escola, sem construir edifícios embenefício do povo.
Em relação à segurança dos citadinos, Victor Có lamentou que as autoridades estejam a recrutar pessoas que não têm a mínima ideia do que é ser polícia.
Por: Francisco Gomes